7 de janeiro de 2024

8 de Janeiro: O cenário um ano depois da intentona golpista

A equipe do O POVO ouviu especialistas sobre o que mudou de janeiro de 2023 para cá (Foto: Sergio Lima)

Os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro completarão exatamente um ano amanhã, segunda-feira. Além de danos aos patrimônios físico e cultural nos prédios do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), os atos criminosos contra os Três Poderes, em Brasília, deixaram marcas na história do País e dúvidas pairando no ar.

Das mais de duas mil pessoas detidas por envolvimento nos atos golpistas, 66 continuam presas atualmente. Destas, pelo menos oito já foram condenados pelo STF. Para lembrar a data, eventos estão previstos para esta semana, numa demonstração de rechaço ao golpismo. Na programação, está previsto ato com a presença de chefes dos Três Poderes.

Intitulado “Democracia Inabalada”, o evento deve ser breve, com meia dúzia de discursos e a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), de parte dos governadores, de deputados e senadores, dentre eles os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado. Rodrigo Pacheco (PSD-MG), além do presidente do STF, Luís Roberto Barroso, e demais membros do alto escalão do Judiciário.

O POVO ouviu especialistas sobre o que mudou de janeiro de 2023 para cá, considerando as respostas das instituições e os desafios que podem aparecer no horizonte.

Rodrigo Prando, cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), avalia que os ataques geraram um novo patamar e classifica o ocorrido como algo planejado.

“Foi um ataque orquestrado durante anos, conjugando fake news, pós-verdade, negacionismo e teoria da conspiração. O dia 8 foi uma mudança de chave, saindo do campo do discurso e indo para o campo da prática”, diz o professor, acrescentando que após o início de ano conturbado, com a sombra do golpismo, houve reação institucional.

Ainda que com críticas, Prando destaca a reação de duas frentes institucionais. “O STF, que pese muitas vezes tem certos exageros na atuação, com decisões monocráticas ou mesmo a superexposição dos ministros que se colocam no debate político de maneira indevida, mas que no momento da ação golpista foi quem manteve a força dentro dos limites legais. E a CPMI (comissão parlamentar), que produziu um relatório para trazer à tona não apenas o 8 de janeiro, mas um preâmbulo de tudo aquilo que anos de fake news fizeram”, pontua.

Ele reforça que apesar do 8 de janeiro o ano de 2023 terminou “com certa normalidade”. No sentido de que embora o governo Lula não tenha uma base de apoio firme e que varia de acordo com a pauta, consegue dialogar com campos opostos.

“A aprovação da Reforma Tributária mostra isso. O dia 8 é uma marca simbólica para a sociedade e um ano depois as instituições buscam tirar a ideia de que foi um ‘ataque de patriotas’, mas lembrar a data como um dia em que as instituições, ainda que fragilizadas, sobreviveram”, comenta.

Paula Vieira, cientista política e professora da Unichristus, avalia que as instituições têm cumprido seu papel. A professora projeta que a data servirá para relembrar que há consequências a desejos e práticas golpistas. “No momento imediato, houve demonstração de força das instituições. Mas ao longo do ano, elas vêm dando encaminhamento às consequências decorrentes do ato. Dando continuidade aos procedimentos, como se estivessem dizendo, que o Estado Democrático de Direito está funcionando”, argumenta.

Vieira cita, inclusive, a indicação do ministro Flávio Dino para o STF como parte dessa reação. Dino era o ministro recém-empossado à frente da Segurança quando os golpistas atacaram. Para a professora, a indicação do ministro para o Supremo, além de considerar critérios políticos e técnicos, também é “uma demonstração e uma resposta aos atos”.

Especialistas ouvidos pela reportagem não descartam novas intentonas golpistas. “Ameaças estão presentes no Brasil e no mundo. O Brasil tem uma cultura política autoritária, que valoriza o discurso populista, um discurso simplificador que divide entre o povo e as elites. Esse discurso ganha força muitas vezes nos discursos de Bolsonaro e de Lula. Insisto num quadrilátero de fake news, teoria da conspiração, pós-verdade e negacionismo. Essas questões estão latentes e precisam ser observadas”, alerta Prando.

Paula projeta que os representantes das instituições podem reagir, inclusive, com declarações relevantes no evento desta segunda-feira, 8. “Algo vai ser dito, falado ou até mesmo encaminhado, no sentido de prevenção. Acontecer (de novo) sempre pode, mas, em termos políticos, estamos num momento em que as coalizões estão funcionando. Quando ocorre algum diálogo, a tendência é que a possibilidade de golpismo diminua”.

Sobre o decorrer deste ano, a cientista política diz que não percebe, institucionalmente, um interesse de novos acenos a grupos golpistas. “A tendência é de que não haja tanta repercussão ao longo deste ano porque as pautas serão mais municipais. Como é ano eleitoral, a tendência é que se deixe o jogo eleitoral acontecer. O bolsonarismo fez a estratégia de dar um passo para trás para avançar. Continuam tendo palanques, mas como estamos no período de formação para as eleições, a tendência é que se concentre nisso”. 

Com informações portal O Povo +

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