16 de novembro de 2017

“Os liberais do Bolsonaro” por Plínio Bortolotti

Semana passada, com o artigo “À procura de um personagem”, falei da dificuldade da elite em lançar um candidato para representá-la nas eleições presidenciais de 2018, vistas as dificuldades de seus escolhidos de sempre. Destaquei dois personagens em fase de teste: primeiro, Henrique Meirelles; depois, um rostinho novo em política, Luciano Huck.

Mas esqueci que à elite financeira e empresarial faltam escrúpulos quando se trata de defender seus interesses. Pois a manchete de primeira página da Folha de S. Paulo veio lembrar-me: “Mercado já vê Bolsonaro como opção contra Lula” (12/11/2017).

Misógino, racista, homofóbico, preconceituoso, amante da ditadura, defensor da tortura. Não importa. Desde que abraçou a agenda “liberal”, Bolsonaro tornou-se imediatamente “opção” se Meirelles, a primeira escolha, ficar pelo caminho.

Para esse tipo de gente - que também via com “bons olhos” a ditadura de Pinochet -, pois implementava a política liberal com seus “Chicago Boys”, a liberdade humana pode ser oferecida em holocausto ao deus-mercado. Nisso equipara-se ao seu antípoda, o “socialismo realmente existente”, exigindo sacrifícios e morte no presente, para alcançar um suposto benefício no futuro (que a propósito nunca chega).

Em artigo no mesmo jornal (9/11/2017), a economista Laura Carvalho se lembra de Friedrich Von Hayek, “o avô do neoliberalismo”, defendendo a ditadura de Pinochet, no Chile, como “transição necessária para reverter excessos de regulação do passado”. Segundo ela, Milton Friedman, outro herói dos liberais, considerava o regime necessário como “caminho para a liberdade verdadeira”.

Não vou afirmar que os liberais sejam sempre adeptos de ditaduras, por injusto. Mas pode ser dito que, para os liberais, o bem maior é a liberdade do mercado, depois vem o resto.

Portanto, não é espantoso ver “liberais” brasileiros, que vivem dependurados no Estado, apoiando um aspirante a ditador. Devem estar com aquele pensamento fixo: “O que é bom para os Estados Unidos, é bom para o Brasil”. Se eles elegeram Trump, por que não eleger Bolsonaro?

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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