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O presidente Lula e os ministros usaram bonés azuis com a frase "O Brasil é dos brasileiros", numa resposta à ofensiva norte-americana (Foto: Ricardo Stuckert) |
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comandou ontem (26/08) uma reunião ministerial para ajustar os rumos do governo a pouco mais de um ano das eleições. Até o slogan da gestão mudou: sai "Brasil, União e Reconstrução" e entra "Governo do Brasil do lado do Povo Brasileiro". O Planalto quer aproveitar o impulso que o chefe do Executivo teve na popularidade, enfrentando o tarifaço dos Estados Unidos e reforçando o discurso de soberania.
Pesquisas de opinião recentes mostram um aumento na aprovação de Lula, o que não ocorria desde o fim do ano passado. O presidente vê brecha para chegar com maior folga à disputa das eleições no ano que vem. Segundo fontes palacianas ouvidas pelo Correio, a mudança do slogan se deu por entendimento de que a ideia de um Brasil em união e reconstrução já foi consolidada, e a imagem de um governo próximo ao povo enfatizará as ideias de soberania e justiça social.
Lula conduziu o encontro com seus 38 titulares durante pouco mais de três horas e discursou duas vezes — na abertura e no encerramento. Todos os ministros receberam um boné azul com a frase "O Brasil é dos Brasileiros", adotado no início do ano em resposta ao alinhamento da oposição com o governo de Donald Trump. Apenas a abertura do encontro foi transmitida.
Lula dedicou boa parte de sua fala para criticar as ações de Trump e da família Bolsonaro. "A última novidade é a posição do governo dos Estados Unidos, que tem agido como se fosse imperador do planeta Terra. É uma coisa descabida", declarou o presidente. "Ele (Trump) continua fazendo ameaças ao mundo inteiro. Ontem (anteontem), publicou uma nota ameaçando outra vez, que quem mexer nas big techs deles vai sofrer as consequências. Ele ameaça qualquer país", acrescentou.
Também em referência às plataformas, o petista afirmou que quem quiser entrar no território brasileiro tem de prestar contas à Constituição. Mencionando o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Mauro Vieira (Relações Exteriores), principais negociadores para tentar aliviar a sobretaxa, ressaltou que o Brasil está disposto a negociar "qualquer tópico", mas que não aceita ser tratado como subalterno.
Em seguida, Lula disparou críticas ao clã Bolsonaro. Disse que a atuação do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para incentivar sanções contra o Brasil, é "uma das maiores traições" que um país pode sofrer.
"Não existe nada que possa ser mais grave do que uma família inteira ter um filho custeado pela família, um cidadão que já deveria ter sido expulso da Câmara dos Deputados, insuflando com mentiras e hipocrisias um outro Estado contra o Estado Nacional do Brasil", frisou Lula.
Ele acusou Eduardo de ter abandonado o país e de adotar os EUA como sua pátria. No início do ano, o deputado se mudou para os Estados Unidos e, desde então, articula com trumpistas as sanções comerciais, revogação de vistos e aplicações da Lei Magnitsky contra autoridades brasileiras.
O presidente ainda orientou que seus ministros defendam, em todos os discursos, a soberania do Brasil. "Não aceitamos desaforos e petulância de ninguém. Se a gente gostasse de imperador, a gente não teria acabado com o império. A gente ainda seria uma monarquia. A gente quer este país democrático, soberano, republicano", pregou.
Na mesma linha, ele repudiou a cassação do visto americano do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. A medida havia sido adiantada pelo influenciador bolsonarista Paulo Figueiredo na semana passada, mas não confirmada por órgãos oficiais brasileiros ou americanos.
"Eu queria dizer ao companheiro Lewandowski da minha solidariedade e da solidariedade do governo a você por conta do gesto irresponsável dos Estados Unidos de cassar o seu visto. Na verdade, eu acho que eles estão deixando de receber uma personalidade da sua competência, da sua capacidade", elogiou. "Essas atitudes são inaceitáveis, não só contra o Lewandowski, mas contra os ministros da Suprema Corte, contra qualquer personalidade brasileira", acrescentou. O titular da Justiça foi o primeiro ministro de Estado a ser sancionado — Alexandre Padilha, da Saúde, estava com o documento vencido, mas sua esposa e sua filha tiveram os vistos revogados.
Sobre o cenário internacional, Lula disse que a guerra entre Rússia e Ucrânia parece estar chegando ao fim, mas que há preocupação com a reconstrução do território ucraniano e com o aumento dos gastos com armamentos na União Europeia. Ele voltou a criticar as ações de Israel na Faixa de Gaza, no mesmo dia em que foi acusado de antissemitismo pelo chanceler israelense Israel Katz. "Nós temos a continuidade do genocídio na Faixa de Gaza, que não para. Todo dia tem uma novidade. Todo dia, mais gente morre; todo dia, crianças que estão com fome aparecem na mídia, totalmente esqueléticas, atrás de comida, e são assassinadas, como se estivessem em guerra, como se fossem do Hamas", afirmou.
Visibilidade
Além de Lula, discursaram Alckmin e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, responsável por coordenar o trabalho de toda a Esplanada e levar propostas e demandas ao chefe do Executivo. Em sua fala, Rui fez um balanço das entregas do governo e orientou os demais ministros: que viajem mais, apareçam na mídia e façam comparações com os governos passados, especialmente com a gestão Bolsonaro.
"É
importante que nós possamos destacar as entregas, dando capilaridade a essa
comunicação e a essas entregas, com a presença seja física, seja virtual, seja
através de entrevistas, dos ministros e dos técnicos nos estados. Aumentar a
presença nossa nos estados é importante. Didaticamente, as pessoas conseguem
entender mais quando você compara o antes e o depois, como estava e como está.
Isso é muito didático. É importante que a gente possa comparar, porque, em
todos os itens, sem exceção, nós vamos ter resultados muito mais
positivos", declarou o ministro.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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