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Frei Betto, Márcia Tiburi, Jessé Souza e outros intelectuais de esquerda e artistas vão debater o tema em São Paulo (Foto: Reprodução/Instagram) |
Nesta semana, por exemplo, na sexta-feira e no sábado, intelectuais de esquerda e artistas vão debater o tema. O encontro, em São Paulo, já conta com cerca de 4 mil pessoas inscritas, para discutir "os rumos do país sob uma perspectiva progressista". Estão confirmadas palestras do cientista Miguel Nicolelis, dos filósofos Felipe Nunes, Frei Betto, Leonardo Boff; dos sociólogos Jessé Souza e Márcia Tiburi; dos jornalistas Daniela Lima e Serginho Groisman; do historiador Jones Manoel; da ativista política Aleida Guevara, filha de Chê Guevara. Entre os artistas confirmados estão Gog, Nasi, Edgard Scandurra, Falcão e Leoni. Integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva, como as ministras Marina Silva e Margareth Menezes, também já confirmaram presença.
"Esse julgamento foi, sem dúvida, um marco na história do Brasil. Muito importante, especialmente para pessoas que, como eu, estavam, há mais de 40 anos, com esse trauma atravessado na garganta", comenta o escritor, filósofo e teólogo Frei Betto, autor de vários livros que versam sobre o tema.
Preso e torturado pelo regime durante os anos de 1969 a 1973, Betto lembra que o Brasil é o único país da América Latina que, após a abertura, não julgou os torturadores do período militar. O mais simbólico, diz ele, é "o fato de militares que tramaram um golpe de Estado estarem sendo julgados por um tribunal civil". Se estivessem em um tribunal militar, como de costume, seria um julgamento corporativo, que provavelmente os livraria da condenação.
O dominicano alerta, no entanto, que os movimentos progressistas não estão preparados para mobilizar a sociedade para o que pode estar por vir. Na política, os apoiadores de Bolsonaro contam com a forte presença no Parlamento, especialmente, na Câmara do Deputado. Na sociedade, como um todo, ele vê uma capacidade de mobilização muito mais forte do que possui a esquerda.
A aparente pacificação que se vê, dias após a condenação, segundo Betto, é momentânea, enquanto se aguarda a publicação do acórdão e o resultado de todos os recursos no Supremo Tribunal Federal. "Os bolsonaristas talvez se sintam acuados, no momento, porque sabem que uma reação, como a de Eduardo Bolsonaro, agredindo as instituições, possa vir a agravar a situação. Talvez, os próprios réus condenados venham a pedir a essa gente que fique um pouco mais contida, para não prejudicar os recursos que virão para abater as penas."
Alerta
Com processo transitado em julgado, Betto avalia que tanto na política quanto na sociedade, a extrema-direita passará a agir com mais veemência. "Tem duas atitudes nas quais, talvez, eles estejam apostando. Primeiro, numa reação mais drástica do governo dos Estados Unidos, que pode aumentar as sanções ao Brasil. Eles querem garantir maioria no processo eleitoral do ano que vem, sobretudo no Senado, porque o Senado tem o poder de cassar ministros do Supremo Tribunal Federal".
É para isso que, no entender do filósofo, é preciso estar atento, porque as forças progressistas vivem, há muito, uma situação de apatia, incapaz de conter o avanço do conservadorismo. "Dentro do mundo digital eles vão ser, cada vez mais, aguerridos, ofendendo os ministros do Supremo e todos aqueles que pensam diferente deles. E, o outro lado, está muito longe de ultrapassar a fronteira digital", observa Betto.
As manifestações do 7 de Setembro, destaca, são uma demonstração de que, também nas ruas, os progressistas perderam o poder de mobilização. A presença de bolsonaristas foi infinitamente maior. "A esquerda calçou o salto alto e nós estamos pagando um sério preço por isso", diz o autor do livro A mosca azul.
Eduardo Moreira, fundador do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), que organiza o evento dos dias 19 e 20, chamado Despertar, diz que a ideia do evento é, exatamente, resgatar o ânimo e a capacidade das lideranças de agir e atuar em comunidade. "A ideia do Despertar é restabelecer esse vínculo entre as pessoas. Esse vínculo vem do conhecimento. Um conhecimento que não vem apenas da palestra, mas também dos afetos, do contato entre as pessoas."
Ao analisar o momento, Moreira ressalta a necessidade de se aproveitar o momento, em que o bolsonarismo está "acuado", para reorganizar o ambiente democrático. "O golpismo não morre nunca. Ele está enfraquecido e, temporariamente, desorganizado".
Para
proporcionar o contato, as palestras serão permeadas por shows e outras
técnicas, em que convidados e plateia poderão trocar ideias e mobilizações.
"Tudo que tá acontecendo ali, tem que ter de alguma maneira o envolvimento
do público, porque senão você perde esse senso de comunidade assim."
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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