11 de setembro de 2022

7 de setembro: Catarse lisérgica no mundo da patifaria, por Carlos Holanda

Bolsonaro no ato de 7 de setembro em Brasília (Foto: Leo Bahia)

Jair Bolsonaro (PL) é eleitoralmente muito forte e o dia 7 de setembro permite constatar. E é um competente mobilizador, característica chave para compreender as fragilidades do conceito de "Datapovo" (sátira ao Datafolha), mas essa é uma conversa para outra hora. Do alto de um governo sem grande e objetiva realização a apresentar, adoradores do presidente saíram às ruas para lotar as praças portugais brasileiras em nome da liberdade, uma ideia manejada pelo bolsonarismo de modo falacioso e peculiar.

"Não é sobre armas, é sobre liberdade", estampava a blusa de um cidadão de quem passei ao lado. Substitua "armas" pelo absurdo que quiser e tenha dimensão do vazio argumentativo que representa, até mesmo como síntese do que seria reflexão mais ampla. Não é.

Críticas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), para ficar somente nelas, sem precisar citar os ataques golpistas, cumprem função fundamental no arranjo retórico bolsonarista. A essência dele é essa: "eu tento mudar o Brasil, mas sou tolhido", "se meus aliados são golpistas e sofrem as consequências disso, antidemocrático são eles".

Na composição química do combustível bolsonarista há carência e ressentimento. Um rombo espiritual pode ser preenchido com a ideia de se estar colaborando para uma grande luta. Some-se a isso uma natural inclinação para o autoritarismo. Dentro de um juízo que opera dessa forma é uma bobagem que o quilo da carne esteja caro.

Pelo cumprimento e troca de olhares entre dois estranhos manifestantes, é como se dissessem um ao outro: nunca tivemos nosso lugar, mas agora temos. Deve ser uma satisfação enorme. Isso faz a reeleição de um presidente? É possível que sim. É possível que não. Sei que você, leitor, pensou que eu fosse dedicar alguma linha ao deputado que prometeu tomar eleição na bala. Ou ao político que homenageou o próprio pênis no bicentenário da independência do Brasil. Mas eles também foram contemplados aqui.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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