15 de janeiro de 2024

O que está em jogo nos maiores municípios do Ceará

Vitor Valim (PSB), Gledson Bezerra (Podemos), Roberto Pessoa (União Brasil), Ivo Gomes (PDT) e Felipe Pinheiro (PT) administra os cinco maiores municípios do Ceará (Foto: Reprodução/Google)

Muito das energias e atenções dos políticos e do público sobre as eleições municipais no Ceará são dedicadas às eleições em Fortaleza. Mas, o equilíbrio do poder estadual não se sustenta apenas, nem mesmo majoritariamente na Capital. As hegemonias ou mesmo os espaços realmente competitivos do jogo de poder estadual dependem do Interior.

Os pequenos municípios dão a musculatura de qualquer projeto com pretensões além do poder regionalizado. O esqueleto depende em boa medida de um cinturão de municípios mais populosos: Caucaia, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Sobral e, em pouco menor medida, Itapipoca.

O segundo maior município do Estado, o maior do sul cearense — e do Interior —, o maior PIB depois de Fortaleza, o maior da zona norte e, fechando a lista dos cinco mais populosos após a Capital, o município do litoral oeste.

Os cinco municípios somam 1.210.337 de habitantes. Somados a Fortaleza, os seis municípios reúnem mais de 40% da população do Ceará. Além do tamanho da população governada, do poder político e da influência daí decorrentes, o contingente é determinante na fatia recebida do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Os recursos são, em muitos casos, a maior parte do dinheiro de que dispõem as gestões municipais.

O Governo Federal é obrigado a transferir para os municípios 22,5% dos recursos arrecadados pelo Imposto de Renda (IR) e pelo Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). O Tribunal de Contas da União (TCU) utiliza justamente os números populacionais para definir os valores repassados aos municípios.

Com exceção de Itapipoca, todos os maiores municípios em população, e eleitores, também integraram a lista de maiores Produtos Internos Brutos municipais. A ordem é Maracanaú (6,33%), Caucaia (5,34%), São Gonçalo do Amarante (4,43%), Sobral (2,77%) e Juazeiro do Norte (2,62%). Os números dizem respeito à participação de cada cidade no PIB do Estado, conforme dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) de dezembro de 2023.

A grande população também atrai interesse de deputados. Os parlamentares priorizam as bases eleitorais ao enviarem emendas ao orçamento — quanto mais eleitores, maior a atenção dispensada pelos congressistas.

Em 2020, a oposição estadual foi a grande vitoriosa nesses municípios. Elegeu prefeitos em Caucaia, Juazeiro do Norte e Maracanaú, apesar da derrota em Fortaleza. Hoje, os três prefeitos oposicionistas se aproximaram do poder estadual, embora as sucessões estejam em aberto. E o prefeito da Capital rompeu com o governador.

Sem Valim, disputa em Caucaia se transforma em dúvidas

O prefeito Vitor Valim anunciou que não disputará a reeleição em Caucaia (Foto: Reprodução/Google)

O anúncio do atual prefeito de Caucaia, Vitor Valim (PSB), de que não irá tentar a reeleição também causou surpresa diante da expectativa de uma candidatura forte do gestor. Eleito pela oposição e com guinada brusca ao governismo, Valim se filiou, no ano passado, ao PSB, na asa de Eudoro Santana, e recebeu acenos do governador Elmano de Freitas (PT) e do ministro Camilo Santana (PT), apesar do impasse com o PT municipal de Caucaia, que defendia lançar candidatura própria.

Valim justificou a desistência como uma decisão "pessoal e familiar" após a morte da filha mais velha, Sofia Valim. A jovem morreu em dezembro do ano passado aos 19 anos após precisar de um transplante de fígado. "O fato de não ir para a reeleição foi uma decisão pessoal e ao mesmo tempo familiar. A perda da minha amada filha Sofia me fez repensar minha vida", disse o prefeito". Valim contava ainda com a maioria esmagadora da Câmara Municipal, são 22 dos 23.

Sua ausência no pleito abre uma vaga importante no segundo maior colégio eleitoral do Estado e o único, além de Fortaleza, que pode ter segundo turno. Os nomes ventilados para ser o sucessor de Valim são vários, como citados por aliados do prefeito: o secretário de Desenvolvimento do Ceará, Salmito Filho (PDT); a deputada estadual Lia Gomes (PDT), irmã do senador Cid Gomes (PDT); e até a secretaria de Proteção Social, Onélia Santana (esposa de Camilo), e a ex- governadora Izolda Cela (sem partido).

Salmito e Lia tentam se desfiliar do PDT com futuro, possivelmente no PSB. Isso porque, após o anúncio de Valim, o PDT iniciou movimentação no município. O ex-prefeito Zé Gerardo Arruda, de família tradicional de Caucaia, anunciou filiação ao partido com intenção de voltar a ser candidato. As últimas pretensões eleitorais foram barradas pela Justiça. Zé Gerardo foi, quando deputado federal, o primeiro parlamentar na história condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Na direita, a avaliação é que a ausência de Valim deixa um espaço no eleitorado com a possibilidade de ser aproveitada por novos nomes. É o que acredita o presidente do PL no Ceará, o deputado Carmelo Neto. A sigla iniciou série de encontros para aproximar os moradores de Coronel Aginaldo, pré-candidato do partido no município.

"Quando o prefeito que está no cargo não vai para a reeleição, isso divide parte do eleitorado. Isso com certeza abre um campo. Caucaia de fato precisa de uma liderança nova", ressaltou. Ele também deixou em aberto um possível acordo com o União Brasil, que também tem pré-candidato, o vice-prefeito Deuzinho Filho.

O prefeito e o vice vivem em pé de guerra desde 2022, quando Valim escolheu apoiar nomes petistas para o Governo do Ceará, Senado e Presidência. Enquanto isso, Deuzinho seguiu com nomes da direita. Entre acusações que vão desde de uso indevido de recursos a expulsão de gabinete, os dois romperam relação política e são abertamente adversários.

A movimentação conta ainda com a pré-candidatura da deputada Emília Pessoa pelo PSDB. Ex-vereadora, ela já tentou a prefeitura em 2020 e ficou na terceira posição. Deve haver espaço ainda para um nome indicado pelo PSD, sendo cotados ou o ex-prefeito Naumi Amorim, derrotado no segundo turno justamente por Valim, ou sua esposa.

Prefeito tenta quebrar escrita em Juazeiro do Norte

Gledson Bezerra tentará ser o primeiro prefeito reeleito em Juazeiro do Norte (Foto: Reprodução/Google)

Em Juazeiro do Norte, maior município do Interior do Ceará, nunca um prefeito conseguiu se reeleger, fato que o atual gestor Glêdson Bezerra (Podemos) quer deixar no passado. Ele confirmou que deve tentar reeleição em outubro.

Conhecida nacionalmente pelo turismo religioso, é justamente uma crença popular ligada ao Padre Cícero que impede a façanha de conseguir um segundo mandato. Corre pelo município que o próprio "Padim" — fundador e prefeito por mais de uma década — teria dito que ninguém seria reeleito no Município. Coincidência ou profecia, ninguém até o momento conseguiu ir para o segundo mandato consecutivo, desde que houve a possibilidade, em 1997.

Até que houve quem ocupasse duas vezes a cadeira de prefeito, caso de Raimundo Macedo, o Raimundão, de 2005 a 2008, e depois de 2013 a 2016. Entretanto, entre uma gestão e outra, governou Manoel Santana (PT), derrotado justamente por Raimundão na tentativa de reeleição em 2012. Nem apoio de grandes caciques, como o senador Cid Gomes (PDT) e o à época governador Camilo Santana (PT), conseguiu dar um segundo mandato seguido a Arnon Bezerra (antes no PTB, hoje no PDT), em 2020.

Glêdson foi eleito em 2020 como uma das estrelas da oposição. Venceu numa costura ligada a nomes conservadores, como o do senador Eduardo Girão (hoje no Novo). O Podemos, no entanto, deu uma guinada ao governismo quando Bismarck Maia, prefeito de Aracati, assumiu a presidência do partido no Ceará.

Houve rumores que o prefeito deixaria o grupo, mas a movimentação não foi confirmada até o momento, com ele, inclusive assumindo cargo de primeiro vice-presidente. O prefeito também terá que remontar sua chapa, já que o vice-prefeito, Giovanni Sampaio (PSB), se colocou como pré-candidato. "A minha chapa será a de Camilo e Elmano, inclusive, estando meu nome pelo PSB à disposição para a disputa", disse o vice em outubro do ano passado.

O próprio Glêdson fez acenos ao governismo. Apoiou Camilo a senador em 2022, ao mesmo tempo em que votou em Capitão Wagner (União Brasil) para governador e Jair Bolsonaro (PL) para presidente. Tem feito críticas ao governador Elmano de Freitas (PT).

O vice-presidente da Assembleia Legislativa, Fernando Santana (PT), é cotado para concorrer. Glêdson o apoiou em 2022 e tem dito que havia firmado acordo para que o parlamentar retribuísse o apoio à sua reeleição. Não é que vem acontecendo.

Mesmo não confirmando a pré-candidatura, o petista troca farpas públicas com o prefeito. Uma das questões foram obras públicas no Município com recursos estaduais. O prefeito questionou a demora na liberação de valores. Fernando saiu em defesa do governador.

"O prefeito de Juazeiro ataca o governo do governador Elmano e o ex-governador Camilo. Não adianta o prefeito querer se esconder atrás de ataques. O prefeito não consegue organizar a Prefeitura e fica querendo jogar a responsabilidade em nós, essa é a verdade", disse o deputado.

O deputado também tem mobilizado reuniões com líderes no Município. No encontro mais recente, três ex-prefeitos, deputados e presidente da Câmara Municipal estiveram presentes.

Em Maracanaú, Roberto Pessoa tem hegemonia de 20 anos e agora próximo ao governo

Roberto Pessoa foi eleito na oposição, mas aderiu ao governo petista (Foto: Reprodução/Google)

Há décadas como segunda maior economia do Estado e polo industrial, Maracanaú tem visto a disputa pela Prefeitura se acirrar. Roberto Pessoa (União Brasil) é um forte nome a ser batido, líder do grupo que está gerindo a cidade desde 2005. Ele colocou seu nome à disposição do partido para tentar a reeleição e buscar o quarto mandato. O prefeito assumiu de 2005 a 2013.

Em 2012, fez o sucessor na prefeitura de Maracanaú: Firmo Camurça, hoje deputado estadual pelo União Brasil. Camurça foi reeleito em 2016, com Pessoa na vice. O grupo do atual prefeito também teve um bom desempenho no último pleito. A filha, Fernanda Pessoa (União Brasil) foi eleita como a deputada federal mais votada no Município, com mais de 27 mil votos. Camurça foi o deputado estadual mais votado pelos maracanauenses.

O prefeito, eleito como oposição, aproximou-se do atual governador Elmano de Freitas e é apoiado pelo PT de Maracanaú, que, inclusive, faz parte da gestão municipal. Nailton Marques é secretário de Juventude e Lazer, sendo também membro da Executiva Estadual petista. Já foi vice-presidente municipal por uma gestão. A Câmara Municipal é composta por 21 vereadores, sendo 19 declaradamente parte da base de apoio.

A adesão de Pessoa à base governista estadual, no entanto, não vem impedindo o deputado Júlio César Filho, o Julinho, de articular e tentar se viabilizar como nome da oposição contra o prefeito. Pré-candidato, ele diz procurar diálogo, não só como diretório municipal, como com outras "forças partidárias", que também demonstraram querer disputar a gestão com Pessoa.

"Estou também como pré-candidato pelo PT no município de Maracanaú. Estamos dialogando com o PT municipal. Outras forças partidárias, que também lançaram suas pré-candidaturas no sentido de unir uma coalizão de oposição, apresentando um nome único viável, no caso, pelo PT, para enfrentar a chapa capitaneada pelo Roberto Pessoa, que já está aí há cerca de 20 anos no poder", disse o deputado.

Outros dois nomes demonstraram interesse no município: Lucinildo Frota (PNM) e Junior Mano (PL). O PL, no entanto, não deve ter acordo com o PT. De ambos os lado, há negativas de que as siglas possam seguir juntas.

Quando circulou um suposto acordo entre Junior Mano e Julinho, o PT de Maracanaú publicou nota declarando que a costura era falsa. "Dessa forma reafirmamos nossa posição e compromisso com as lutas populares em Maracanaú, e repudiamos qualquer tentativa de indivíduos ou grupos políticos que desejam usar nosso partido para benefício próprio", disse o texto.

Sob nova direção, o PL já bateu o martelo sobre não fazer aliança com o PT. "Deixo claro que o PL no Ceará não aceitará nenhum tipo de aliança com o PT", disse o presidente da sigla no Ceará, o deputado estadual Carmelo Neto.

Em Sobral, Família Ferreira Gomes dividida e oposição organizada

Ivo Gomes tem sido reservado na escolha de um nome para sua sucessão (Foto: Reprodução/Google)

Sobral é um dos municípios onde há incertezas. O atual prefeito é o único entre os gestores das maiores cidades do Ceará que não pode tentar reeleição e terá de indicar um sucessor. O próprio prefeito Ivo Gomes está em um limbo partidário, em processo de deixar o PDT para o PSB, ao lado do irmão, senador Cid Gomes.

A disputa passa não por questões partidárias, como familiares. É o reduto dos Ferreira Gomes. O racha entre Ciro Gomes e os irmãos tem impacto maior em Sobral que em qualqier outro lugar. Inicialmente, Ivo defendia que o nome indicado deveria ser escolhido dentro do PDT, mas o jogo mudou com a escalada do racha no partido, que leva à saída do grupo governista.

Cid defende a manutenção da aliança histórica com o PT e aponta Ivo como líder "natural do processo". O prefeito tem sido reservado em comentar sobre o assunto, mas adiantou que o cenário político sobralense deve ter "secretário e vereador", ao mencionar que os candidatos já são cotados agora.

"Ninguém vai cair de paraquedas nessa eleição. Tem secretários, tem vereadores. No entanto, outras lideranças, o Cid que precisa ser ouvido, tem vereadores que precisam ser ouvidos, tem muita gente que precisa ser ouvida", ressaltou em entrevista à Tupinambá FM, no ano passado.

Entre os cotados, o chefe do Gabinete de Ivo, David Duarte. Ele foi assessor parlamentar da Liderança do Governo na Assembleia Legislativa do Ceará e consultor jurídico do PDT. O empresário Lúcio Feijão também chegou a ser ventilado. Nome defendido tem sido o da secretária executiva do Ministério da Educação (MEC), a ex-governadora Izolda Cela (sem partido). Ao O POVO, ela agradeceu as menções, mas disse não ter planos nem para uma futura filiação partidária, nem de ser candidata em 2024.

Na oposição, o cenário é mais encaminhado. O nome deve ficar também em família, ou o deputado federal Moses Rodrigues ou o pai dele, o deputado estadual Oscar Rodrigues, ambos do União Brasil. Pai e filho foram derrotados por Ivo na disputa por Sobral. Moses, em 2016, e Oscar, em 2020.

Presidente do União Brasil, Capitão Wagner, ressaltou o nome dos deputados e ainda de Lara Rodrigues, filha de Oscar e irmã de Moses. "A gente tá conversando com o Moses, tem o nome do Oscar (Rodrigues), tem uma irmã do Moses que é médica, mas com certeza Sobral a gente vai ter uma candidatura forte também", disse no ano passado.

Itapipoca, PT tenta manter o poder em seu maior município no Ceará

Felipe Pinheiro é o único petista entre os maiores municípios e disputará a reeleição (Foto: Reprodução/Google)

Desponta como sexto maior colégio eleitoral do Ceará o município de Itapipoca. O prefeito Felipe Pinheiro (PT) deve ir para a reeleição com apoio da cúpula petista, como de Camilo Santana, Elmano de Freitas e do deputado federal José Guimarães.

O gestor transita na cúpula petista há anos. Foi secretário adjunto do Gabinete do Governador e Assessor Executivo de Realizações Institucionais da Casa Civil no Governo Camilo, em 2018, e superintendente adjunto da Superintendência de Obras Públicas (SOP) em 2019. Também tem relação com o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão.

O prefeito, por meio da assessoria, confirmou que é pré-candidato. "A cidade tem acompanhado as evoluções nesses três anos e esperamos a continuidade desse projeto por uma Itapipoca cada vez melhor", afirmou.

Neste mês, a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV) no município aprovou a pré-candidatura à reeleição. "Tarefa que aceitei com muito entusiasmo na certeza de que estamos no caminho certo", disse ainda.

Poderá ter como adversária a vice. Dra Jocélia, após rompimento com o prefeito, migrou do MDB, pelo qual foi eleita, para PRD, sob a liderança do vereador de Fortaleza, Michel Lins. Ao O POVO, o parlamentar confirmou a intenção de candidatura da vice-prefeita, em busca de eleger "a primeira prefeita de Itapipoca".

Lins articula apoios à candidatura. "Isso não depende só da gente, nem só da Dra Jocélia lá, não só lá como todo o cenário político. Acredito que no mais tardar após o Carnaval as coisas devem estar se encaixando no lugar", disse.

O tucano João Barroso também se movimenta. Ele foi prefeito por dois mandatos, entre 2005 e 2012, e voltou à gestão em 2016, derrotando o candidato petista, Dr. Dagmauro. Em 2020, perdeu para na tentativa de segunda reeleição. Mesmo assim, mais da metade dos vereadores na Câmara Municipal, nove, foi eleita filiada ao PSDB. O PT, partido do atual prefeito, conseguiu apenas dois.

Com informações portal O Povo +

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