24 de setembro de 2025

Lula tem pela frente o maior desafio diplomático que já enfrentou, por Érico Firmo

Lula e Janja na Assembleia da ONU (Foto: Brendan Smialowski)

Donald Trump é tão imprevisível que dele pode vir até algo positivo. O discurso na Assembleia Geral das Nações Unidas foi delirante, negacionista em relação ao clima, hostil a imigrantes e afrontoso ao multilateralismo. O presidente afirmou que encerrou sete guerras e que "todos dizem" que ele merece o prêmio Nobel da Paz. No fim, do nada, fez um afago e tanto ao presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Relatou que se encontraram rapidamente e combinaram de se reunir na próxima semana. Disse que achou o brasileiro muito agradável e que a química entre eles foi ótima.

"Ele me pareceu um homem muito simpático. Na verdade, ele gostou de mim. Eu gostei dele. E eu só faço negócios com pessoas de quem eu gosto. Quando não gosto, não gosto mesmo".

Por outro lado, avisou: "Lamento muito dizer que o Brasil está indo mal e continuará indo mal. Eles só conseguirão se sair bem quando trabalharem conosco; sem nós, eles fracassarão, assim como outros fracassaram".

Lula e a diplomacia

O encontro durou menos de 40 segundos. Lula terá sido tão encantador em tão pouco tempo? O presidente brasileiro, nos dois primeiros mandatos, teve uma atuação diplomática relevante e estabeleceu muitas pontes. Neste governo, razões ideológicas provocaram grandes atritos com parceiros históricos e fundamentais, casos de Estados Unidos e Argentina. Do outro lado, o Brasil também se desentendeu com a Venezuela de Nicolás Maduro.

O presidente dos Estados Unidos foi um negociador a vida toda e age na política como nos negócios. Ele joga com atritos e afagos. Faz isso recorrentemente com Vladimir Putin, da Rússia, cuja situação é bem mais complexa que a brasileira. Faz isso também com Volodymyr Zelensky, da Ucrânia.

Desafio para a habilidade de Lula

A situação colocada significa possibilidade e risco. O presidente brasileiro terá pela frente o maior teste para a capacidade diplomática. É uma oportunidade, mas a imprevisibilidade do americano é perigosa. Zelensky já foi exposto a humilhação pública, por exemplo. Lula é mais experiente e é esperto. O atual ocupante da Casa Branca também armou uma emboscada para o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa.

Os diplomatas brasileiros já estão atentos ao formato como se dará a conversa. É provável que não seja presencial. Imaginando-se a hipótese, talvez improvável, de uma reunião convencional, o que Lula levará à mesa. Não são tratativas em condição de equilíbrio, ao contrário. É fato que o Brasil precisa muito mais deles que o contrário, ainda que a balança comercial seja favorável aos Estados Unidos. E só haverá acordo se eles ganharem alguma coisa. O Brasil terá de ceder.

Já foi deixado claro que não serão aceitas tratativas de natureza política. E nem o Poder Executivo pode interferir em questão judicial. Isso, todavia, amplia a pressão econômica. O que o Brasil levará à mesa? Vantagens comerciais? Exploração de terras raras? A saída ou o enfraquecimento dos Brics? É muito provável que esse tópico seja abordado. O que o presidente brasileiro dirá?

Se for apenas uma conversa normal, todas as complicações econômicas e políticas já tornam as tratativas complexas.

Com Trump, todavia, nada é normal, nem mesmo um discurso na ONU. E mesmo o que parece positivo pode se mostrar negativo.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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