Lula rebateu Trump taxando-o de mentiroso (Foto: Reprodução/Instagram)
Com os produtos brasileiros chegando mais caros aos lares e empresas dos Estados Unidos desde a semana passada, o presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a atacar o Brasil, nesta quinta-feira, em uma entrevista na Casa Branca. A retórica foi a mesma que usou quando anunciou o tarifaço: disse que a relação entre os dois países ficou prejudicial para os EUA. "O Brasil tem sido um péssimo parceiro comercial em termos de tarifas. Como vocês sabem, eles nos cobram tarifas enormes, muito maiores do que as que cobramos, e basicamente nem estávamos cobrando nada", argumentou o republicano. Horas depois, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de mentira a declaração do chefe de Estado americano.
Trump havia sido questionado sobre as tarifas aplicadas aos países da América Latina e a respeito da possível aproximação deles com a China. Ele se disse despreocupado e citou o Brasil como um dos "piores países" do mundo para fazer negócios.
"Eles (referindo-se ao Brasil) nos trataram muito mal como parceiros comerciais por muitos e muitos anos, um dos piores. Um dos piores países da Terra para isso. Eles cobram tarifas enormes e tornaram muito difícil fazer qualquer coisa", frisou. "Agora eles estão sendo cobrados em 50% (nas tarifas), não estão felizes, mas é como a coisa funciona", acrescentou. As declarações de Trump ocorreram menos de 10 dias depois de a chantagem tarifária do republicano contra o Brasil entrar em vigor.
Mais tarde, Lula rebateu o desafeto: "É mentira quando o presidente norte-americano diz que o Brasil é um mau parceiro comercial. O Brasil é bom, só não vai ficar de joelho para o governo americano", enfatizou, durante evento no município de Goiana, em Pernambuco. "O Trump fez uma insensatez com o Brasil porque nós somos parceiros americanos há 201 anos. Não é de hoje, são 201 anos de relação diplomática."
Trump também aproveitou para defender o ex-presidente Jair Bolsonaro, a quem chamou de um "homem honesto". "O Brasil tem algumas leis acontecendo, quando eles pegam um presidente e o colocam na prisão, ou estão tentando prendê-lo. Eu vou dizer a vocês: eu sou muito bom com as pessoas, e eu acho que ele é um homem honesto."
O chefe de Estado americano disse ser "terrível" o tratamento dispensado ao ex-presidente, que está em prisão domiciliar aguardando ser julgado por liderar uma tentativa de golpe de Estado. "Acho que estão tentando fazer uma execução política com Bolsonaro. Acho que é terrível", completou.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) — que articulou, nos últimos seis meses, contra autoridades brasileiras nos Estados Unidos para tentar beneficiar o pai — comentou as falas de Trump. "Agora imagine se Jair Bolsonaro for condenado. Qual seria a reação do presidente Donald Trump? O mundo todo está vendo um juiz ativista, Alexandre de Moraes, tentando fazer o que ele não consegue nas urnas: derrubar o maior líder político da América Latina", pontuou.
Nas urnas, no entanto, Bolsonaro foi derrotado em 2022, e se depender da Justiça, não aparecerá nelas ao menos até 2034, quando poderia voltar a concorrer a um cargo eletivo, caso não seja condenado pela tentativa de golpe, já que foi declarado inelegível em dois processos no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2023.
Na última terça-feira, a gestão Trump havia divulgado um relatório abordando a situação dos direitos humanos no Brasil. O relatório, que cita poucas fontes e reproduz desinformação, encaixa-se na narrativa bolsonarista de que as instituições brasileiras, especialmente o Judiciário, estariam atacando a liberdade de expressão da direita no Brasil.
Violência
O documento citou o bloqueio de acesso de usuários a redes sociais, a restrição a conteúdos antidemocráticos e a "supressão desproporcional" da liberdade de expressão de de Bolsonaro. Também abordou casos de violência no Brasil, desrespeito a leis trabalhistas e outras questões estruturais.
O relatório diz que a Constituição brasileira impede prisões arbitrárias e o direito à defesa, mas argumentou que esses princípios foram desrespeitados com os presos do 8 de Janeiro. A argumentação segue a mesma linha adotada por deputados e senadores de oposição que pressionam a cúpula do Congresso desde 2024 pela aprovação de uma anistia aos golpistas que depredaram os prédios dos Três Poderes pedindo um golpe de Estado.
"Figuras políticas e grupos de direitos humanos alegaram que o governo manteve centenas de indivíduos acusados de participação nos protestos que levaram à invasão dos prédios governamentais em 8 de janeiro de 2023, detidos por vários meses sem apresentação de denúncias", diz o relatório. O governo norte-americano também reproduziu a falsa alegação de que os presos pelo 8 de Janeiro foram "privados de acesso a advogados". Não citou, no entanto, as fontes utilizadas para sustentar as afirmações.
Segundo
o Supremo Tribunal Federal (STF), dos 1,4 mil presos do 8 de Janeiro, 141
permaneciam na cadeia e outros 44 estavam em prisão domiciliar até a última
terça-feira. Ao menos 112 já foram condenados por crimes relacionados às
invasões. Há, ainda, 29 em prisão preventiva aguardando julgamento.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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