23 de maio de 2011

Igreja beatifica Irmã Dulce em Salvador

A imagem oficial da "Bem-Aventurada Dulce dos Pobres"
foi recebida com aplausos- foto Futurapress
 
Milhares de católicos celebraram, ontem, em Salvador (BA), a beatificação de Irmã Dulce (1914-1992). A religiosa baiana dedicou sua vida a ajudar os pobres, sendo apelidada de Anjo Bom da Bahia pelo escritor Jorge Amado. A solidariedade aos carentes e o reconhecimento de um milagre levaram a freira a ser proclamada beata, o que a deixa a um passo de se tornar santa.

A cerimônia, iniciada às 17 horas, no Parque de Exposições de Salvador, foi acompanhada por milhares de pessoas e diversas autoridades, entre elas, a presidente Dilma Rousseff, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), o de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).

O rito, que durou 20 minutos, foi conduzido pelo cardeal Dom Geraldo Majella, representante do papa Bento XVI. Com a beatificação, a religiosa passa a ser chamada de Bem-Aventurada Dulce dos Pobres.

Primeiramente, foi feito o pedido oficial de beatificação pelo Arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger. Um dos religiosos presentes leu então a biografia de Irmã Dulce, nascida Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, em 26 de maio de 1914.

Cerca de 15 minutos depois, Dom Geraldo Majella leu, em latim e em português, a carta apostólica assinada pelo pontífice, oficializando a beatificação da religiosa.

O momento final do rito de beatificação ocorreu às 18h, com o descerramento da imagem de Irmã Dulce pela primeira vez como "Bem-Aventurada Dulce dos Pobres". O papa Bento 16 fixou a data de 13 de agosto como o dia de celebração da beata.

Depois do rito, a sergipana Cláudia Cristiane dos Santos Araújo, 41 anos, agraciada com um milagre atribuído pela Igreja Católica à religiosa e que a tornou beata, subiu ao altar, onde foram exibidos objetos pertencentes à religiosa, agora considerados relíquias.

Em 2003, a Santa Sé emitiu validação jurídica do milagre atribuído à freira. Irmã Dulce intercedeu por Cláudia Cristiane, no interior de Sergipe, que sofreu grave hemorragia após o parto, em 2001.

Em 2009, o papa Bento XVI concedeu o título de venerável à freira baiana - reconhecimento de que viveu de forma heroica as virtudes da fé cristã, caridade e esperança. O feito foi investigado por médicos e teólogos.

No ano passado, a Congregação para a Causa dos Santos certificou a autenticidade do milagre atribuído à irmã Dulce - última etapa para a beatificação. Em 10 dezembro de 2010, o papa promulgou o decreto de beatificação. Após o decreto, deu-se início o processo para a santificação. Para ser considerada santa, o Vaticano precisa reconhecer mais uma graça por intercessão da religiosa que tenha ocorrido a partir de 11 de dezembro.

Filha do dentista Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes, Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em 26 de maio de 1914, na capital baiana. Aos sete anos, a mãe morreu. Na adolescência, já dava sinais da vocação para ajudar os excluídos, acolhendo mendigos e doentes em sua casa.

Em 1933, ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, no município sergipano de São Cristovão. Aos 20 anos, foi ordenada freira e adotou o nome de irmã Dulce, em homenagem à mãe.

Em Salvador, prestava assistência à comunidade pobre de Alagados, ajudou na fundação de uma associação católica de operários e também de uma escola para filhos dos operários. No início da década de 50, a freira usava o galinheiro do convento para abrigar doentes - foi o começo da Associação Obras Sociais Irmã Dulce, criada oficialmente em 1959. Depois, fundou o Convento Santo Antônio. Hoje, a sobrinha da religiosa continua cuidando das obras sociais que ela deixou.

O papa Bento XVI discursou, ontem, em português durante a tradicional oração de Regina Coelli, para fieis de Portugal e Brasil. Ele se disse "alegre" pela beatificação de Irmã Dulce. "Desejo também unir-me à alegria dos pastores e fiéis reunidos em Salvador para a beatificação da Irmã Dulce, que deixou sua marca de caridade ao serviço destes últimos, fazendo com que todo o Brasil visse nela ´a mãe dos desamparados´", afirmou o pontífice.

Bento XVI também se dirigiu aos fiéis de Portugal, cumprimentando-os pela beatificação, sábado, de Madre Maria Clara do Menino Jesus, em Lisboa, que fundou a ordem das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, e, segundo o papa "ensinou a alumiar e aquecer a multidão de pobres e esquecidos da sociedade, vendo e acolhendo neles o próprio Deus".

No dia 1º de maio, Bento XVI beatificou seu antecessor, o papa João Paulo II, em uma cerimônia na Praça de São Pedro, no Vaticano, que reuniu mais de 1 milhão de pessoas.

Muitos aplausos e gritos de "Santo subito" (Santo já), como no dia do funeral de João Paulo II, foram ouvidos na praça, repleta de pessoas que exibiam bandeiras de muitos países, entre elas a brasileira.

A advogada cearense Ana Lúcia Aguiar diz que sairá de Sergipe o segundo milagre de Irmã Dulce, o que faria da religiosa a primeira mulher nascida no Brasil a se tornar santa.

Foi a atuação de Ana Lúcia nos "bastidores" que levou ao reconhecimento, pelo Vaticano, do primeiro milagre atribuído à Irmã Dulce.

A advogada, uma católica fervorosa, recolhe evidências de relatos com potencial para ser reconhecidos pela igreja como milagres de Irmã Dulce. Conseguiu 46 casos até agora.

Um deles já foi reconhecido e resultou na beatificação, assinada por Bento XVI em 2010. Outro milagre transformaria Irmã Dulce em santa.

Foi Ana Lúcia quem levantou informações de médicos e testemunhas sobre a sobrevivência de Cláudia Santos, que originou o processo de beatificação. "

Segundo a cearense, há um caso de 2006 com grande chance de virar milagre, mas que não daria a condição de santa a Irmã Dulce - pelo Código Canônico, alguém só pode se tornar santo com um milagre ocorrido após a beatificação. É a cura de João Victor Santana, 7, de Aracaju, diagnosticado com leucemia. A criança tinha, debaixo do travesseiro, uma imagem da religiosa dada por Ana Lúcia.

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