28 de julho de 2025

Eleições 2026: direita oscila entre o radicalismo e a moderação

Os governadores Tarcisio, Zema e Caiado buscam apoio dos extremistas, mas perder perder a base moderada (Foto: Reprodução/Facebook)

Apesar de ainda faltar mais de um ano para a eleição presidencial, a corrida ao Palácio do Planalto já começou, pelo menos no campo da direita. Com Jair Bolsonaro inelegível até 2030 e réu, no Supremo Tribunal federal (STF), por comandar um grupo que tentou dar um golpe de Estado no Brasil, em 2022 — conforme apontou a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) —, as peças se movem no sentido de herdar os votos do bolsonarismo, sem, no entanto, passarem a imagem de extremismo ao eleitorado. Mas o contrário disso também é verdadeiro. Ou seja, há quem busque a bênção do ex-presidente e queira os votos dos moderados de direita/centro.

Pesquisa divulgada em 24 de julho, elaborada pela Pulso Brasil/Ipespe, mostra que Bolsonaro segue como principal referência da direita e tem o apoio de 46% dos entrevistados. Em seguida, aparece o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com 14%, acompanhado de outros governadores como Ronaldo Caiado (Goiás), Ratinho Júnior (Paraná) e Romeu Zema (Minas Gerais), citados por 3% do público. A pesquisa ouviu 2.500 pessoas, entre 19 e 23 de julho.

Segundo o levantamento, nem mesmo entre eleitores que aprovam o governo Lula, Bolsonaro perde o posto de principal nome da direita. Foi lembrado por 28% dos apoiadores do presidente. Entre os que desaprovam a gestão petista, a liderança é ainda mais expressiva — 64%. A importância do ex-presidente também é perceptível entre diferentes correntes ideológicas: 67% dos entrevistados que se identificam como de direita, 32% como de centro e 40% como de esquerda o reconhecem como a principal figura do antipetismo.

E é justamente esse manancial de votos que as pré-candidaturas de direita querem. O ex-presidente evita apontar um sucessor, mesmo porque ele tem o projeto de levar adiante uma candidatura presidencial, apesar de estar impedido de concorrer. Tal manobra não é inédita: Lula fez isso em 2018. Mesmo preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba, condenado na Operação Lava-Jato, manteve a postulação ao Palácio do Planalto. Somente quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) indeferiu a candidatura, é que passou a cabeça de chapa ao seu então vice, o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad — que fez do nome do PCdoB na corrida eleitoral, Manoela D'Ávila, companheira de chapa à época.

Resta saber quem entra com Bolsonaro na vaga de vice para, na hora H, assumir a candidatura. No círculo próximo, ganha força a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, que vem percorrendo o Brasil com a bandeira do bolsonarismo e já apresenta cacoete de pré-candidata. Inclusive, no dia em que o ex-presidente colocou a tornozeleira eletrônica por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) a apresentou como possível sucessora do marido.

A favor de Michelle está o fato não apenas do carisma, mas, sobretudo, porque não se desgastou com o tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump às exportações brasileiras para os Estados Unidos. A ex-primeira-dama não se pronunciou a respeito, tampouco foi às redes sociais exibir o boné do MAGA (Make America Great Again). Essas duas questões têm tudo para tirar pontos do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do governador Tarcísio de Freitas como possíveis substitutos de Bolsonaro nas urnas.

No caso do filho 03 do ex-presidente, a esquerda nas redes tem conseguido pregar nele a pecha de traidor da Pátria ao apoiar o tarifaço — apesar do recuo e, depois, afirmar que por sua influência Trump sancionou o Brasil. Isso, em tese, o vulnerabiliza numa corrida presidencial, como vice ou como cabeça de chapa e substituição ao pai. Sem contar o fato de que Eduardo, sempre que pode, lança dardos em nomes de proa do bolsonarismo — como o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) — para garantir o monopólio do discurso ao clã familiar.

Tarcísio, por sua vez, inicialmente estava em posição confortável para sair candidato à Presidência com a bênção do padrinho político. Participou de todos os comícios em São Paulo em torno de Bolsonaro, não poupou jamais referências elogiosas ao ex-presidente e evitou entrar em rota de colisão com Eduardo — sempre baixou o tom das respostas às críticas que recebeu do filho 03. Mas cometeu o erro de exibir-se nas redes usando o boné do MAGA em apoio a Trump. Com o tarifaço, teve de se reposicionar por conta da pressão dos empresários paulistas, que serão muito prejudicados pela taxação de 50%.

Por conta dessa manobra, o governador perdeu alguma consistência. Desagradou o clã, foi criticado pelos bolsonaristas raiz e não pôde ser enfático na defesa do ex-presidente, em relação ao qual fez anódinas declarações de apoio por conta da colocação da tornozeleira. Vem buscando uma linha de moderação e recorreu até mesmo à "para-diplomacia", nos contatos com o empresariado, para dividir com o governo federal o protagonismo nas tratativas contra o tarifaço. Uma forma de tentar livrar-se da pecha de "vendilhão da Pátria", que a esquerda também lhe pregou nas redes.

Porém, lideranças do Centrão, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), veem Tarcísio como um nome de grande potencial. Na sexta-feira, o parlamentar afirmou em postagem no X (antigo Twitter) que "vai chegar o dia em que teremos um presidente com a estatura de Jair Bolsonaro ou Tarcísio". O governador, para não correr o risco de afundar antes da hora, reforça sempre que seu objetivo é a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes.

Indulto

Na terça-feira passada, depois de reunião com empresários para tratar do impacto do tarifaço, Caiado saiu em defesa de Bolsonaro. Classificou a colocação da tornozeleira como uma "perseguição", "absurda", "desproporcional" e uma "humilhação", afirmando que tais medidas não deveriam ser aplicadas a quem não foi condenado. "Não condizem com o regime democrático. Respeito as decisões judiciais, mas há limites. Julgar é papel da Justiça, vingar não. O Supremo julga, não vinga. Não se pode impor esse tipo de humilhação a quem sequer foi condenado", cobrou.

Pré-candidato do União Brasil, Caiado, permanentemente, faz afagos ao bolsonarismo. Além da participação nos comícios na Avenida Paulista, já disse que caso chegue ao Palácio do Planalto indultará o ex-presidente — algo que é bem recebido pelos empresários do agronegócio, cujos votos o governador de Goiás espera reunir.

Quem também ensaia a postulação ao Planalto é o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), cuja pré-candidatura deve ser confirmada em 16 de agosto, em evento em São Paulo. Também de olho nos votos do bolsonarismo, assim como Caiado garantiu que indultará o ex-presidente. Não contava, porém, com o ataque de Eduardo Bolsonaro, na quinta-feira, que classificou-o com representante da "turminha da elite financeira". Porém, tal como Tarcísio, tentou ser ponderado na resposta ao filho 03 para não queimar pontes com o pai — disse que o deputado licenciado "criou um embaraço" no episódio do tarifaço — e acenar à Federação das Indústrias do estado (FIEMG) na defesa dos interesses do empresariado.

Já o governador do Paraná, Ratinho Júnior, tem mantido certa equidistância do bolsonarismo, embora não negue que seja apoiador do ex-presidente. Dos três, foi o primeiro a defender a formação de uma frente ampla da direita para enfrentar Lula, no primeiro turno. Isso foi replicado por Caiado, sábado, em evento da XP Investimentos, em São Paulo, evento do qual Ratinho também participou. Por ora, o governador tem investido em um perfil mais discreto e proclamado que, perto de o tarifaço entrar em vigor na próxima sexta-feira, o momento é de concretizar medidas para evitar impactos pesados sobre o empresariado paranaense e na arrecadação do estado.

Diante desse cenário de indefinições, mas com vários postulantes, a cientista política Letícia Mendes, especialista em Poder Legislativo da BMJ Consultores Associados, adverte que os nomes associados ao bolsonarismo têm pouca capilaridade nacional, apesar da forte base em seus estados. Ela afirma que o PL deverá usar a imagem de Bolsonaro como ativo eleitoral, mas terá que equilibrar o discurso caso queira agregar os votos do eleitorado moderado, mas antipetista.

"A direita precisa modular seus discursos com cautela para não afastar o eleitorado de centro", observa.

Publicado originalmente no Correio Braziliense

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