19 de outubro de 2025

Lula avisa que ninguém "fala grosso" com Brasil

Fala do presidente ocorreu durante discurso a estudantes em São Bernardo do Campo (Foto: Ricardo Stuckert)

No aulão preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em São Bernardo do Campo (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, ontem, que nunca mais um presidente de outro país deve "falar grosso" com o Brasil. A referência era na direção do líder norte-americano Donald Trump, com quem conversou por telefone no último dia 6. Eles se encontraram nos bastidores da Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 23 de setembro, e apesar do breve contato, combinaram em dialogar.

Para uma plateia composta de estudantes e militantes do PT, Lula aproveitou para surfar na onda que lhe restabeleceu popularidade com a defesa da soberania brasileira por conta do tarifaço de 50% imposto às exportações para os Estados Unidos, conforme determinado por Trump. As mais recentes pesquisas de opinião colocam Lula como favorito, em todos os cenários, para a corrida presidencial de 2026.

Depois da conversa entre os presidentes, o chanceler Mauro Vieira reuniu-se com o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, na quinta-feira, para começar a destravar as pautas diplomática e comercial. "A gente quer formar uma doutrina latino-americana, com professor latino-americano, com estudante latino-americano, para que a gente possa sonhar que esse continente um dia vai ser independente, que nunca mais um presidente de outro país fale grosso com o Brasil, porque a gente não vai aceitar. Não é uma questão de coragem. É uma questão de dignidade e de caráter", afirmou.

Na sexta-feira, Lula encontrou-se com Mauro Vieira, no Palácio da Alvorada, que detalhou ao presidente a conversa que tivera com Rubio. Segundo o chanceler brasileiro, a reunião foi uma troca de ideias e visões de maneira "clara e objetiva". O ministro das Relações Exteriores destacou que Brasil e EUA têm desejo de avançar em negociações comerciais.

Mercado financeiro

Lula aproveitou o "modo campanha" para criticar o mercado financeiro. Ao defender a universalização do programa Pé-de-Meia — destinado a evitar a evasão escolar de jovens do ensino médio —, rebateu críticas sobre o impacto fiscal da medida que prevê incentivo financeiro a estudantes de baixa frenda do ensino médio. E afirmou que os banqueiros querem os recursos para si mesmos.

"É difícil, a Faria Lima vai brigar com a gente, os banqueiros vão reclamar: 'Nossa, esse governo está gastando bilhões de reais com Pé-de-Meia. Poderia estar aqui na Faria Lima para a gente ganhar mais dinheiro'. Nós não estamos gastando. Gastando a gente estaria se o dinheiro fosse para eles. Estamos investindo na sobrevivência da nossa juventude", afirmou.

O presidente aproveitou o evento para anunciar a abertura de nova chamada pública da Rede Nacional de Cursinhos Populares (CPOP), de preparação para o Enem e outros vestibulares. O investimento previsto é de R$ 108 milhões, com a meta de apoiar até 500 cursinhos em 2026 — movimento que integra a estratégia do governo de consolidar políticas educacionais voltadas ao acesso ao ensino superior.

"O Brasil do futuro será melhor do que o Brasil do presente. Ninguém na idade de vocês tem o direito de desistir", cobrou. Ele voltou a defender que o país precisa "exportar conhecimento, inteligência", e não apenas commodities, como soja, milho e minério de ferro.

A CPOP tem como objetivos fortalecer cursinhos pré-vestibulares, populares e comunitários; elaborar orientações focadas no Enem; e preparar estudantes — com ênfase em pessoas negras e indígenas — para ampliar o acesso ao ensino superior. O novo edital está previsto para ser divulgado em dezembro.

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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