17 de agosto de 2025

O sinuoso caminho de Ciro até a urna, por Guálter George

Ciro acusou "poderosos" de estarem tentando "comprar" o PDT para barrar sua candidatura ao governo do Ceará (Foto: Jonne Roriz)

A história que se tenta emplacar é a seguinte: está tudo acertado, Ciro Gomes troca o PDT pelo PSDB nos próximos dias e dali já sai pré-candidato ao Governo do Ceará. Hipótese que, se confirmada, tem potencial para impor mudanças importantes na estratégia traçada pelo grupo do outro lado que tem como projeto para 2026 se manter no poder, à frente o PT e Elmano de Freitas, provável candidato à reeleição. Muito especialmente diante do efeito paralisante que poderia ter sobre um aliado fundamental, o senador Cid Gomes (PSB), que é irmão dele.

A questão, do ponto de vista a partir do qual a coluna observa o cenário, ouvindo gente integrada ao contexto das decisões, é que a ideia ainda apresenta obstáculos importantes. Longe de significar que a candidatura dele deve ser descartada, há uma resistência pessoal, que até se apresenta menos intensa nos últimos dias, para que o próprio se convença. O que tem mantido o otimismo dos apoiadores mais entusiasmados da tese é o fato de, desde o início, os sinais de recusa da missão nunca apresentaram a ênfase suficiente para dá-la como descartada. Mais recentemente, pode-se inclusive dizer que vão no sentido contrário.

A situação descrita acima diz respeito àquilo que se pode definir como barreira interna, no âmbito do ambiente tucano e na relação direta com seu novo (futuro) filiado. Em tese, é um problema do PSDB o esforço inicial de convencer Ciro de que conviria dar uns passos atrás em sua carreira pública, há cerca de três décadas focada no cenário nacional, e voltar a atuar como um político do Ceará, preocupado com seus problemas e disposto a resolvê-los. O chip vai precisar de uma reprogramação.

Resolvida a questão no âmbito partidário, se ela for, haverá necessidade de discutir mais a fundo o projeto de candidatura numa perspectiva de frente oposicionista. Quais limites Ciro Gomes estaria disposto a respeitar em nome de uma aliança que, necessariamente, envolveria gente da qual ele tem divergido nos últimos anos da maneira visceral? Ciro aceitará os bolsonaristas do jeito que eles são? Os bolsonaristas aceitarão Ciro do jeito que ele é?

Haverá necessidade de identificar o ponto até onde vai a capacidade de cada lado de ceder para atender o objetivo comum alardeado de "salvar o Ceará de uma tragédia". Exercício que ainda exigirá uma DR poderosa para limpar o passado de tanta poluição política e desacertos radicalizados para, vislumbrando o futuro, acomodar no mesmo palanque Ciro Gomes, Jair Bolsonaro, Tasso Jereissati, André Fernandes, Roberto Cláudio, Capitão Wagner, Eduardo Girão e outras figuras políticas com trajetórias recentes marcadas por muita troca de pancada. No sentido verborrágico do termo.

Finalmente, resolvidas todas as pendências políticas anteriores se chega à etapa mais importante, que diz respeito ao convencimento direto do eleitor, único dono do voto, de que uma razão mais nobre justificará tudo que tiver sido acertado nas conversas de cúpulas e de bastidores. É de se imaginar, na forma como a coisa está desenhada, que alguém acostumado a votar naquele Ciro Gomes de sempre estranhará ao vê-lo ao lado de figuras que antes ele demonizava no seu estilo definitivo. E, vice-versa, o eleitor de Bolsonaro terá razões para, de início, pedir explicações melhores antes de embarcar numa aventura eleitoral sob comando de um político tão fortemente adversário até outro dia.

Não seria coisa inédita na história política cearense e brasileira, basta olhar para o palanque que os adversários montam para entender que impossível não é, mas vai exigir concessões fortes que não parece muito claro que exista disposição para fazer de parte a parte. Pelos perfis envolvidos pode-se dizer que há um caminho longo a percorrer nesse sentido.

“Compra do PDT”

O presidente estadual do PDT, o deputado federal André Figueiredo, reagiu após as falas do ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) de que haveria uma tentativa de "comprar" a sigla brizolista para evitar uma candidatura ao Governo do Ceará em 2026. Ciro esteve presente na sexta-feira, 15, no aniversário do ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio (sem partido), quando deu sinais de que poderia disputar, embora não crave que tenha planos de deixar o PDT.

"O PDT tem história de coerência ideológica. Nunca esteve e nunca estará à venda. Nossa luta vem do trabalhismo, vem de Brizola", apontou ao O POVO. Ele acrescentou ainda que: "Não entraremos em qualquer tipo de provocação". André e Ciro não se falam desde o segundo turno das eleições de 2024, como o deputado já havia comentado anteriormente.

Nas filas trabalhistas, Ciro acusou "poderosos" estariam tentando "comprar" o PDT para barrar uma candidatura dele para disputar o Palácio da Abolição. "Na hora que se cogita uma possível candidatura minha para governador do Estado, com relativa e generosa menção das pessoas de que eu teria condição de fazer essa disputa de forma competitiva, o que que estão fazendo os poderosos do Ceará? Tentando comprar o meu partido", disse durante o aniversário de seu aliado Roberto Cláudio.

"Para quê? Para me tirar o meu direito de ser candidato e, então, portanto, o direito do povo de escolher. Isto também é muito grave", disse ainda Ciro. Antes de encerrar, o ex-ministro completou: "Eu sou homem de luta. Eu só quero informar a esses donos do poder que eu sou homem de luta e eles podem me derrotar, mas será na luta".As falas acontecem diante de dois movimentos da política cearense: uma reaproximação do PDT com o bloco governista e a consolidação da oposição em um projeto anti-PT para 2026.

Após 2022, a sigla vem passando por inconsistências que levaram, inclusive, à desfiliação de membros que buscaram manter a aproximação com o PT no Estado. Após a debandada, o partido chegou a ter tempos de calmaria, com a maioria dos filiados atuando na oposição. No entanto, na eleição de 2024, veio outra divergência: parte do partido apoiou Evandro Leitão (PT) e outra declarou apoio a André Fernandes (PL) na disputa pela Prefeitura de Fortaleza.

Após o pleito, PDT de Fortaleza quis aderir ao projeto petista e vem em trajetória de reaproximação, também discutida, posteriormente, em âmbito estadual. Apesar disso, os deputados estaduais do PDT seguem defendendo posições de oposição e uma candidatura do mesmo campo. Ciro é cotado para deixar as linhas trabalhistas e retornar ao PSDB para disputar a eleição. Tucanos dão como certa essa movimentação. O presidente nacional do partido, Carlos Lupi, veio ao Ceará na última quinta-feira, 14, e conversou com Ciro de forma privada. O conteúdo do diálogo não foi comentado com aliados.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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