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Aos 12 anos João também é desenha e ministra palestras (Foto: Fernanda Barros) |
Aos 12 anos, João é escritor, cartunista, desenhista e palestrante. Diagnosticado com autismo nível 1 — condição caracterizada por dificuldades moderadas de interação social e comunicação, mas com funcionamento intelectual preservado — ele transformou desafios em força criativa.
Seu primeiro livro, “O dia em que Fernando teve azar”, abre a série “Turma do Fernando", e reflete um desejo profundo: mostrar que o diagnóstico não define um destino, e que é possível conquistar sonhos mesmo quando seguimos por caminhos diferentes.
Um
menino e seus sonhos
Assim que avistou a equipe do O POVO chegando à sua casa, João largou o lápis e nos recebeu com um abraço e um sorriso. Logo revelou seu jeito curioso, comunicativo e intenso.
Seu quarto é um universo particular: paredes cobertas de desenhos, pilhas de livros e cadernos. Entre suas inspirações figuram autores brasileiros como Ziraldo e Mauricio de Sousa. Seu hiperfoco são os livros; os favoritos, de aventura.
“Eu adoro ler, comecei aos três anos. Eu leio muito. Quando vejo uma história boa, eu quero terminar rápido”, contou.
A ideia do livro surgiu em 2023, durante as férias. “Eu pensei: e se eu escrevesse algo inspirado em mim?”, relatou.
Ele lembra que também foi influenciado por “Diário de Banana” (uma série de livros humorísticos famosa entre crianças e adolescentes).
“Gosto do jeito que a história é contada, e pensei em fazer algo parecido, com tirinhas e ilustrações”.
Para João, escrever e desenhar têm importância igual: “As duas coisas são 50% para mim. Eu gosto tanto de escrever quanto de desenhar”.
O
universo criativo de João
O protagonista do livro, Fernando, é um garoto de 11 anos, autista nível 1, assim como o jovem autor cearense, que sonha em ser popular na escola.
João descreve o personagem como “azarado, confuseiro, alguém que cria confusão sem querer”.
Sua cena favorita? “É quando ele tropeça numa escada antes de entrar no palco, e o diretor joga um troféu, quebra um aquário e causa uma grande inundação”.
Ana Paula, mãe de João, lembra que o talento dele para desenho e escrita se manifestou muito cedo.
“Desde os dois anos ele já tinha interesse por letras e números. Aos três anos, aprendeu a ler sozinho. Foi numa sorveteria, quando começou a ler todos os letreiros ao redor. Ficamos muito surpresos”, relata a consultora.
Ela conta que João sempre carrega um livro ou papel nas mãos. “Ele transforma qualquer momento em criação”.
O processo de concepção envolve inspiração e disciplina. “Quando ele tem tempo livre, ele escreve. Às vezes está num evento e começa a escrever e desenhar no caderno. É algo natural para ele”, explica Ana Paula.
O livro foi produzido com apoio da Editora Ases da Literatura e contou com patrocínio do Instituto da Primeira Infância (Ipre— instituição voltada à promoção da leitura, cultura e inclusão social.
Além
do livro: música e novos projetos
Para João, seu livro é uma mensagem: “Quero mostrar que mesmo sendo azarados e enfrentando dificuldades, a gente pode superar tudo com amizade, coragem e vontade de encontrar o nosso lugar no mundo”.
Ana Paula reforça: “Ele quer inspirar outras crianças e famílias. Isso é muito importante para nós. Queremos que as pessoas vejam que é possível transformar algo simples, como um desenho ou uma história, em algo grandioso”.
Além da escrita, João é apaixonado pela música. Toca violino numa orquestra da igreja, atividade iniciada num projeto inclusivo. “Quando toco violino sinto algo difícil de explicar. É uma coisa boa”, disse, sorrindo.
João já pensa no futuro: “Quero escrever mais de dez livros da série ‘Turma do Fernando’. Já tenho títulos como ‘Fernando em busca da sorte’ e ‘Turma do Fernando em busca do tesouro na ilha perdida’. Quero continuar contando histórias que inspirem”.
Com autenticidade e talento, João Sasaque constrói mais do que livros. Ele constrói um convite para enxergar a infância, a diferença e a criatividade como territórios férteis de possibilidades.
Sua obra não é apenas literatura: é uma declaração viva de que sonhar é o primeiro passo para transformar o mundo.
Publicado
originalmente no portal O Povo +
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