19 de setembro de 2025

Bandido bom é bandido anistiado e blindado? por Henrique Araújo

Bancada do PL após aprovação da urgência da anistia (Foto: Bruno Spada)

O dito popular "bandido bom é bandido morto" frequentou o discurso do espectro conservador desde os anos de 1990, atravessando os governos FHC, Lula e Dilma Rousseff e perdendo força gradativamente durante o mandato de Jair Bolsonaro (PL) - até chegar a seu reverso atual: o de que o criminoso merece anistia e proteção extra, isto é, uma blindagem contra eventuais investigações das autoridades do Supremo, primazia da qual a maioria dos brasileiros não pode gozar.

O que se vê agora na Câmara dos Deputados é uma operação de salvamento político e semântico. Para livrar condenados, a exemplo dos responsáveis por ações antidemocráticas, parlamentares estão agenciando toda uma gramática de respeito aos direitos humanos que fez carreira à esquerda. A intenção é menos sensibilizar a audiência do que justificar projetos de perdão ou de redução de pena.

O resultado é uma inversão de papéis: enquanto o campo progressista chafurda no imperativo do encarceramento, a direita investe contra as instituições sob desculpa de que o Estado brasileiro é não só mastodôntico, mas autoritário.

O discurso da pacificação

E aqui chegamos a esse novo chavão odioso: o de que o Brasil precisa ser "pacificado", seja lá o que isso possa significar. Talvez até precise de fato se se considerar o aumento do poderio dos grupos criminosos e o sequestro da vida social de populações inteiras, como as que moram em distritos cearenses sob domínio de facções, expulsas de casa ou mesmo do bairro.

Mas não é isso que esses "pacificadores" no Congresso têm em mente. Quando se referem a uma hipotética necessidade de atenuar tensões no país, estão na verdade sacudindo um espantalho imaginário para fazer crer que, para onde se olhe, há aglomerações sublevadas e piquetes nas ruas em protesto contra as severas medidas aplicadas a velhinhas com bíblias, pipoqueiros e outros desavisados que inadvertidamente passeavam por Brasília naquele domingo.

Mas a verdade é que não se ouve um pio de tumulto em lugar algum, fora aquele que a própria Câmara vem promovendo.

Federação: ter ou não ter

O governismo estadual tem de decidir se a federação União Progressista é decisiva para 2026 ou não. Por ora, a base de Elmano mantém postura incerta no tabuleiro. Enquanto no privado flerta com o União e tenta fisgar a megaestrutura, acenando com vaga para o Senado, publicamente finge desinteresse em ter o bloco como aliado local, o que, se levado a efeito, desmontaria já de partida as chances de a oposição competir com chances de vitória no pleito de outubro - logo, é legítimo todo passo do "camilismo" nessa busca por influir nos rumos da federação.

Os efeitos dessa articulação, no entanto, é que devem ficar claros: toda a movimentação que se dá em torno disso só fortalece o UB e seus dirigentes como um polo antagonista na briga da sucessão. Quando (e se) a filiação de lideranças cearenses se consumar, então, será inevitável a leitura de que os aliados até tentaram impedir que a nova legenda caísse no colo dos opositores, mas foram derrotados.

Ciro para presidente?

Os ex-prefeitos Roberto Cláudio e José Sarto foram ontem às redes comemorar o cenário da pesquisa Quaest no qual Ciro Gomes aparece apenas sete pontos atrás de Lula numa simulação de 2º turno, mostrando-se como o concorrente mais forte entre os adversários do petista, deixando para trás Tarcísio de Freitas e outros.

De fato, surpreende que Ciro surja tão bem colocado numa sondagem de opinião hoje, mas também que seus aliados mais próximos e mesmo familiares (Lia e Cid Gomes, por exemplo) tenham passado a torcer abertamente para que o mais velho dos Ferreira Gomes decida por postular o Planalto e desista de pensar em disputar o Governo do Estado em 2026.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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