26 de outubro de 2025

Ciro Gomes e a armadilha da oposição, por Guálter George

Para analistas, o ato de filiação de Ciro foi barulhento e deixou um bom saldo (Foto: Jarbas Oliveira)

O oba-oba em torno do nome de Ciro Gomes pode estar criando uma armadilha para ele e para o bloco de oposição ao qual está integrado em sua nova fase política. O clima de unanimidade que envolve sua desejada candidatura faz crer que se trata da única opção disponível, meio que eclipsando outras alternativas existentes para liderar um palanque que reúna as forças políticas representadas naquele ato de quarta-feira que marcou o festejado retorno dele ao PSDB.

É uma situação ruim para figuras como Roberto Cláudio e Capitão Wagner, para citar dois exemplos que se destacam. O ex-prefeito de Fortaleza, em especial, gestor público já testado no plano do executivo, aprovado nas duas experiências que comandou, e que se movimenta com a perspectiva preferencial de ser candidato ao governo. De volta ao evento tucano da última quarta, alguém viu RC por lá? Pergunta retórica, claro, porque todos sabemos que ele estava presente, foi um dos oradores, inclusive um dos mais entusiasmados, etc etc.

Há pouca dúvida de que RC ou o próprio Wagner, este com a desvantagem de não ter experiência vivida à frente de uma gestão para oferecer à análise, parecem dotados de capacidade política para a liderança de um projeto que reúna o conjunto das oposições - estrutura de apoio que lhes faltou em 2022. A postura de sugerir, até dizer em alguns casos, que "é Ciro ou nada", ofusca além da conta a força dos que ocupam uma linha alternativa no debate sobre candidaturas no próximo ano. Por esse campo.

Até entendo que não seja algo deliberado, mas vai acumulando situações que, na soma, fragilizam quem não merece ser fragilizado em função da simpatia maior por outro nome. Há quem lembre, até hoje, do constrangimento que representou o fato de a festa de aniversário alegadamente organizada para RC em propriedade do deputado estadual Felipe Mota (União Brasil), em agosto último, ter-se transformado em palco para Ciro Gomes, que ali estava como convidado, brilhar. O homenageado foi notado de forma muito discreta, como balanço final dos efeitos políticos daquele acontecimento.

Aliás, o próprio Felipe Mota, que lidera o bloco de oposição na Assembleia, tem exposto uma linha de pensamento que sugere só haver um nome viável na oposição para uma disputa pelo governo. "Sem o Ciro", diz ele, "o governador Elmano de Freitas será facilmente reeleito". Se é fato que o neotucano (de segunda temporada) apresenta-se hoje como a opção mais competitiva, parece injusto com as demais dizer que sem ele à frente da aliança a vaca terá ido antecipadamente para o brejo.

O próprio Ciro, que tem oferecido sinais mais recentes de que pode mesmo assumir o desafio de uma candidatura no Ceará, diz que Roberto Cláudio seria seu nome preferencial. Voltou a falar sobre isso na quarta, em meio a citações bem humoradas sobre a vantagem que representa o fato de o ex-prefeito fortalezense ser muito mais novo, numa fala que talvez devesse ser ouvida com mais atenção pelo conjunto da aliança. Extraídas as gracinhas.

A dependência que se está criando de apenas um nome pode, mais adiante, acabar sendo danosa ao esforço de juntar todas as oposições locais numa só frente. Esta união, por si, já teria consistência política e eleitoral bastante para gerar uma candidatura forte e capaz de fazer balançar o grupo que hoje detém o poder. O ato da semana passada foi barulhento, deixou um bom saldo, mas terá valido pouco, na perspectiva de quem está de olho, de verdade, no governo do Ceará, se apenas Ciro Gomes houver saído dele mais forte.

Foi apenas um sinal

O prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), andou animando muita gente na oposição com sua resposta evasiva a uma pergunta sobre a ideia de ser candidato a vice-governador numa chapa liderada por Ciro Gomes. "Quero terminar meu mandato atual", afirmou, "mas não digo que dessa água não beberei".

Liderança do Interior, de uma região forte e influente, largamente aprovado numa população que tem dificuldade de lidar com quem elege, ele é visto como político de perfil ideal para o posto na chapa. Uma coisa é certa: a resposta gerou esperança, mas Glêdson não sai de onde está para uma aventura.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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