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Entre as principais causas de adoecimento estão transtornos mentais comuns, dor musculoesquelética e Síndrome de Burnout (Foto: Reprodução/Shutterstock) |
Avaliar, dar aula e incentivar, são algumas das atribuições de um professor. Responsável por ensinar e cuidar dos alunos, o docente também demanda cuidados. A temática ainda é pouco discutida e pesquisada em âmbito nacional. Sendo o ensaio mais recente sobre o tema tendo sido publicado há dois anos atrás, em 2023, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
De acordo com uma pesquisa realizada pela Faculdade de Medicina da UFMG, entre as principais causas de adoecimento de professores, foram encontrados transtornos mentais comuns (TMC) - (53,3%), dor musculoesquelética (DME) - (26,7%) e Síndrome de Burnout (6,6%). Outras doenças não identificadas somam 13,4%.
Ainda conforme a investigação, os fatores psicossociais do trabalho referem-se às interações entre o ambiente, as condições, a organização, gestão e conteúdo e as características individuais dos trabalhadores.
Cerca de 606 (27,3%) afirmaram que o trabalho impacta de forma negativa na saúde física, e 598 (27,0%) que a saúde mental é impactada negativamente.
Os entrevistados alegaram estarem insatisfeitos com o salário e acreditam que a profissão não é valorizada pela sociedade. Veja abaixo os três grupos que foram detectados durante a pesquisa:
Professores
com Idade até 39 anos, tempo de trabalho na escola menor ou igual a 5 anos,
tempo total de carreira menor ou igual 10 anos e insatisfeitos com as
recompensas recebidas no trabalho (independente do salário);
Professores
com Idade entre 40-59 anos, carga horária de trabalho em tempo integral, tempo
de trabalho na escola maior ou igual 11 anos, tempo total de carreira maior ou
igual 21 anos e insatisfeitos com as recompensas recebidas no trabalho
(independente do salário);
Professores
que discordam: participar ativamente das decisões da escola, compartilhar
responsabilidades nas questões escolares, compartilhar ideias sobre o ensino,
não recebem incentivo da escola a conduzir novas iniciativas, e insatisfeitos
com as recompensas recebidas no trabalho (independente do salário).
Fatores
que contribuem para o adoecimento físico e mental
Diversos fatores contribuem para o adoecimento mental dos docentes brasileiros. Podem ser citados como exemplos: ataques sistemáticos de determinados segmentos da sociedade que passam a tratar o professor como um inimigo a ser combatido, precarização das condições de trabalho, contratos temporários — vínculo mais frágil com instituições, entre outros.
“Esse adoecimento se insere [também] no contexto de determinada violência que está dentro e chega à escola”, afirma o doutor em Educação e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), Francisco Pablo Huascar Aragão Pinheiro.
Outro fator é que, em muitos casos, as escolas são o único braço do Estado que chega dentro da instituição.
“Esse professor também vai assumir o papel às vezes de assistente social, psicólogo. Muitas vezes [eles] estão dando conta de muitos problemas dos alunos, que não necessariamente são questões educacionais”, complementa.
Pablo alega que o docente precisa atender a demandas que não dizem respeito à educação. “Você junta tudo isso e coloca esse professor numa escola que não tem climatização adequada (...) Tem que trabalhar de manhã, tarde e noite para sustentar a família”.
Sintomas
e como tratar
De acordo com a psicóloga e gestora do Instituto de Especialidades Integradas, Eveline Câmara, os casos de adoecimento mais comuns são: ansiedade, depressão e síndrome de burnout. Os sintomas podem variar dependendo do quadro. Confira a lista abaixo:
Mudanças
abruptas de comportamento
Aumento
da agressividade
Dificuldade
de concentração
Resistência
para ir ao ambiente de trabalho
Mal-estar
físico
Alterações
no sono e alimentação
Isolamento
nas relações
“Às vezes acontece dos professores já terem questões pregressas em relação às questões mentais. Isso se agrava devido a fatores estressores de sala de aula”, explica Eveline.
Diante disto, outras condições podem surgir, como fobia social e síndrome do pânico. “Tudo isso pode acontecer principalmente quando não é tratado em tempo hábil".
Para combater a situação, Eveline explica que, para além do espaço de conversas e pesquisas oferecido aos pais e alunos, o mesmo também deve ser oferecido aos educadores: “Seria ótimo que ele [docente] tivesse isso no próprio ambiente de trabalho".
“O que eu vejo é que muitas vezes a sala dos professores vira um espaço de escuta e de acolhimento uns dos outros, mas é mais um desabafo do que algo terapêutico em si. Então o ideal seria buscar uma ajuda especializada", adiciona.
Para que a situação seja combatida, a psicóloga afirma que espaços de escuta e rodas de conversa podem ser criados.
“[Pode] haver um encaminhamento para que os profissionais da educação fossem acolhidos e escutados, e seria uma forma de amenizar esse problema”, declara a psicóloga.
Sugestões de filmes sobre o tema
Abraço
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Filmes e Youtube
Dualidades
Docentes (2022) - disponível para assistir no YouTube
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Mestre, Minha Vida (1989) - disponível para aluguel em: Amazon Prime Video e
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Leituras recomendadas
Trabalho
e saúde dos professores: Precarização, adoecimento e caminhos para a mudança,
por Fundacentro
Saúde
do professor: Uma Análise Sobre o Adoecimento no Trabalho a Partir do Olhar
Docente, de Dlane Lima Frota
A
produção de subjetividade docente e o adoecimento de professores, de Samantha
Carvalho Felicio
Publicado
originalmente no portal O Povo +
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