20 de janeiro de 2022

A divertida incompatibilidade de "Eduardo e Mônica" em estreia nacional

Cartaz de divulgação do Filme (Foto: Reprodução/Globo Filmes)

Uma corrente de valorização do cinema nacional, que recentemente contou com repercussões positivas dos longas "Marighella" e "Turma da Mônica - Lições", o filme "Eduardo & Mônica" entra em quase 500 salas do Brasil.

O novo longa adaptado de um fenômeno musical gravado pela Legião Urbana traz o resultado de filmagens, em 2018, dispostas num circuito integrado por Brasília, Alto Paraíso de Goiás e Rio de Janeiro. O filme é a segunda dramatização do diretor René Sampaio para uma criação de Renato Russo, antecedida por Faroeste caboclo que atraiu público de quase R$ 1,5 milhão de espectadores. No elenco há nomes como Gabriel Leone, Alice Braga, Otávio Augusto, Juliana Carneiro da Cunha e Victor Lamoglia.

Com orçamento de R$ 10 milhões, o longa contou com várias parcerias de roteiristas, em especial do brasiliense Matheus Souza (Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida). Eduardo & Mônica chega aos circuitos de cinema, após vários adiamentos, reflexo do efeito da pandemia.

Ambientada em 1986, ano de lançamento do disco Dois (que contém 12 faixas entre elas Eduardo e Mônica), a trama explora os impasses amorosos contidos a partir dos personagens do título da música oitentista, que traça afinidades e expõe dissabores na explosão de um amor entre pessoas com idades bem destoantes.

Para além de atender perfeitamente aos fãs que forem com lupa em cima dos escritos de Renato Russo, numa demanda da essência de Eduardo e Mônica na telona, a adaptação para filme (de René Sampaio) transborda uma cumplicidade com puro entretenimento. Com a tela dividida, os personagens vividos por Gabriel Leone e Alice Braga, ao acaso, se preparam para o encontro significativo que abastece a vontade crescente, nos espectadores, de vê-los unidos.

Imponente, na moto, Mônica traz realismo para a interação com o rapazote, inocente, e que anda entretido com os estudos. A química entre os intérpretes transmite a boa energia de uma relação elaborada, no compasso da música que dá base para o roteiro liderado por Matheus Souza. A maneira como tudo é cuidadosamente disposto — das músicas que congregam A-ha, The Petenders, The Clash e até uma épica de Bonnie Tylor, passando pelo registro da atração televisiva Anos dourados — evoca, com autenticidade, os anos 80 registrados não apenas na estética do filme, mas ainda no andamento da narrativa. Não há perda de foco, nem grandes distrações para o romance recriado.

"A gente é muito diferente, mas a gente pode tentar", persiste Eduardo que, simbolicamente, descarta até a coleção de carrinhos, para reorganizar prioridades de vida. Relutante a mudanças e senhora absoluta da liberdade dela, a rebelde Mônica rende muito, com a presença madura de Alice Braga. Jocosos e inocentes jogos embalam o afinado dueto sentimental dos personagens. Ela sabe buscar a comodidade, enquanto ele transpira um jeito desengonçado. O acesso ao mundo de Mônica tem, por chave, a intimidade com elementos artísticos. Exigirá algum esforço de Eduardo.

A aproximação do casal — intermediada pelos passeios no Parque da Cidade e pelas voltas tradicionais nos prédios-monumentos da capital — transcorre gradualmente, entre crises existenciais de Mônica e a sintonia desimpedida de Eduardo, que vive situações do dia a dia como perder o baú (ônibus) e curtir, com descompromisso, músicas de rádio. Crescendo juntos, ambos criam, sem pretensões, mais uma daquelas séries de "memórias mais preciosas" às quais Eduardo se refere na fita.

Entre cenas divertidas, como as de um telefone (com fio) atendido na privada, e rompantes que azedam a relação dos protagonistas, o espectador vira cúmplice de momentos íntimos, corriqueiros e multifacetados. Dissabores como o contato com o conservador Bira (Otávio Augusto, longe de composição maniqueísta) também são contornados. Sem sentimento de posse, os enamorados parecem seguir a cartilha da mãe de Mônica (papel de Juliana Carneiro da Cunha), apta a determinar: "A gente não controla nada, filha, nem o corpo".

Entrelaçando impulsos dos personagens e encadeando referências (que tocam Vincent van Gogh, Bauhaus, Caetano Veloso, e até a língua alemã, quando Mônica cita Wim Wenders), o roteiro do filme palpita empatia e transborda uma sensação de entendimento. Muito justo e adequado, para o casal construtivo que busca um equilíbrio que extrapole o das voltas de moto ou de camelo. No fim, está tudo lá, e está tudo certo — com existência de coerente razão.

Com informações portal Correio Braziliense

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