22 de fevereiro de 2013

Política e Religião por Carlos Alberto Tolovi

Aproveitando o contexto da renúncia do Papa e da repercussão que isso causou e ainda vem causando na mídia, escrevi um texto para o Programa Esperança do Sertão e resolvi compartilhar por meio deste Blog.

Este tema certamente se refere a um dos campos mais polêmicos, que muita gente sente receio em abordar. Isso porque nós aprendemos, em nossa cultura, que religião é uma coisa e política outra. O que não é verdade. E nós afirmamos à você: existe religião sem a política partidária, mas não existem religiões sem política. Mesmo porque, como sempre afirmamos também em outras circunstâncias, a política tem a seguinte estrutura: Ideologia como ponto de partida, a organização coletiva como estratégia, o poder como base central e um discurso que prega o bem comum. E essa, na verdade, é a estrutura de todas as formas de política, inclusive no campo religioso. É por isso que o Papa usa a coroa que os antigos reis usavam, o cetro que os antigos reis usavam, um trono banhado de ouro como os antigos reis usavam, e se utiliza de anéis e utensílios valiosos assim como os antigos reis. Na verdade, o núcleo central de poder da religião católica é uma reprodução da política da monarquia, onde o rei representava a voz e a vontade de deus. O povo era apenas uma forma de justificativa desse poder.

E as contradições, como podem ser observadas?
Se o Papa é tido como o representante de Jesus na terra, é importante lembrar que Jesus foi pobre, os papas foram ricos. Jesus foi simples, os papas luxuosos. Jesus falava aos pequenos e convivia com eles. Os papas falam aos pequenos, mas negociam com os grandes e vivem bastante isolados, com medo de atentados contra si próprio, protegidos por guardas e carros blindados, etc.. E poderíamos falar muito ainda sobre estas contradições.

Mas a grande questão, dentro desse tema, se relaciona a estrutura de poder da Igreja.

Qual perfil terá o novo papa? Não importa de onde ele seja: da América Latina, da África ou da Europa, certamente será um conservador, que continuará negando o homossexualismo presente em grande número dentro da Igreja, continuará tentando encobrir os inúmeros casos de pedofilia, continuará barrando o acesso das mulheres às estruturas de poder - não dando à elas os mesmos direitos que os homens, continuará negando o casamento aos padres, continuará de mãos dadas com o sistema capitalista, e assim por diante. Mas, porque temos a ousadia de afirmar isso? É apenas por um motivo: quem elege o papa? São os cardeais. E, como os cardeais foram escolhidos nestas últimas décadas? Por uma estrutura de poder da Igreja que abriu espaço de ascensão a esse poder somente aos bispos conservadores, pra combater a teologia da libertação e uma igreja mais engajada nas transformações sociais, com uma perspectiva socialista.

Então, quem pensa que aquela “fumacinha” branca que sai do vaticano, anunciando a escolha do novo papa, representa a manifestação do espírito, santo está muito enganado. Até o espírito santo se recusa a participar das negociações políticas que envolvem a escolha de um novo papa.
Mas, de qualquer forma, querendo ou não, é um evento que não pode ser ignorado. Isso porque, querendo ou não, o catolicismo ainda representa uma grande força política no mundo de hoje. Certamente não tanto como era antes. Afinal de contas, a nova onda de alienação pentecostal de diversas igrejas evangélicas enfraqueceu as estruturas tradicionais e rígidas e acomodadas da Igreja. As denúncias do ministério público contra padres desequilibrados afetivamente também. Mas é só tirar como exemplo o município de Altaneira. Na cidade – não no município - tem apenas uma Igreja católica funcionando e apenas um líder religioso ligado diretamente ao Bispo. Enquanto os evangélicos possuem diversas Igrejas e diversos líderes. Contudo, quando o município quer celebrar qualquer evento religioso ou cívico importante, qual é o lugar que ele escolhe? Quando as escolas querem celebrar um evento de conclusão de curso, qual é a instituição religiosa que elas escolhem? Isso demonstra a forte relação do poder público municipal com as estruturas de poder da Igreja católica na cidade. É por isso também que o poder público de Altaneira sempre teve medo de se contrapor ao líder religioso católico, por uma questão essencialmente política.

O que é mais lamentável é que, momentos como estes poderiam ser celebrados de forma ecumênica, onde os líderes religiosos dariam um exemplo concreto para o povo, diante da irracional rivalidade da política partidária. Certamente todos os cidadãos se sentiriam representados e apoiados em uma celebração que pudesse incluir o diferente. Mas, principalmente por conta da pobreza de espírito e falta da sabedoria do líder da Igreja católica de Altaneira, que ainda prefere continuar com a mentalidade da Idade Média, isso não acontece. Essa realidade, portanto, nos revela que, o que na verdade está no centro de tudo é a relação de poder. O que não deixa de ser uma forma de política da Igreja e da administração pública. Pois a relação de poder é o que constitui o coração da política. O que comprova a afirmação de que política e religião não se separam e devem ser discutidas na perspectiva do exercício da cidadania.

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