17 de março de 2019

Cine Holliúdy 2: Bom que nem presta

Cine Holliúdy 2 - A Chibata Sideral estreia no Nordeste e no Distrito Federal (Foto: Divulgação)
Pacatuba, Região Metropolitana de Fortaleza, 1980. Ou nas brenhas, pra lá da baixa da égua, no tempo que o King Kong era soim. Perdido após o encerramento das atividades do decadente Cine Holliúdy, que não resistiu aos fascínios dos tubos televisivos, Francisgleydisson (Edmilson Filho) amofinou-se na cachaça ao lado do bêbado Lhé-Gué-Lhe (João Netto) para chorar a má sorte dos artistas no Interior do Ceará. Trocando as pernas, a dupla viveu uma experiência que mais parece história de mentiroso: uma abdução alienígena por um disco voador. 

"É não, macho", desacreditou até mesmo a polícia. Inconformado com os olhares duvidosos, o protagonista decidiu ingressar numa viagem intergaláctica e gravar um filme de ficção científica encenado pelos moradores da cidade. A saga do cinema de vaquinha, produzido e financiado popularmente, é enredo do Cine Holliúdy 2 - A Chibata Sideral. O longa estreia no Nordeste e no Distrito Federal na próxima quinta, 21.

Terceira obra fílmica da trilogia - "involuntária", destaca o diretor cearense Halder Gomes - Cine Holliúdy (2013) e O Shaolin do Sertão (2016), o novo Cine Holliúdy 2 apresenta ao público uma produção amadurecida pela experiência dos realizadores no cinema nacional. 

Em uma narrativa clássica, com mocinhos e vilões bem determinados, o longa retrata a transformação do atormentado Francisgleydisson em um cineasta que precisa conciliar o desejo de trabalhar com audiovisual e a manutenção financeira da família. O comedorzim de rapadura Francin (Ariclenes Barroso) cresceu e, agora, segue o pai nessa empreitada duramente criticada pela esposa Maria das Graças (Miriam Freeland) e a sogra Dona Conceição (Gorete Milagres). Determinado a narrar a mirabolante história de Lampião enfrentando os seres extra-terrestres, Francis aproveita o frenesi da campanha eleitoral e recorre ao patrocínio do prefeito Olegário (Roberto Bomtempo) e da primeira-dama Justina Ambrósio (Samantha Schmütz) para transformar a modesta Pacatuba na estribada Paccawood. Mas a "hollywoodização" não dá lá muito certo e Francis se vê num balaio de gato: como fazer cinema sem dinheiro?

Francisgleydisson, em Cine Holliúdy 2, carrega muito do diretor Halder Gomes. O precursor Cine Holliúdy, à época do seu lançamento, levou quase 500 mil espectadores às salas de cinema e faturou 4,9 milhões de reais - mas, antes, foi rejeitado quatro vezes em editais dos quais participou e ignorado por importantes festivais no País. Furando o eixo de produção Rio-São Paulo, o cearense mantém firme na trama a resistência necessária na produção artística contemporânea. 

"Cinema se resume em um grande esforço de muita gente pra transformar texto em sonho. No caso do Francisgleydisson, o filme completa uma trilogia que fala sobre a influência do cinema de gênero na cultura popular do Nordeste. Agora, a gente vem prestar uma grande homenagem à produção mambembe de cinema no Brasil. As pessoas têm vontade de fazer cinema e não têm recursos, mas o sonho é maior que a dificuldade orçamentária e isso se tornar possível de forma coletiva", partilha Halder. "Cine 2 é uma coisa que não se parece com nada além dele mesmo. Aqui, a comédia é igual a coceira de macaco: não acaba, não", ri-se.

Mais arriscado que o filme de 2013, Cine 2 não perde o ritmo da comédia - o humor moleque promove a identidade cearense da obra do começo ao fim, em um linguajar tão próprio que o recurso das legendas é utilizado para democratizar a compreensão dos diálogos. Mas, como bem destaca o elenco, "mangar" e "frescar" são mesmo ações universais. 

"A gente está criando um laboratório interessante dentro da própria comédia. As pessoas dizem que é difícil encaixar filme de gênero no Brasil, como a própria ficção científica, mas todo mundo em Quixadá diz que já foi abduzido, que viu disco voador, é chibata pra todo lá. Isso já estava dentro do nosso imaginário e foi fácil encontrar essa costura", continua Halder.

Um dos destaques mais positivos do filme, o cantor e humorista Falcão interpreta o personagem Cego Isaías no longa - "cego não! Cinféfilo Isaías. Especialita de Fritz Lang a Stanley Kubrick". Defensor e estudioso do chamado cearensês, o artista celebra iniciativas como Cine 2. "Essa linguagem é uma coisa que eu considero de maior importância para a cultura cearense. Furar esse cerco no cinema e colocar o Cine Holliúdy no circuito foi uma grande vantagem".

Uma coisa é certa: se Cine 2 perdeu a ingenuidade latente do primeiro longa de Halder Gomes, manteve a leveza e a precisão de uma produção que encontrou seu lugar. O resultado não poderia ser mais delicioso. 

"Eu comparo a arte com a comida. Quando a comida é boa, ela vai agradar as pessoas e elas vão voltar e falar sobre. Cine Holliúdy 2 é um prato cheio de qualidade, de referências, de amor, de paixão. É tudo movido pela paixão", encerra Samantha Schmütz.

Cine Holliúdy 2 - A Chibata Sideral - Estreia: 21 de março de 2019
Roteiro: L.G Bayão, Halder Gomes e Edmilson Filho
Direção: Halder Gomes
Produção: Carlos Diegues, Mayra Lucas e Halder Gomes

Com informações portal O Povo Online


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