10 de setembro de 2022

Discurso de ódio e desinformação se retroalimentam, por Carlos Holanda

A jornalista Vera Magalhães foi exposta por bolsonaristas nos atos do dia 7 de Setembro (Foto: Reprodução/Twitter)

Uma das características do populismo é o direcionamento da mensagem pelo líder aos apoiadores sem intermediários, como a imprensa e seu filtro - imperfeito, mas filtro. Diretamente às massas, o líder está à vontade para omitir, falsear, esquivar, atacar, mentir, ignorar, superdimensionar, minimizar, silenciar, em pleno descompromisso com o fato. Ou em sintonia com os fatos alternativos, a solução concebida pela conselheira do então Presidente dos Estados Unidos da América, Kellyanne Conway, para justificar o dado falso fornecido pelo porta-voz da Presidência, Sean Spice, a respeito do número de presentes na posse de Donald Trump na Casa Branca.

O presidente venezuelano Nicolás Maduro já fechou mais de 50 órgãos de imprensa. O premiê húngaro Viktor Orbán fechou a primeira rádio independente daquele país. A linha comum do discurso é de que são emissoras que jogam contra os interesses do país.

Os novos populismos lançam mão das redes sociais para potencializar essas práticas. Ao falar em "interesses do país", o líder elege aquelas que, para ele, são as autênticas urgências dos autênticos membros da nação. Inicia-se, portanto, um clima de guerra em que tudo o que não é a fração eleita é a maldita.

Odiar um inimigo em comum dá robustez ao sentimento de união. Essas ideias ganham asmentes com força incomum pelo fato de que se valem de mentiras sobre grupos políticos, étnicos e religiosos, por exemplo. Se compreendo que meus adversários querem corromper a infância dos meus filhos ou se são todos eles ladrões sem escrúpulos, a tendência é de que o desentendimento, a agressão e a falta de diálogo reinem no ambiente.

É com base em mentiras (desinformação) que as pessoas podem se sentir autorizadas a "tomar" uma eleição perdida nas urnas na bala. Alegar sem evidências que a receptora dos votos, eletrônica, é passível de fraudes (desinformação) aflora os ânimos e deixam as pessoas mais perto de um acesso de grosseria ou mesmo de agressão, porque ninguém quer se sentir roubado. E haverá sempre quem consiga manejar e corromper impulsos moralmente justos. Também haverá sempre segmentos da sociedade com tendência acrítica, independentemente de fatores financeiros.

Um apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) deu 15 facadas em um entusiasta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tão somente porque divergem frontalmente em matéria de política. Os dois líderes de pesquisas de intenção de voto são os que polarizam o debate.

Bolsonaro é campeão dos temas tratados aqui. Sobre desinformação, já relacionou vacinas contra a covid-19 à aids e isso basta num país que perdeu mais de 680 mil pessoas para o vírus. A declaração em live (sem intermediários, olha só) o perseguirá para sempre. O que ela cria? Algo como uma revolta contra o passaporte de vacina, quem o implanta e quem o defende.

A fixação por Vera Magalhães

A jornalista e apresentadora do programa Roda Viva e colunista do OP+, Vera Magalhães, foi exposta por bolsonaristas, no Rio de Janeiro, nos atos do dia 7 de Setembro. Uma grande foto dela foi erguida por um guindaste, acompanhada da frase-ataque do presidente Jair Bolsonaro (PL), no debate da TV Bandeirantes.

"Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro", disse Bolsonaro contra a profissional, dona de uma das análises políticas mais acuradas da imprensa brasileira.

A própria Vera sintetiza bem o tamanho da irresponsabilidade de quem nunca teve o tamanho do cargo que ocupa.

"Sabem o que isso faz? Volta uma horda violenta e fanatizada contra mim. Coloca minha segurança e minha integridade física em risco. Coloca um alvo na minha cara. Isso sim é vergonhoso. Isso não é democracia. E é dessa maneira que essas pessoas enxergam a mulher e a imprensa", escreveu no Twitter.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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