29 de março de 2019

Bolsonaro diz que pediu a quartéis para "rememorar 64"


O presidente Jair Bolsonaro disse ontem (28/03) que não pediu para os quartéis comemorarem, e sim "rememorarem", os 55 anos do 31 de março de 1964 - data que marca o início do período ditatorial no Brasil, que durou 21 anos. 

"Não foi comemorar. Rememorar, rever, ver o que está errado, o que está certo. E usar isso para o bem do Brasil no futuro", afirmou ele, na cerimônia de aniversário da Justiça Militar, na qual foi condecorado.

Na segunda-feira passada, Bolsonaro orientou os quartéis a comemorarem a passagem da data. No dia seguinte, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, confirmou que o presidente havia pedido ao Ministério da Defesa que faça as "comemorações devidas" da efeméride.

A mudança de discurso ocorre um dia após o Ministério Público Federal, numa ação coordenada com Procuradorias em 19 Estados, recomendar que unidades militares em todo o País se abstenham de "promover ou tomar parte de qualquer manifestação pública, em ambiente militar ou fardado, em comemoração ou homenagem ao período de exceção instalado a partir do golpe militar de 31 de março de 1964".

Nessa quinta-feira, o Exército encaminhou ofício às unidades militares informando que estão mantidas as comemorações "previamente agendadas". Em caráter "urgentíssimo", o documento do chefe interino do gabinete do comandante do Exército, Francisco Humberto Montenegro Júnior, orienta as autoridades militares que receberam as recomendações a aguardar a conclusão de pareceres jurídicos do Ministério da Defesa para mandar respostas ao MPF.

Militares do Exército fizeram ontem uma comemoração silenciosa, e antecipada, do 31 de março, no Comando Militar do Sudeste, em São Paulo. Houve ordem expressa, no entanto, para que os generais não dessem declarações ou concedessem entrevistas, para evitar que o ato fosse alvo de questionamento judicial. Além disso, houve pedidos para que a imprensa não participasse.

O evento, que durou menos de uma hora, foi aberto com uma declaração do cerimonial de que a se tratava de uma "rememoração do fato histórico". O local escolhido foi a Praça Mário Kozel Filho, soldado morto em 1968 na explosão de um carro-bomba.

Foi lida uma ordem em que as Forças Armadas dizem "reconhecer" o papel da "geração militar" que deu início à ditadura, chamada na comemoração de "revolução democrática". "Só lembramos o fato histórico", disse o deputado estadual capitão Castelo Branco (PSL), que é sobrinho-neto do primeiro presidente do regime militar, o marechal Humberto Castelo Branco. 

Bolsonaro compara ditadura com casamento

O presidente Jair Bolsonaro voltou a comparar o debate sobre o período da ditadura militar e vítimas do regime com o fim de um casamento. Ao falar sobre eventuais excessos no período, Bolsonaro disse que não se deve voltar "naquele assunto do passado, aquele mal-entendido".

"Vamos supor que fôssemos casados, tivéssemos um problema, resolvêssemos nos perdoar lá na frente... É para não voltar naquele assunto do passado, que houve aquele mal entendido entre nós. A Lei da Anistia está aí e valeu para todos", disse Bolsonaro. Ele respondeu a um questionamento sobre a falta de um mea-culpa na ordem do dia das Forças Armadas, que será lida em alusão aos 55 anos da ditadura.

Mais uma ação popular pediu à Justiça que barre a comemoração de 31 de março, ordenada pelo presidente Jair Bolsonaro aos quartéis.

Na terça-feira, 26, um advogado e um defensor público federal pediram que a Presidência se abstivesse de celebrar a data. A juíza federal da 6ª Vara de Brasília, Ivani da Silva Luz, mandou na quarta-feira, 27, intimar Bolsonaro sobre ação popular do advogado Carlos Alexandre Klomphas.

Com informações portal O Povo Online

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