7 de dezembro de 2025

O "bolsocirismo" é possível? por Henrique Araújo

Ciro Gomes e Michelle Bolsonaro em montagem com fotos de Fabio Lima e Júlio Caesar

As condições objetivas para uma aliança entre Ciro Gomes (PSDB) e o PL de Jair Bolsonaro dependem de variáveis locais e nacionais, algumas mais e outras menos previsíveis. Entre os fatores endógenos, sobressai a capacidade do deputado federal e dirigente André Fernandes de costurar uma composição estadual que equilibre a energia social que levou à vitória em 2018 com certo pragmatismo. Se tiver sucesso, estará montada uma chapa que pode forçar um 2º turno.

Essa equação, porém, está condicionada a um cenário de alta volatilidade política no Ceará, mas sobretudo em Brasília, onde se escancarou uma corrida entre Flávio e Michelle Bolsonaro pelo capital do ex-presidente. Não por acaso, o senador pelo Rio de Janeiro apressou-se a se incumbir do título de presidenciável para 2026, sacramentado, segundo ele mesmo, pelo próprio pai. 

Embora não se saiba se Bolsonaro ungiu realmente Flávio como herdeiro do seu legado, o fato é que o "zero-um" arrogou para si o papel de emissário do patriarca do clã, o que o projeta a falar tanto como cotado ao Planalto quanto como nome cujo poder de veto passa a ter influência para alterar o andamento das articulações partidárias, inclusive aquelas que a madrasta vem capitaneando.

Logo, há duas frentes de batalha no bolsonarismo cujas repercussões impactariam numa tratativa com Ciro. Primeiro, dentro da família; segundo, entre a família e o restante do campo da direita. 

Nada impede, por exemplo, que o bloco que hoje orbita Tarcísio de Freitas tente isolar Flávio (ou até Michelle), de modo a neutralizar o desgaste de Bolsonaro e facilitar a operação de redesignação política do governador de São Paulo: agora não mais um postulante da extrema-direita bolsonarista, mas um quadro de centro mobilizando legendas não alinhadas com Lula. 

A depender do resultado desse entrechoque nacional e dos acertos que se seguirem, Ciro pode ir a campo como cabeça de um palanque de Tarcísio ou de Flávio (e mais remotamente de Michelle) - seus aliados mais próximos devem torcer pelo primeiro cenário, sem dúvida.

Publicado originalmente no portal O Povo +

Leia também:

Michelle bate, Ciro cala e a crise vive

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.