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| Estudo da FGV mostra que sete em cada 10 jovens beneficiados pelo auxílio em 2014 deixaram o programa em 2025 (Arte: Caio Gomez) |
A maioria dos jovens que cresceu em famílias atendidas pelo Bolsa Família rompeu o ciclo da pobreza e deixou de depender do programa. É o que apontam os dados da pesquisa "Filhos do Bolsa Família: uma análise da última década do programa", divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV).
Entre os mais jovens, a transformação aparece com ainda mais nitidez, 68,8% dos que tinham entre 11 e 14 anos e 71,25% dos de 15 a 17 anos conseguiram superar o patamar de renda que os mantinha no Bolsa Família. Os percentuais caem nas faixas etárias mais jovens: 41,3% entre crianças de até cinco anos e 55,2% entre aquelas de 6 a 10 anos.
Segundo o ministro Wellington Dias, a virada social das últimas gerações está diretamente ligada à frequência escolar, responsável por transformar trajetórias familiares de longo prazo. "Mais de 70% dos jovens que eram beneficiários entre 15 e 17 anos em 2014 ascendem quando chegam aos 20, 25 anos. Principalmente por causa dos estudos", disse o ministro durante a apresentação do estudo, no Rio de Janeiro.
Criado em outubro de 2003, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o programa de transferência de renda atravessou diferentes reformulações ao longo dos governos. Em 2021, na gestão de Jair Bolsonaro, deu lugar ao Auxílio Brasil. Dois anos depois, com a volta de Lula ao Planalto, o Bolsa Família foi restabelecido.
O estudo também traz dados sobre a saída do CadÚnico, que reúne a população de baixa renda e orienta o público-alvo das políticas sociais. Entre os jovens de 15 a 17 anos que foram beneficiados, em 2014, 52,67% deixaram o cadastro. Desse grupo, 28,4% estão empregados com carteira assinada em 2025. Na faixa de 11 a 14 anos, 46,95% saíram do CadÚnico, e 19,1% já estão inseridos no mercado de trabalho formal.
Condicionalidades
A ascensão dos "filhos do Bolsa Família" é mais consistente quando a renda é combinada com educação e acesso a serviços públicos. As maiores taxas de saída estão em áreas urbanas e em famílias com melhor infraestrutura, emprego formal e maior escolaridade. Mas, mesmo nos contextos mais vulneráveis, mais da metade dos jovens deixou o programa.
O professor da Escola de Economia e Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV EPGE) e autor do estudo, Valdemar Pinho Neto, destacou que os melhores resultados estão associados a contextos mais favoráveis. Segundo ele, oportunidades locais, especialmente em regiões urbanas e economicamente dinâmicas, somadas às condições socioeconômicas das famílias, ao nível de pobreza e à qualidade da moradia, influenciam diretamente as chances de ascensão dessa geração.
"Um dos pontos de atenção é que o tipo de ocupação faz muita diferença. Quando o jovem consegue um emprego formal, as chances de deixar o programa aumentam significativamente. Quase 80% dos filhos de famílias que recebiam o Bolsa Família em 2014 e conquistaram um trabalho com carteira assinada não dependem mais do benefício", explicou o pesquisador.
Carteira
assinada
A análise também reforça a importância da qualificação e do emprego formal. Wellington Dias destacou que os dados acompanham levantamentos recentes que apontam tendência semelhante, mostrando que jovens criados em lares pobres, mas amparados por políticas sociais contínuas, ampliam significativamente suas chances de mobilidade ao concluir o ensino médio e acessar serviços públicos básicos. "A meta de promover inclusão socioeconômica integrada ao desenvolvimento econômico começa enfim a aparecer nos indicadores", disse o ministro.
O documento destaca ainda que instrumentos recentes, como a Regra de Proteção e o Programa Acredita, fortalecem um modelo de política social que ultrapassa a simples transferência de renda. De acordo com o estudo, esses mecanismos "ajudam a abrir e sustentar caminhos de inclusão produtiva, empreendedorismo e desenvolvimento regional".
A pesquisa indica também que essa trajetória deve se fortalecer na próxima década, com mais famílias ganhando autonomia financeira e reduzindo a dependência de programas de transferência de renda. Os autores apontam que o grande desafio agora é ampliar a integração entre renda, trabalho e crédito produtivo, para que os avanços já observados cheguem a um número maior de famílias.
"Com
base nos resultados apresentados, a tendência é que a próxima década aprofunde
ainda mais esses bons resultados", diz o relatório, que projeta ganhos
crescentes de mobilidade social, redução sustentável da pobreza e ampliação das
oportunidades para beneficiários em todo o país.
Publicado
originalmente no Correio Braziliense
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