15 de agosto de 2022

Vai começar a campanha mais acirrada das últimas década

Capitão Wagner, Roberto Cláudio e Elmano de Freitas são os candidatos mais competitivos na disputa ao Palácio da Abolição  (Foto: Reprodução/TSE)

A campanha eleitoral no Ceará, que começa amanhã (16/08) é daquelas que a história trata de dar um lugar especial antes mesmo de começar. As articulações prévias resultaram no completo redesenho do cenário eleitoral cearense. Pela primeira vez desde 2006, PT e PDT estarão em lados opostos na disputa pelo poder. Um racha marcado por forte tensão e troca de farpas entre líderes locais e nacionais dos dois partidos.

Na outra ponta, emerge uma candidatura competitiva que ameaça romper com o ciclo de dominância política dos últimos 16 anos no Estado. Capitão Wagner, do União Brasil, desponta na liderança das pesquisas e tem como principal desafio provar que, ao contrário das duas disputas à Prefeitura de Fortaleza (2016 e 2020), dessa vez terá fôlego suficiente para manter-se na ponta da corrida eleitoral até o fechamento das urnas.

A postulação de Wagner já era dada como certa desde 2021, quando o próprio deputado anunciou intenção de concorrer ao Abolição por meio de postagem nas redes sociais. “Vamos construir um projeto capaz de libertar o Ceará”, disse ele à época ao se lançar pré-candidato.

Na contramão de Wagner, que começou a construir as bases de sua candidatura há mais de um ano das eleições, o PDT sinalizava que a escolha do nome governista seria levada até os 45 do segundo tempo. Não havia consenso em torno da postulação.

A sigla levou a decisão para o voto, apresentando o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, o deputado federal Mauro Filho, o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, e a então vice-governadora, Izolda Cela, como pré-candidatos ao cargo máximo do Estado.

Juntos, os quatro pedetistas participaram de dez encontros regionais promovidos pelo partido em várias localidades do Interior cearense entre o fim de 2021 e março deste ano. A indefinição abriu espaço para um explícito ambiente de tensão. O acirramento se tornou ainda maior quando Izolda Cela assumiu a chefia do Executivo Estadual, no dia 2 abril, após a saída de Camilo Santana (PT), que se desincompatibilizou do cargo para disputar o Senado.

Fora do Governo, Camilo reforçou os gestos a favor da candidatura de Izolda à reeleição. Em paralelo, cresceu dentro do PT a posição uníssona pró-Izolda. O movimento cresceu após a cúpula pedetista sinalizar que o favorito à indicação seria Roberto Cláudio.

Contrários à escolha de RC, líderes petistas cearenses ameaçavam romper com o PDT se o nome do ex-prefeito fosse confirmado. Consignado por figuras históricas do partido, como os deputados federais José Guimarães, Luizianne Lins e José Airton Cirilo, o veto se tornou condicionante para a manutenção da aliança.

A posição foi explicitada em tom mais veemente no dia 9 de junho, quando Guimarães afirmou em entrevista exclusiva ao O POVO que o PT buscaria “outro caminho” caso Roberto Cláudio fosse o escolhido pelos pedetistas.

Se antes estava em Camilo a base da sustentação do acordo PT-PDT, mesmo em fase de forte instabilidade, o mesmo ocorreu no momento em que a aliança se desmoronou. O ex-governador foi quem deu aval para o racha na noite do dia 18 de julho, quando o diretório estadual do PDT indicou Roberto Cláudio como candidato ao Governo, após votação em que ele obteve 55 votos dos dirigentes partidários, contra 29 de Izolda. Mauro Filho e Evandro Leitão, naquela ocasião, já haviam se retirado da disputa interna.

A convenção pedetista, realizada no dia 24 de julho, foi tão marcada por ausências quanto pelo discurso áspero de Ciro Gomes, que atraiu para si todas as atenções. Sem Cid Gomes e Izolda Cela no palanque, Ciro ativou o modo “pistola”. A mira tinha endereço certo: Camilo Santana. Mesmo sem citar o nome do ex-governador, a cada palavra pronunciada ficava evidente o destino do forte arsenal.

“O nosso povo não tem culpa da vaidade e da prepotência de lideranças que, uma vez construídas nessa luta e ao redor desse projeto, agora servem por uma ninharia, por um punhado de nada ou um carguinho de ministro e desertam da humildade e da luta do povo”, disparou. Dias antes, Ciro já havia falado que Lula teria oferecido um ministério a Camilo, caso vitorioso para presidente, para o afastar do PDT.

Depois do pesado ataque, o ex-governador não demorou muito para revidar. Embarcou para São Paulo poucas horas após o evento do PDT. Na capital paulista, ele se reuniu com Lula e depois de uma longa conversa anunciou o deputado Elmano Freitas como o candidato do PT ao Governo. Estava ali sacramentada a ruptura da aliança que ocupou o centro do poder cearense por 16 anos consecutivos.

Ao divulgar o nome do candidato, Camilo também partiu para o ataque. “Contra o ódio, a intolerância e a mentira”, escreveu o ex-governador no Twitter. Embora não tenha deixado claro a quem as palavras se dirigiam, o pronunciamento traçou definitivamente a linha divisória entre os blocos petistas e pedetistas na disputa ao Abolição.

Com a definição das candidaturas, Izolda decidiu desembarcar do seu partido no dia 26 de julho. "Diante desta nova realidade, e respeitando as decisões tomadas, anuncio o meu pedido de desfiliação do PDT", informou a governadora por meio das redes sociais, ao que ainda complementou: "Poderíamos já estar todos unidos contra o fascismo, a intolerância e o ódio. Defendi isso desde o início, juntamente com Cid, Camilo e tantos outros".

Na mesma semana da desfiliação de Izolda Cela, Elmano foi oficializado candidato ao governo em evento realizado no Centro de Convenções, em Fortaleza, com a presença de Luiz Inácio Lula da Silva e da presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann.

Camilo Santana também foi um dos protagonistas. No discurso, fez elogios a Izolda e agradecimentos ao senador Cid Gomes. “Ninguém vai me separar dele, jamais. Ninguém me separa da minha amizade e gratidão a esse cearense que tanto fez pelo Ceará”, disse Camilo.

A ausência de Cid nos acontecimentos que resultaram no fim da aliança foi um dos destaques da pré-campanha cearense. O senador não participou da escolha do candidato pedetista, tarefa avocada pelo irmão Ciro. O afastamento refletiu a divisão interna do partido quanto ao nome que seria indicado para a disputa. Até o momento em que esta matéria foi escrita, Cid ainda não havia se pronunciado publicamente sobre o assunto.

O irmão Ivo Gomes, prefeito de Sobral, foi quem expôs a suposta preferência do senador. De acordo com ele, Cid concordava com Camilo sobre a candidatura de Izolda, por isso teria submergido após RC ser o indicado. Indo além, Ivo ainda disse que “simplesmente não existe” apoio do senador à candidatura de RC. Também afirmou que o PDT “ignorou e alijou” Cid do processo de escolha do nome.

O cenário ficou quase definido no dia 5 de agosto, fim do prazo, após Capitão Wagner ser oficialmente indicado pelo União Brasil como candidato a governador. Ele terá como vice o ex-deputado federal Raimundo Gomes de Matos, do PL, um dos sete partidos que compõem sua coligação (Podemos, Avante, PL, Republicanos, PTB e União Brasil).

A vice de Elmano é a ex-secretária executiva de Esporte, Jade Romero, do MDB. Foi uma indicação direta do ex-senador Eunício Oliveira, que preside a sigla no Ceará. Jade, no entanto, não era a primeira opção do partido. Ela já foi definida após o prazo final. Antes dela, o nome apresentado foi o da fisioterapeuta Renata Almeida, que desistiu da disputa. Nas redes sociais, ela explicou que abriu mão da vaga por ter sido vítima de ataques à sua honra e à de sua família nas redes sociais.

Após o encerramento das negociações para a formação das coligações, o candidato com mais partidos a apoiá-lo foi Roberto Cláudio, com 10 adesões, além do próprio PDT. Ele reúne PSDB, Cidadania, PMB, Patriota, Agir, PMB, PSB, PSC, DC e PSD — este último, partido do seu candidato a vice, Domingos Filho. Porém, o apoio do PCDB e do Cidadania é objeto de divergências internas e foi suspenso pela Justiça.

Elmano vem na sequência, com nove legendas aliadas. Estão ao lado do candidato do PT o PP, MDB, PRTB, Psol, Rede, Solidariedade, Pros, PCdoB e o PV.

Outros três partidos lançaram candidaturas isoladas ao Governo do Estado: Chico Malta (PCB), Serley Leal (UP), e Zé Batista (PSTU).

Com informações portal O Povo Online

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