7 de novembro de 2021

O circo de Arthur Lira por Henrique Araújo

O presidente da Câmara Arthur Lira articulou e manobrou a votação da PEC dos Precatórios (Foto: Reprodução/TV Câmara)

Picadeiro Enquanto o presidente da República chamava a Torre de Pisa de "Torre de Pizza" e confundia John Kerry com Jim Carrey, outro presidente, o da Câmara, armava o picadeiro para o seu circo de truques e chicanas regimentais a fim de aprovar a PEC dos precatórios - ou PEC da reeleição, do fura-teto, do "emendaço" ou que outro nome se queira dar à proposta desavergonhada cuja prioridade é assegurar folga de R$ 90 bilhões no orçamento para que Jair Bolsonaro tente alcançar novo mandato na esteira do Auxílio Brasil de R$ 400.

Mas não apenas: a PEC também garante mais emendas de relator para deputados favoráveis à proposta, de modo que o parlamentar que desejasse votar favoravelmente à medida tinha como estímulo o fato de que estaria engordando o próprio caixa para 2022. Isso mesmo, o negócio foi escancarado: congressistas recebendo emendas para votar projeto que amplia a verba para emendas, num círculo vicioso, tudo às claras, sob a batuta de Lira e conivência de partidos que têm candidatos a terceira via, como PDT, PSDB, Podemos e outros. Verdade que o chefe da Câmara manobrou, terraplanou o regimento, atropelou regras e fez o governo abrir o cofre - R$ 900 milhões apenas nos dois dias que antecederam a sessão.

Mas Lira não aprovou a PEC sozinho. Para tanto, contou com ajuda preciosa dessas legendas, parte das quais de esquerda, muitas de oposição a Bolsonaro. O deputado do PP comandou uma vitória no primeiro turno, aprovando a mudança por margem de quatro votos - o mesmo número de "sim" da bancada do Ceará. Caso tenha êxito no segundo turno, marcado para terça que vem, e a proposta passe no Senado, o Congresso estará constitucionalizando um expediente escandaloso que, noutras circunstâncias, teria ensejado um processo de impeachment.

Mas os tempos são outros. Neles, o TCU é amigo e a PGR, um braço do Governo. Sendo assim, o que se viu na madrugada de quinta-feira (4) foi apenas o Legislativo operando segundo os velhos critérios do toma lá, dá cá, mas agora num modo turbinado e sob pressão da popularidade em queda do chefe do Executivo.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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Um comentário:

  1. Artigo perfeito. Parabéns ao articulista.

    Durante a campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro jurou de pés juntos que jamais negociaria apoio político com deputados e senadores e fez pesadas críticas contra o fisiologismo dos partidos que compõem o chamado Centrão, prometendo solenemente aos seus eleitores que em hipótese alguma abraçaria a política do "toma lá dá cá" e que seu governo implantaria uma “Nova Politica” no país.

    Não é, porém, o que se vê hoje nas ações e estratégias do governo federal.

    Com Arthur Lira presidente da Câmara e Ciro Nogueira ministro da Casa Civil , as questões mais relevantes e urgentes na esfera política e econômica do país estão nas mãos do Centrão, bloco parlamentar cuja atuação no parlamento federal lembra muito aquele programa do Sílvio Santos “Topa tudo por dinheiro”.

    Diante de tudo isso, pergunta-se: É essa a “nova política” que Bolsonaro prometeu na campanha de 2018?!!

    Resposta: Não! O nome disso é desespero!!

    Bolsonaro sabe que se não conseguir reverter o panorama econômico de incertezas, que dificulta sobremodo a retomada do crescimento, bem como o cenário político conturbado e sombrio em que se acha mergulhado o país, dificilmente logrará algum êxito em 2022. Será derrotado nas urnas em eventual 2º turno, seja qual for o seu adversário.

    E consciente disso, o inquilino do Planalto tenta ganhar sobrevida, agarrando-se ao Centrão.

    Esquece-se o desastroso Bolsonaro que a bússola do Congresso Nacional é a economia. Quando empresários e banqueiros começam a reagir em face de um cenário político adverso à economia, é o começo do fim do governo de plantão !! E não tem “centrão” que segure !!

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