![]() |
A reunião na Casa Branca, a reunião representou o passo inaugural de um processo de negociação (Foto: Reprodução/Itamaraty) |
Segundo diplomatas brasileiros da missão, o clima foi "amistoso e construtivo". A reunião começou com uma conversa reservada de 15 minutos entre Vieira e Rubio e prosseguiu com um encontro ampliado, que contou, do lado brasileiro, com os embaixadores Maurício Lyrio, Philip Gough e Joel Sampaio, e, do lado americano, com o representante comercial Jamieson Greer. O pano de fundo era o tarifaço — medida que afetou setores industriais e agrícolas e agravou o deficit comercial do Brasil com os Estados Unidos, um dos seus principais parceiros econômicos.
Vieira reiterou a posição expressa pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em sua conversa telefônica com Trump, na semana anterior: a revogação das tarifas e das sanções contra autoridades brasileiras, como a cassação de vistos e a inclusão de nomes na chamada Lei Magnitsky. "É o início de um processo de negociação que exigirá paciência e pragmatismo", disse o chanceler. O Itamaraty trabalha para que a reversão das medidas ocorra gradualmente, dentro de um acordo mais amplo sobre investimentos e cooperação tecnológica.
O encontro teve também valor simbólico. Diferentemente da conversa secreta de julho, quando Rubio e Vieira se reuniram discretamente em um escritório próximo à Casa Branca, desta vez ambos se deixaram fotografar diante do retrato do diplomata John Hay, referência histórica da diplomacia norte-americana. O gesto sinaliza uma tentativa de distensão e um novo tom nas relações.
Segundo o ministro da Secretaria de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, responsável pela operação de marketing realizada pelo governo para mobilizar a opinião pública brasileira contra o tarifaço, "o Brasil negocia com foco no comércio, firmeza na soberania e leveza no tom". O entendimento foi traduzido por Lula com duplo sentido: "Não pintou química, pintou uma petroquímica com Trump". Há grande interesse das petroleiras norte-americanas no petróleo brasileiro.
A frase tem como pano de fundo a exploração de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá, que Lula, a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), defendem. Entretanto, a região possui uma vasta biodiversidade que poderia ser afetada em caso de um possível derramamento de óleo, o que preocupa ambientalistas.
Foco
comercial
Lula deixou de lado os conflitos geopolíticos com Trump. A proposta de moeda comum dos países do Brics, que irrita Washington, por exemplo, sumiu dos pronunciamentos. O objetivo é concentrar esforços na pauta comercial. Durante encontro com o presidente argentino Javier Milei, o presidente norte-americano já sinalizou que pretende que o Brasil desista dessa iniciativa, uma preliminar para destravar as negociações tarifárias.
Enquanto o diálogo diplomático avança, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, anunciou a criação do Conselho Nacional de Política Mineral (CNPM), que terá papel estratégico nas tratativas com os Estados Unidos. A medida foi interpretada como um gesto de alinhamento à nova agenda bilateral, voltada aos minerais críticos — como nióbio, cobre, urânio e terras raras —, considerados vitais para a indústria de tecnologia e defesa norte-americana.
"O Brasil tem uma janela de oportunidade histórica para gerar sinergia com os EUA nesse campo", afirmou Silveira, durante a instalação do CNPM, que contou com a presença de Lula e do ministro Rui Costa (Casa Civil). A coincidência entre a reunião do conselho e o encontro na Casa Branca não passou despercebida. O interesse de Trump em garantir acesso a minerais estratégicos latino-americanos é antigo e foi um dos pilares de sua campanha de reindustrialização e autonomia tecnológica dos EUA.
Nesse contexto, a nova rodada de negociações pode resultar num acordo que combine concessões comerciais com parcerias em setores de alto valor agregado — desde a transição energética até a produção de semicondutores. No entanto, o caminho é íngreme e pedregoso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já reconhece que "a mistura entre política e economia foi o erro mais grave" nas relações recentes com os EUA.
Haddad
defendeu que as tratativas se concentrem em temas técnicos. Ainda assim, há
obstáculos sensíveis. Além da questão das tarifas, os norte-americanos devem
insistir em discutir a política externa brasileira para a América Latina,
especialmente em relação a Venezuela e a Cuba. Do lado brasileiro, a
preocupação é evitar pressões sobre a agenda ambiental e o licenciamento de
grandes projetos, às vésperas da COP30, no Pará.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
Leia também:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.