31 de dezembro de 2023

As caras políticas de 2023, por Guálter George

Os nomes relacionados resultam de um filtro pessoal do autor (Charge: Carlus Campos)

Na sua última edição do ano, a coluna se propôs a repassar 2023 numa perspectiva em que se limitou ao ambiente da política e, num exercício de precisão maior, do cenário cearense. Quem afinal, nos últimos 12 meses, fez ou deixou de fazer algo com algum nível de implicação nas disputas de todo dia pelo poder em nosso Estado? Sem qualquer outra explicação para isso que não a força cabalística do número, 10 personagens foram selecionados, e, mais explicação, decidiu-se por ordená-los alfabeticamente. Algo precisaria ter critério sério, afinal.

É preciso dizer, como preâmbulo, que foi um ano muito difícil. Do ponto de vista da política, pode-se até criar uma situação imaginária que o indica como inexistente. Ou seja, espremido entre o 2022 eleitoral que ainda não foi superado e o 2024 eleitoral que parece ter chegado antes do tempo, a impressão é que 2023 meio que foi desconsiderado no calendário político local. Muita gente parece que ultrapassou o período dando pouca atenção às folhas do calendário.

Não é uma queixa, diga-se, e pode até ser um agradecimento porque o quadro ajudou muito na pauta que a coluna abordou em seu esforço de acompanhar o que aconteceu desde 1º de janeiro até hoje. Foi um ano, de qualquer forma, de muita articulação, esperteza, alguns sinais de pouca inteligência (sendo educado), de ameaça à democracia, tensões, conquistas, retrocessos e, sim, avanços. Os nomes listados abaixo resultam de um filtro pessoal, portanto, agradará e desagradará na mesma proporção. Deixo com cada leitor a decisão sobre o lado no qual prefere se colocar.

Camilo Santana

Abriu o ano como a principal figura da política contemporânea cearense, eleito senador, indicado ministro da Educação, cabo eleitoral decisivo na vitória do correligionário Elmano de Freitas como candidato ao governo estadual, enfim, era só ponto positivo a considerar. Fechou no mesmo clima? A sensação é de que não. A vida dele não está fácil em Brasília e os ataques chegam de todo lado, fogo amigo e inimigo. O cenário local ainda é predominantemente favorável, porém, especialmente após emplacar, já em dezembro, o aliado Evandro Leitão no PT, com planos de fazê-lo candidato em Fortaleza. As urnas em 2024 serão, de alguma forma, um teste importante de sua liderança, mesmo que seu nome não vá aparecer nelas.

Cid Gomes

Ora com silêncio, ora com barulho, movimentou a pauta durante quase todo o tempo. Mesmo quando, na fase inicial do ano, decidiu se impor um distanciamento das coisas para melhor digestão política dos acontecimentos do ano anterior, que deixara como legado principal uma inédita quebra da ligação dele com o irmão, Ciro. Aparentemente livre destes conflitos pessoais originários da última eleição, fecha 2023 em atividade plena como líder de um grupo expressivo de políticos cearenses, boa parte deles com mandatos, à espera de sua orientação para saber do novo destino partidário. Os passos de Cid, agora, indicam sua disposição clara de reservar uma das vagas destinadas à disputa ao Senado, na eleição de 2026, dentro do grupo, mais amplo, que hoje controla o governo do Ceará.

Ciro Gomes

A performance numericamente trágica como candidato à presidência em 2022 (3,05% dos votos nacionais, 6,8% entre os eleitores cearenses) não foi suficiente para tirá-lo do patamar de cima da figuras políticas com influência local. Mesmo que seu foco siga muito no cenário nacional, ocupando bastante as redes sociais e tendo lançado no ano uma newsletter para falar com seu (dele) público. Aliás, olhou para o quadro cearense mais do que costuma fazer, tem sido atuante no processo de consolidação de uma candidatura à reeleição de José Sarto, em Fortaleza, restando entender, mais adiante, se isso pesará contra ou a favor do projeto eleitoral do prefeito pedetista. Uma coisa é certa: não fez qualquer autocrítica sobre o que aconteceu no ano anterior, segue brigado com o irmão e, mesmo com seu partido dentro do governo, ataca o governo Lula sempre que há espaço à disposição para fazê-lo.

Eduardo Girão

Mais uma temporada na qual se esforçou para se apresentar como alheio à polarização, uma espécie de "independente", embora siga o tempo todo alinhado com as posições do grupo bolsonarista. Nesse sentido, numa perspectiva determinada, o senador do Novo brilhou com destaque especial na CPI dos Atos Golpistas de 8 de Janeiro, numa postura de enfrentamento da bancada situacionista e um esforço meio esquisito de atribuir maior responsabilidade pelo que aconteceu naquele dia ao próprio governo Lula. A estratégia de exposição deu certo para ele, que fecha 2023 com o nome listado entre os pré-candidatos à prefeitura de Fortaleza.

Elmano de Freitas

Abriu o ano como uma grande incógnita, após a surpreendente vitória na disputa pelo governo do Ceará em 2023, e, na verdade, doze meses depois segue determinando mais perguntas do que respostas. Não há ainda uma marca pessoal que seja possível aplicar ao seu estilo e até nem enfrentou grandes crises para ser testado na sua capacidade real de liderança - lembremos que o antecessor, Camilo Santana, cresceu muito quando desafiado a enfrentar duas grandes agitações na segurança pública e, depois, ao se ver diante de uma pandemia. O apoio folgado que tem na Assembleia e o alinhamento total com Brasília garantiram, nesse primeiro ano, a vida tranquila do governador. Bastam? Precisaremos de mais tempo para saber.

Jair Bolsonaro

Doze meses depois de deixar o governo numa situação controversa, recusando-se a passar a faixa ao sucessor, atrapalhando o quanto pode a transição etc, segue numa condição forte como ator político. Inclusive, é dado como um dos "grandes eleitores" para 2024, fortalecendo candidaturas que venha a apadrinhar municípios afora, inclusive no caso, local, de Fortaleza. Porém, dificilmente fugirá de uma condenação ao longo do próximo ano diante das várias investigações às quais está submetido e as provas abundantes de irregularidades cometidas quando presidente da República e, posteriormente, alimentando movimentos que andaram ameaçando a nossa democracia.

José Guimarães

Cada vez mais definível como (no melhor sentido do termo) um "animal político", esteve entre as figuras da linha de frente do governo Lula no Congresso, líder que foi da gestão petista na Câmara. O que chama mais atenção, como reafirmação de uma espécie de marca pessoal, é o fato de cuidar do cenário nacional sem perder de vista as coisas locais. Ao contrário, articulou como nunca o crescimento do PT no Ceará, segue negociando e atraindo muitos novos filiados (sob críticas internas, inclusive). Seu objetivo é claro: chegar forte a 2026 e reivindicar para si uma das duas vagas em disputa para o Senado na aliança que possivelmente será puxada pelo seu partido. Nesse sentido, pode-se dizer que 2023 foi um ano bom.

José Sarto

Muita gente do entorno mais próximo do prefeito de Fortaleza avalia que a gestão é mais bem vista pela população do que o próprio gestor. Não deixa de ser uma crítica à postura pessoal do experiente político, na sua primeira experiência no âmbito do Executivo, após mandatos acumulados em décadas nos parlmentos, considerando-se que nos três anos na cadeira faltou-lhe capacidade para vincular a própria imagem às coisas positivas observadas. Chega vivo e forte, no entanto, para o decisivo ano eleitoral em que deve pleitear reeleição, acreditando-se que a campanha conseguirá colocar seu rosto naquilo que o fortalezense gosta e apoia, mas hoje não saberia a quem agradecer.

Luiz Inácio Lula da Silva

Voltou ao Palácio do Planalto, para despachar, e ao Alvorada, para morar, em condições bastante diferentes, e mais desafiadoras, do que aquelas que encontrou na chegada para a primeira experiência como presidente da República, 20 anos atrás. Num contexto difícil, pode-se afirmar que passou bem pelo ano, superou logo no início uma confusão do tamanho daquela de 8 de janeiro, que quase lhe custa o governo, e ajustou a dinâmica do governo ao seu perfil com resultados práticos e objetivos inquestionáveis. Terá força para influir, certamente, no processo eleitoral de 2024, onde definir como prioridade, mas não poderá descuidar do dia-a-dia político e administrativo de um País ainda cheio de problemas por resolver.

Roberto Cláudio

Oscilou na temporada política, a exemplo de outras vozes influentes, entre a ausência controlada e o barulho administrado. Evitou presença maior na confusão interna do seu PDT, muito embora tenha lado claro e permaneça sendo um aliado firme de Ciro Gomes na briga com o irmão Cid. Bateu de frente com o senador em momentos pontuais, e escolhidos, posicionando-se no cenário para as disputas que estão por vir. Será fundamental na estratégica disputa do grupo para manter, no próximo ano, sua principal vitrine política: a prefeitura de Fortaleza. A preço de hoje, como fiador da reeleição de José Sarto.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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