1 de janeiro de 2024

"Ainda há muito ódio no ar", afirma presidente do STF

Para o presidente do STF, Luís Roberto Barroso o "golpismo possivelmente foi sepultado", mas que é preciso "desarmar os espíritos" (Foto: Fellipe Sampaio)

Quase um ano depois dos ataques de 8 de janeiro, os Três Poderes ainda calculam os prejuízos e a Polícia Federal conduz investigações da Operação Lesa Pátria, que se tornou permanente, ou seja, aberta enquanto o caso não for totalmente elucidado.

Em balanço atualizado, o Supremo Tribunal Federal (STF), local mais atingido pelos extremistas, contabiliza R$ 12 milhões em prejuízos patrimoniais, lamenta esculturas históricas perdidas e encabeça a reação aos ataques. A Corte abriu mais de 1,3 mil processos contra os acusados, condenou 30 pessoas e avalia a situação de outras 1.121.

O Supremo foi invadido após o Congresso e quase ao mesmo tempo do Palácio do Planalto. No entanto, os ataques foram ainda mais violentos, com vidraças estilhaçadas com paralelepípedos retirados do chão da Praça dos Três Poderes e obras históricas e artísticas imensuráveis roubadas, destruídas e danificadas.

O plenário, também histórico, teve o revestimento destruído, cadeiras lançadas para fora do prédio e instalações hidráulicas e elétricas completamente danificadas durante os atentados.

No prédio, havia, no momento dos atos golpistas, alguns seguranças terceirizados, sem armamento letal ou itens de contenção de multidões, e homens da Polícia Judicial. Os estragos no edifício-sede foram quase completos. Com exceção do museu, no subsolo, onde está um exemplar original da Constituição. A descida dos extremistas ao museu foi travada por forças de segurança. No subsolo, seria possível também chegar até os gabinetes dos ministros — onde estavam, inclusive, processos físicos em segredo de Justiça, mas protegidos dentro de cofres.

Ao Correio, quase um ano depois do chamado "dia da infâmia" — termo usado pela ministra aposentada Rosa Weber, então presidente do Supremo —, o atual comandante da Corte, Luís Roberto Barroso, afirma que a democracia venceu e "resistiu ao golpe".

Ele lamenta pela violência do 8 de janeiro e destaca que "ainda há muito ódio no ar", em uma expressão que ressalta a necessidade de manter a vigilância constante por conta de arroubos autoritários.

"Os episódios de 8 de janeiro foram o ponto culminante de um processo cumulativo de desrespeito às instituições, ofensa a seus integrantes e desapreço pela democracia. Mas a Justiça é muito mais do que um prédio, e demos a volta por cima", enfatiza. "E, curiosamente, a indignação da sociedade e a imediata reconstrução do Supremo acabaram transformando o episódio numa prova de vitalidade democrática."

Segundo o magistrado, "no lamentável episódio de 8 de janeiro, o golpismo foi possivelmente sepultado". "Mas ainda há muito ódio no ar. Precisamos desarmar os espíritos e trabalhar pela pacificação do Brasil", destaca Barroso.

Conivência

Durante a permanência dos bolsonaristas em frente ao QG, o Exército nada fez para retirá-los. Ao contrário, acompanhou a mobilização dos inconformados com o resultados das urnas. Logo no início de novembro de 2022, os militares permitiram que dezenas desses caminhões, com faixas defendendo o golpe e com inscrições como "Socorro, Forças Armadas", ficassem estacionados numa área exclusivamente militar. Uma das fotos, de 12 de novembro, exibe ainda uma caminhonete com o símbolo do Exército protegendo a cancela, fechada, em frente à área onde estavam os veículos.

Nos últimos dias, depoimentos nas investigações e nas Comissões Parlamentares de Inquéritos (CPIs) — até de oficiais e de bolsonaristas — confirmam que os militares nada fizeram para desmontar o acampamento do QG, que redundou em atos como a tentativa de invasão na Polícia Federal e o plano de explodir uma bomba no Aeroporto Internacional de Brasília, ambos em dezembro. A derradeira e mais ousada ação se deu com a invasão dos três prédios dos poderes centrais do país.

Com informações portal Correio Braziliense

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