11 de setembro de 2019

Família Bolsonaro testa limites da democracia e isso é perigoso por Érico Firmo

Carlos Bolsonaro disse que transformação desejada não será por via democrática (Foto: Divulgação/redes sociais)
O que Carlos Bolsonaro (PSL) escreveu no Twitter foi: "Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!".

Carlos se irritou porque a frase foi interpretada como sinalização autoritária. Explicou-se: "O que falei: por vias democráticas as coisas não mudam rapidamente. É um fato. Uma justificativa aos que cobram mudanças urgentes".

Não, não era isso que ele tinha escrito antes. O vereador do Rio de Janeiro não expressa seu pensamento de forma muito clara e isso pode ser um atenuante. A forma como havia escrito dava toda margem à interpretação de que, para a transformação ser rápida, o caminho não é a democracia. Que talvez seja inviável na democracia a transformação que eles lá desejam. Que quem não quer ver "os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes", o melhor não é a democracia. É muito diferente de justifica-se para quem cobra mudanças urgentes. Diferente demais.

A fala do vereador não mereceria o pedaço de papel em que os parágrafos acima foram impressos, não fosse ele o filho do presidente. Mais que isso, a voz do presidente nas redes sociais. Não fosse uma das cabeças que mais influenciam o presidente.

A fala não seria tão grave não fosse o contexto. Bolsonaro fez carreira política defendendo uma ditadura. Defendendo ditadores e torturadores. "Foi um novo 7 de setembro", disse ele sobre 31 de março de 1964. "O Brasil merece os valores dos militares de 1964 a 1985", afirmou em vídeo publicado nas redes sociais em 31 de março de 2016. Também disse, em entrevista em 8 de julho de 2016: "O erro da ditadura foi torturar e não matar". Entre centenas de discursos. Não é precipitado desconfiar dos princípios democráticos do presidente.

Aliás, ele defende autoritarismo não só no Brasil. Em 4 de setembro de 1999, O Estado de S. Paulo publicou entrevista na qual Bolsonaro disse o seguinte sobre Hugo Chávez: "É uma esperança para a América Latina. Gostaria muito que esta filosofia chegasse ao Brasil". E mais: "Acho que ele vai fazer o que os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força". Ah, mas Chávez tem apoio de comunistas? Bolsonaro respondeu: "Ele não é anticomunista e eu também não sou. Na verdade, não tem nada mais próximo do comunismo do que o meio militar".

Para além das frases, atos de Bolsonaro se mostram autocráticos. Tenta governar por decretos - um foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal, outro pelo Senado. Trabalha para fazer do filho embaixador, faz mudança na Polícia Federal e deixa de cumprir tradição no Ministério Público em momento que um dos filhos, Flávio, é alvo de investigações. Nesses últimos pontos, agiu dentro do que a lei permite a ele. Leva essas prerrogativas ao limite da legalidade, talvez ao arrepio da moralidade.

A frase do vereador, isolada, poderia ser apenas uma entre tantas bobagens no Twitter. No contexto, indica um perigo, talvez uma ambição, de tamanho ainda ignorado.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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