6 de agosto de 2025

Lula reforça soberania em reunião do Conselhão

Lula insistiu que há disposição do governo brasileiro em negociar e dialogar (Foto: Antonio Cruz)

A abertura da 5ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (Conselhão), ontem (5/8), serviu para que o governo reforçasse o discurso em defesa da soberania do Brasil, a um dia de entrar em vigor o tarifaço baixado pelo presidente Donald Trump sobre parte das exportações brasileiras — contra o qual os ministérios da Fazenda e da Indústria, Comércio e Serviços continuam em negociação para reduzir o impacto nos setores não incluídos na lista de isenção de quase 700 itens, que os Estados Unidos divulgaram na semana passada. No evento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reafirmou que "proteger nossa soberania é interesse que está acima de todos os partidos. O governo não transigirá e não vacilará". Já o vice-presidente Geraldo Alckmin classificou como "injustificável" a taxação do governo dos EUA.

Diante de uma plateia de representantes da sociedade civil, incluindo empresários dos setores mais afetados pela tarifa — como produtores de frutas e indústria —, Lula não mediu palavras, como disse que faria, domingo passado, em evento do PT. "Não podemos aceitar que o povo brasileiro seja punido. Diante do tarifaço, o compromisso do governo é com o povo brasileiro. Vamos recorrer a todas as medidas cabíveis, a começar pela OMC (Organização Mundial do Comércio), para defender os nossos interesses. Não é possível o mundo dar certo se perdermos o senso de responsabilidade e o respeito à soberania, à integridade territorial e ao funcionamento das instituições. Quando começamos a dar palpite nos assuntos de outros países, ferimos algo sagrado: a soberania", frisou.

Lula insistiu que há disposição do governo brasileiro em negociar e dialogar. "O presidente norte-americano não tinha direito de anunciar taxações como anunciou ao Brasil. Tem gente que acha que somos vira-latas, tem gente que não gosta de se respeitar. E ninguém pode dizer que tem um governo que gosta mais de negociar do que nós. Nasci na vida política negociando. Nesse mundo, ninguém me dá lição de negociação", afirmou, salientando que o governo adotará medidas para proteger os produtores nacionais.

Segundo o presidente, o dia 30 de julho de 2025 — data em que os EUA oficializaram o tarifaço contra o Brasil e a aplicação de sanções ao ministro Alexandre de Moraes — "entrará para a história como marco lastimável na relação Brasil-EUA". Sem citar o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o pai ex-presidente, Lula afirmou que "vários setores da economia são afetados pela covardia dos que se associaram a interesses alheios à nossa nação", acrescentando que a "interferência nos Poderes brasileiros contou com auxílio de verdadeiros traidores da Pátria".

O presidente vem sendo cobrado por setores da economia a tentar se entender com Trump por meio de um telefonema — o próprio presidente dos EUA afirmou, dias atrás, que estaria aberto a uma conversa. Lula, porém, afirmou que ligará, sim, para o líder norte-americano, mas para convidá-lo a vir à COP30, em Belém, em novembro.

"Não vou ligar para Trump para comercializar, porque ele não quer falar. Mas vou ligar para convidá-lo para a COP, porque quero saber o que ele pensa da questão climática. Só não vou ligar para o (Vladimir) Putin porque não está podendo viajar", acrescentou, fazendo referência às restrições internacionais ao presidente russo.

Democracia forte

Os ministros engrossaram o coro da soberania. Alckmin, que acumula o Ministério da Indústria, Comércio e Serviços e tem conduzido parte das negociações sobre a suspensão do tarifaço —, lembrou que o Brasil saiu de uma tentativa de golpe para fortalecer a democracia. Conforme disse, o Estado de Direito é civilizatório e um princípio que deve nortear a existência humana. "Só ela garante desenvolvimento com inclusão", disse.

Já o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, garantiu que o governo vai fornecer auxílio aos exportadores mais afetados. Como outro dos negociadores do governo contra o tarifaço, pediu serenidade.

"Em meio a essa situação geopolítica que estamos vivendo, temos que olhar para tudo isso com otimismo. Até porque, sem otimismo, eu não aconselho ninguém a assumir o Ministério da Fazenda do Brasil", brincou. "O presidente dispõe dos instrumentos necessários, que vão ser utilizados para socorrer essas famílias prejudicadas com uma agressão que já foi chamada de injusta, indevida e incondizente com os 200 anos de relação fraterna que temos com o povo dos EUA", afirmou.

Publicado originalmente no Correio Braziliense

Leia também:

Lula chora ao lembrar da miséria na infância: "Fome vai corroendo você por dentro"

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.