12 de maio de 2019

Da inocente arminha ao perigoso decreto por Guálter George

Jovens do Treinamento de Liderança Cristã foram confundidos com apoiadores de Bolsonaro (Foto: Divulgação) 
É o esforço de atender compromissos assumidos em campanha, sim, que levou o presidente Jair Bolsonaro na semana passada à assinatura de um decreto que estabelece uma espécie de liberou geral em termos da compra e do porte de armas no Brasil. Portanto, quem votou nele e agora se queixa da situação está jogando para plateia ou se insere naquele grupo que apoiou o então candidato acreditando que ele não seria capaz de fazer aquilo que prometia em palanque, especialmente nos pontos mais agressivos da parte bélica de seu discurso. 

Gente "ingênua", com todas as aspas que esta qualificação exige no caso. A única coisa que ninguém pode dizer é que não sabia que poderia acontecer o que está se materializando a cada ocasião em que Bolsonaro aciona a simpática caneta Bic que carrega consigo para apor sua assinatura em algum papel timbrado.

No mundo político local, quem mais chama atenção nesse aspecto, do silêncio, é o senador Luis Eduardo Girão, do Podemos. Um pacifista convicto, um inimigo das armas, um defensor da vida em qualquer perspectiva, ao ponto de ter ganho notoriedade pública, antes mesmo de obter o mandato eletivo que hoje exerce, como líder de organizado e articulado movimento que se vinculava a grandes ações contra o aborto e pelo desarmamento, falando-se apenas das duas faixas nas quais assumiu maior protagonismo. 

Um propagador notório e entusiasmado da paz e da não violência que opta por se manter distante do debate, abrindo mão de um papel que a posição que hoje ocupa lhe garante. Em alguns aspectos, até exige.

Senador da República, com uma tribuna à disposição para fazer sua defesa enfática da distância das armas como a melhor estratégia de combate à violência que grassa entre nós, Girão nada disse até agora. De público, pelo menos. 

Enquanto a oposição se manifesta contra e vai à justiça, nomes importantes da bancada evangélica (base importante de apoio ao governo Bolsonaro) já disseram que não apoiam e se movimentam para desfazer a ação, especialistas apontam todas as inconveniências do caminho que se tenta adotar, o cearense Luis Eduardo Girão, com todo o envolvimento que tem com o tema, histórico, permanece silente.

Na última sexta-feira, dia em que Brasília esvazia e a tribuna do Senado costuma ficar à disposição dos poucos parlamentares que permanecem na cidade e na Casa, o representante cearense do Podemos foi ao espaço e o ocupou por longo tempo. 

A discussão sobre o tal decreto já no mundo com grande destaque, com as assessorias jurídicas das duas Casas do Congresso apontando sérios problemas técnicos, ministra da STF dando cinco dias para o governo explicar a história, tudo isso acontecendo e Girão lá, firme e indignado nos seus ataques ao...Supremo Tribunal Federal. 

Até cabem as críticas dele, centradas na escandalosa licitação para compra de lagostas, vinhos e uísques para as recepções que acontecerem na mais alta Corte do País, mas, naquele dia? Naquele momento?

O debate do decreto das armas, que está na ordem do dia da política, pede que todas as vozes aptas a contribuir se envolvam nele com toda a disposição e a força de que dispuserem. 

O ativista Luis Eduardo Girão teria razões para estar decepcionado com o senador Luis Eduardo Girão, fossem eles duas pessoas diferentes, caso o visse calado diante do que está acontecendo. Especialmente por saber que ele teria muito a contribuir, até pelo estilo pessoal, na construção de uma discussão mais serena, coisa muito difícil no Brasil de hoje e quase impossível diante da temática específica. 

A coluna até buscou a assessoria de Girão para saber de sua opinião e de sua movimentação (caso exista) no sentido de marcar posicionamento no debate. Até o momento em que este texto caminha para o ponto final, sem resposta.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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