6 de março de 2023

Cid e o fim dos "Ferreira Gomes", por Cleyton Monte

As últimas entrevistas de Cid Gomes sinalizam novos caminhos (Foto: Jefferson Rudy)

Um grupo político é marcado pelas práticas de unidade, projeto em comum e liderança consolidada. Quando essas colunas desmoronam, o arranjo não faz mais sentido. No Ceará, o grupo político dos Ferreira Gomes foi o mais longevo, justamente por conseguir preservar essas características por muito tempo. O equilíbrio nunca foi fácil, mas os resultados foram muito exitosos.

As últimas entrevistas de Cid Gomes, marcando uma linha de distanciamento do irmão Ciro, além de mirar nos (ex?) aliados Sarto e Roberto Cláudio, sinalizam novos caminhos. A eleição de 2022 foi decisiva para o encerramento desse ciclo. A questão não é apenas familiar. O clã se dividiu e as feridas ficaram expostas.

As falas não partiram de qualquer membro. O ex-governador Cid Gomes foi o grande articulador do grupo. Se reunia com prefeitos e deputados, montava a estratégia e moderava tensões. Foi decisivo na eleição de Camilo Santana. Ciro nunca deixou de se articular pensando em Brasília. O varejo sempre foi com o Cid. Daí a sua ausência na campanha de Roberto Cláudia ter sido tão sentida.

As palavras de Cid Gomes, um político pragmático e experiente, evidenciam que nem ele acredita mais na sobrevivência do grupo enquanto organização informal do poder. Os irmãos não contavam com a força política de Camilo Santana - o principal articulador da campanha de Elmano de Freitas. Mais ainda. Que o jogo fosse decidido no primeiro turno, reduzindo o peso político de Cid Gomes. Contudo, não podemos nos enganar.

As falas cidistas indicam que o ex-governador quer continuar no xadrez político. Ao expor suas insatisfações, demonstra que deseja se aproximar dos governos Elmano e Lula, distanciando-se da cúpula do PDT, aliada de primeira hora de Ciro Gomes. Já especulam sua saída do partido.

Cid Gomes não quer ficar isolado e politicamente irrelevante. As frustrações no processo de construção do secretariado de Elmano (sim, ele queria bem mais do que foi alcançado), apontaram para a necessidade de movimentos ousados. Ou se distinguia do pedetismo cirista ou seria carta fora do baralho nas negociações para as eleições de 2024.

Ciro continua em silêncio, o restante da família está mais próxima de Cid Gomes. Resta-nos saber qual o peso dessas lideranças em um ciclo dominado por Camilo Santana e Elmano de Freitas.

Publicado originalmente no portal O Povo Online

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