14 de janeiro de 2023

Na saúde e na pandemia, na vitória e na derrota, na eleição e no golpe, bolsonaristas estão nem aí, por Érico Firmo

Apoiadores fanáticos e extremistas simplesmente não ligam para crimes de Bolsonaro (Foto: Reprodução/Facebook)

É estarrecedor haver a comprovação de que o plano para um golpe de Estado no Brasil passou pelas mãos do então ministro da Justiça e Segurança Pública. No mínimo, ele tinha conhecimento e se omitiu. É crime e é gravíssimo. Qualquer pessoa que valorize a democracia haveria de repudiar de forma implacável o ex-ministro, o ex-governo e o ex-presidente que tenha compactuado com isso. Porém, o projeto frustrado e documentado de golpe afeta muito pouco a popularidade do ex-governo e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) perante a parcela mais radical, extremista, fanática e destrambelhada dos apoiadores.

Muita gente por aí gostaria que Bolsonaro tivesse dado um golpe. Não é por outra coisa que havia tanta gente passando vergonha na frente dos quartéis. Queriam atentar contra a ordem democrática. Acham que o ex-presidente está acima da democracia.

Aliás, queriam que o candidato derrotado na última eleição ficasse no poder. Não importa para eles que Bolsonaro tenha perdido para Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Usam subterfúgios para questionar o resultado eleitoral, mas a evidência é uma só: não aceitariam nenhum resultado que não Bolsonaro eleito. Nenhum. Só a vitória dele importava. Não haveria mecanismo de eleição ou instrumento de auditoria que eles reconhecessem se o resultado fosse outro que não a reeleição do ex-presidente autoexilado.

Essa gente afirma que está a favor de Bolsonaro em defesa da honestidade e contra a corrupção. O fato é o seguinte: grande parte dos bolsonaristas ligam para crimes dos outros, mas não dão a mínima para os crimes que Bolsonaro e aliados cometem. Planejar golpe é crime. Gravíssimo. Ligam para isso? Coisa nenhuma.

Não ligam se há uma tentativa de golpe. Até cobram e aplaudem. Lamentam que não tenha dado certo.

Tampouco se importam com gastos estranhos em cartão corporativo. São rigorosos com o que fazem os adversários políticos. Mas, acha que se importam com as despesas que vêm sendo divulgadas? Se tiveram ao menos curiosidade? De jeito maneira. Acham antecipadamente que está tudo certo, tudo correto, tudo honesto. E se não estiver, para eles Bolsonaro pode.

Como também não ligam para rachadinha, uma forma ilícita de se apropriar de dinheiro público.

Propina cobrada por pastores para direcionar verbas do Ministério da Educação? Outra bobagem, eles acham.

E repetem que o governo Bolsonaro não tinha denúncia de corrupção. Há aos montes. Eles só fingem que não enxergam, não ligam e tratam como se não existisse.O preocupante: não é fenômeno isolado. É muita gente. São parte da sociedade brasileira, da vida política. Participam, olha de ironia, do processo democrático. A política precisa saber como lidar com eles.

Conspiradores contra a democracia

A minuta de um decreto de golpe no armário de um ex-ministro da Justiça não pode ser tratada como algo banal. Tem muito político por aí fingindo que não é nada, para ver em que vai dar. Desconheço indício de algo tão grave dentro do governo brasileiro talvez desde o ato institucional número 5 (AI-5). O ex-presidente autoexilado repetia a balela de que jogava "dentro das quatro linhas da Constituição", enquanto um golpe era arquitetado para favorecê-lo.

O bolsonarismo não é uma força política que possa ser democraticamente legitimada. Não cabe na institucionalidade. Isso é um complicador extra para lidar com os fanáticos seguidores.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

Leia também:

A intentona dos palermas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.