29 de agosto de 2018

O desempenho de Bolsonaro no Jornal Nacional por Érico Firmo

Bolsonaro no Jornal Nacional (Foto: Divulgação)
A participação de Jair Bolsonaro (PSL) no Jornal Nacional foi informativa do ponto de vista de mostrar quem ele é. Quem gosta vibrou com o tom de enfrentamento. Quem não gosta ficou repugnado. O fato é que o candidato esteve ali em plenitude, para deleite ou desgosto, conforme gostos e estômagos.

Bolsonaro se saiu melhor no Jornal Nacional que nos debates até agora. A dificuldade para articular ideias e frases foi atenuada. Mostrou até alguma desenvoltura, diante do que se prenunciava duro interrogatório. A rigor, William Bonner e Renata Vasconcellos não conseguiram, no conjunto da entrevista, deixá-lo contra a parede. Para todas tinha resposta, dentro de sua lógica própria, da forma de ver o mundo que é dele e que compartilha com os seguidores. Os entrevistadores foram menos felizes que Guilherme Boulos (Psol) no primeiro debate e Marina Silva (Rede) no segundo ao tirar o candidato do sério e do prumo.

Ele ficou menos acuado do que Ciro Gomes (PDT) na véspera. Bolsonaro até surpreendeu, pois se mostrou menos despreparado para esse tipo de embate do que sugeriram suas participações nos debates.

Bolsonaro gosta, sobretudo, de arena. Como a lógica da sabatina é o enfrentamento, ele foi para a briga. E se municiou para isso. Criticou a forma como a Globo contrata via pessoa jurídica (PJ) - a pejotização - e dribla direitos trabalhistas. Citou Roberto Marinho para defender a ditadura militar. Era a mais previsível de suas investidas, mas, a Globo sentiu e a militância delirou.

Por outro lado, quando mencionou a diferença salarial entre Bonner e Renata Vasconcellos, ela o enquadrou com firmeza no que foi, de longe, o pior momento para o candidato. Aquele em que sentiu o golpe e perdeu pontos. 

Faço essa análise do ponto de vista da forma e da percepção do eleitor. De quem vota, não volta e pode votar nele e de como percebem a entrevista. Entro agora mais no pouco de conteúdo que permite perceber a visão administrativa de Bolsonaro. Isso é preocupante, pois do candidato que lidera as pesquisas sem Lula quase nada se sabe de sua visão administrativa e o que se sabe não é claro, não é consistente, não é esclarecedor. Ontem, os dois momentos em que mais se discutiu aquilo que ele pretende fazer, Bolsonaro simplesmente tirou o corpo fora.

Sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres, ele segue a dizer que não é com ele, não é problema dele. Que está na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e quem quiser reclamar vá à Justiça do Trabalho, procure o Ministério Público do Trabalho (MPT). Ele mesmo que não vai se meter.

A respeito dos direitos trabalhistas cuja redução o candidato defende, Bonner insistiu, mas Bolsonaro não disse em quais vai mexer. Afirmou apenas que não vai mudar aquilo que é cláusula pétrea da Constituição. Que isso só ocorreria se houvesse Assembleia Constituinte. De onde se pode deduzir que pode tirar todo o resto. É espantoso que um candidato que entra em campanha defendendo que a população terá de abrir mão de direitos para ter empregos se recuse ou seja incapaz de informar quais direitos são esses.

Um dos pontos mais sintomáticos da fala de Bolsonaro foi em suas considerações finais. Começou batendo na polarização PT x PSDB e pediu ao eleitor que rompa esse ciclo.

Amanhã começa a campanha em rádio e televisão. PSDB e PT terão muito mais tempo. Ao bater em dois partidos que - salvo o cenário com Lula - estão lá atrás nas pesquisas, o candidato demonstra que teme o quanto eles podem crescer.

Bolsonaro teme que, como acontece desde 1994, PT e PSDB acabem polarizando a disputa. De tudo que ele diz e pensa, está longe de ser o mais descabido.

Publicado originalmente no portal O Povo Online


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