30 de setembro de 2022

Debate entre presidenciáveis é marcado por agressões e baixarias

Presidenciáveis enfileirados momentos antes de debate na Globo começar (Foto: João Miguel Júnior)

O último debate entre presidenciáveis antes do primeiro turno, ontem à noite, na TV Globo, foi marcado pela dura troca de acusações entre os dois candidatos que polarizam a corrida eleitoral e por uma série de pedidos de direito de resposta, a maioria atendida pela produção do programa.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), com uma postura bastante agressiva, baseou suas acusações contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas denúncias de corrupção que marcaram os governos petistas. Lula também foi incisivo em seus disparos contra o adversário.

Lula e Bolsonaro foram dominantes, principalmente no primeiro bloco. O mediador da emissora, William Bonner, teve trabalho para administrar tantos direitos de resposta concedidos.

Além do petista, líder das principais pesquisas de intenção de votos, e do atual chefe do Executivo, participaram do debate Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe D'Ávila (Novo), Soraya Thronicke (União Brasil) e Padre Kelmon (PTB). O critério usado pela emissora, com a concordância de todos, foi o de convidar apenas postulantes de legendas com, pelo menos, cinco representantes no Congresso.

O tom do debate começou com Ciro Gomes, que se dirigiu a Lula para questionar por que, ao fim de 14 anos de governos do PT, a distribuição de renda no país ainda era tão desigual. O ex-presidente lembrou ao pedetista que ele havia participado da primeira gestão como ministro, e elencou conquistas sociais e econômicas dos oito anos em que esteve no comando do país, sem referir-se ao período da presidente Dilma Rousseff, quando os números da economia pioraram.

Na sequência, Padre Kelmon escolheu Bolsonaro para fazer uma pergunta sobre a manutenção do Auxílio Brasil e repetiu a "dobradinha" que havia feito no debate do SBT, quando levantava a bola para o presidente cortar.

Bolsonaro aproveitou a resposta de que o auxílio seria mantido para chamar Lula de "chefe de quadrilha" e que o PT havia patrocinado uma "roubalheira". Por isso, o ex-presidente pediu direito de resposta, que foi concedido, sob protesto do chefe do Executivo. "Quando o senhor vier ao microfone, não minta", disse Lula, depois de citar as denúncias de corrupção no atual governo, como as "rachadinhas" e os pedidos de propina nos ministérios da Educação e da Saúde. Bolsonaro replicou com outro pedido de resposta, também concedido, em que voltou a acusar o ex-presidente de "traidor da pátria".

"Covardia"

O tom beligerante prosseguiu com a pergunta de Felipe D'Ávila a Ciro Gomes, que elegeu o petista como seu principal alvo no debate. Mas a disputa entre Lula e Bolsonaro foi retomada em temperatura ainda mais alta quando o presidente, ao dirigir a pergunta a Simone Tebet, afirmou que a vice na chapa da senadora (Mara Gabrili) "vem falando que Lula foi o mentor do assassinato do (ex-prefeito de Santo André) Celso Daniel".

Tebet criticou o presidente e disse que o questionamento deveria ser dirigido ao petista, mas que não foi feita por "covardia". Por isso, Lula pediu e ganhou mais um direito de resposta. Declarou que o ex-prefeito (morto em 2002) era "o melhor gestor do país" e um de seus melhores amigos e que a acusação de Bolsonaro era outra mentira.

No segundo bloco, os assuntos foram sorteados pelo mediador, o que poderia ter proporcionado aos candidatos falar um pouco sobre programas de governo. Mas, logo na primeira participação, com o tema "cotas raciais", D'Ávila provocou Lula sobre desvios de verbas nos governos do PT. O ex-presidente questionou qual era a fonte das denúncias, e o oponente não respondeu. Lula discorreu sobre cotas e programas sociais que implantou quando comandou o governo.

Na sequência, Bolsonaro foi questionado por Tebet sobre meio ambiente. O presidente ficou na defensiva, minimizou o problema do desmatamento, das queimadas e declarou que "a falta de chuva (na Amazônia e no Pantanal) não é responsabilidade minha". Ele defendeu seu ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e a ampliação do porte de armas para o setor rural.

Ciro respondeu sobre "educação", sem cair nas provocações de Padre Kelmon, que reclamou das universidades públicas — "fábricas de militantes de esquerda".

"Padre de festa junina"

Soraya perguntou sobre "combate ao racismo" para Padre Kelmon. "Somos todos irmãos, somos todos cristãos; raça só existe uma", respondeu o religioso. Thronicke chamou o adversário de "padre de festa junina".

O terceiro bloco, com temas livres, começou com Bolsonaro indagando a D'Ávila sobre o risco que representaria ao país a volta da esquerda ao poder. Na resposta, o candidato do Novo defendeu o liberalismo econômico. O presidente, na réplica, defendeu as reduções de impostos que patrocinou em seu governo, em especial nos combustíveis, e prometeu aprovar a reforma fiscal se reeleito, em um raro momento em que não citou Lula ou o PT. "A volta da esquerda vai ser um desastre para o avanço dessa economia liberal", disse D'Ávila na tréplica.

Padre Kelmon indicou Lula para responder sobre "os comparsas" que foram presos por denúncias de corrupção. O ex-presidente declarou que foi absolvido em 26 processos. "Quando quiser falar de corrupção, olhe para o outro, não para mim", rebateu o petista. O candidato do PTB retrucou dizendo que Lula é "cínico, que mente" e o chamou de "ex-condenado". Lula reagiu, e teve o microfone cortado. Bonner teve que interromper a discussão para lembrar as regras do debate. "Estou vendo aqui um impostor", disse Lula.

Ciro indicou Bolsonaro para falar sobre corrupção no governo dele e o caso dos imóveis comprados em dinheiro vivo. O presidente respondeu que não há corrupção em seu governo.

O último bloco do debate foi aberto com Soraya perguntando a Bolsonaro sobre denúncias que ele faz à lisura das eleições e se o presidente pretendia dar um golpe de Estado. O presidente não respondeu e acusou a senadora de ter pedido cargos no governo dele. Soraya ganhou direito de resposta depois de Bolsonaro acusá-la de ser "laranja de alguém".

A última pergunta foi feita por Lula a Ciro sobre mudanças climáticas. O ex-presidente aproveitou para criticar o estímulo do atual governo ao desmatamento da Amazônia em favor da expansão da pecuária.

Nas considerações finais, Felipe D'Ávila lamentou a "baixaria" do debate e disse que Bolsonaro ressuscitou o PT. Ciro Gomes se despediu dizendo que quer ser o candidato da "reconciliação do Brasil".

Padre Kelmon se dirigiu "ao Brasil cristão" e disse que foi alvo de "ódio". Soraya Thronicke destacou que tem "ficha limpa". Tebet citou a fome e as desigualdades sociais e prometeu "governar com a alma de uma mulher".

Lula falou do orgulho que sente por ter sido presidente e relembrou conquistas de seu governo. Bolsonaro fechou o debate repetindo o lema de sua campanha — "Deus, pátria, família e liberdade" — e listou, pela primeira vez, sua pauta de costumes contra o aborto e a "ideologia de gênero".

Com informações portal Correio Braziliense

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