29 de julho de 2022

Com mais de 300 mil adesões, carta em defesa da democracia é alvo de ataques virtuais

Fachada da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, no centro de São Paulo (Foto: João Castellano)

A carta em defesa da Justiça Eleitoral e da democracia, organizada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), passou, ontem (28/07), dos 300 mil signatários. Enquanto o site no qual o documento está acessível tinha alta quantidade de acessos (sete milhões), a página enfrentou ataques de hackers. Foram contabilizadas mais de 2,4 mil tentativas de derrubar o portal.

Os organizadores também têm recebido xingamentos por meio da plataforma e pessoas que tentam se passar por outras. Há uma equipe trabalhando na segurança e tecnologia do portal, para manter a estabilidade de acesso. Também é feita a checagem de CPF com bases de dados da Receita Federal para confirmar a identidade dos signatários e descartar casos de duplicidade. A maior parte dos acessos foi feita no Brasil (6,2 milhões). Os de fora do país são dos Estados Unidos, de Portugal, do Reino Unido e da Alemanha.

Além da chamada "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros", outro manifesto está em elaboração pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), intitulado "Em Defesa da Democracia e da Justiça", e faz parte de um dos atos organizados para ocorrer em 11 de agosto, na Faculdade de Direito da USP.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) anunciou, na quarta-feira, que vai participar desse manifesto, que deve ser publicado nos principais jornais do país, com a assinatura de entidades da sociedade civil. Há a expectativa de que a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib) também assine o texto. A ideia é unir forças no mesmo movimento.

O manifesto em defesa dos tribunais superiores e da Justiça Eleitoral se antecipa aos atos de 7 de Setembro, que estão sendo organizados por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL). Na carta, estão banqueiros, empresários, petistas, tucanos, procuradores que trabalharam na Lava-Jato, entre outros.

O chefe do Executivo criticou, ontem, a iniciativa do presidente da Fiesp, Josué Gomes. Para ele, o manifesto tem teor político e visa defender a candidatura de Lula. "Quem é contra a democracia no Brasil? Somos pela transparência, pela legalidade, respeitamos a Constituição. Eu não entendi essa nota, que foi patrocinada pelo nosso querido filho do vice do ex-presidente Lula, seu Josué Gomes da Silva", reprovou, em live nas redes sociais. "É uma nota política em ano eleitoral. É melhor democracia com ladrão do que outro regime com honesto. Agora, qual outro regime com o honesto. Que outro regime é esse? Não consigo entender. Estão com medo de quê? Se eu estou três anos e meio no governo, nunca nenhuma palavra minha, nem um gesto (contra a democracia)."

Bolsonaro repetiu a acusação de que a Febrabran será signatária do documento por perdas de arrecadação decorrentes do Pix. "No corrente ano, banqueiros devem deixar de arrecadar em torno de R$ 22 bilhões com Pix", pontuou.

Na avaliação do cientista político Leandro Gabiati, não há ilegalidades nas falas de Bolsonaro, mas ele se movimenta em um "espaço cinzento", que rompe "códigos não escritos de convivência democrática". A carta, para ele, "se insere nessa contestação, nesse posicionamento de alguns setores que questionam a falta de respeito a esses códigos".

O especialista não vê risco de interrupção democrática. "Por enquanto, a resposta é não, as Forças Armadas sinalizam que vão se manter alinhadas à lei. Para essa interrupção, seria preciso um consenso, um apoio muito grande de diversos atores, da mídia, da sociedade civil, militares, empresários", destacou. "Quando a gente vê a carta em defesa da democracia, vemos um setor importante da sociedade que indica claramente não apoiar esse tipo de interrupção democrática."

Autor do livro A mão e a luva: o que elege um presidente, o cientista político Alberto Carlos de Almeida vê a carta pró-democracia como uma espécie de "carta aos brasileiros ao contrário", se referindo à mensagem que Lula endereçou aos eleitores, em 2002, para enfrentar a rejeição a um candidato de esquerda que disputava pela quarta vez a Presidência.

"Em 2002, quem escreveu a carta foi Lula. Agora, com a justificativa de defender a democracia, esses segmentos da sociedade escrevem uma carta ao Lula declarando 'eu te apoio' sem dizer isso explicitamente", avaliou.

Com informações portal Correio Braziliense

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