11 de julho de 2025

Bolsonaro foi o pior presidente para o Brasil e agora é o pior ex, por Érico Firmo

O ex-presidente e a família são considerados os responsáveis pela taxação de Trump ao comercio do Brasil (Foto: Breno Carvalho)

Jair Bolsonaro (PL) soma motivos para ser considerado o pior presidente que o Brasil já teve. Todo governo tem acertos e erros, e a maioria pendeu mais para a avaliação negativa que para a positiva, inclusive este de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas o governo Bolsonaro foi uma coisa diferente. Foi disfuncional. Não chegava a atender os requisitos para ser considerado um governo ou um presidente. Não é por acaso que foi o único na função a tentar a reeleição e não conseguir, apesar do derrame de dinheiro.

Foi na contramão da tradição brasileira sobre vacinas, deslocou o debate sobre educação da aprendizagem para questões toscas e ideologizadas. Um governante ruim de modo sem precedentes se despediu de forma vergonhosa, fugido do País. O posto de pior ex-presidente da história talvez já lhe coubesse desde 8 de janeiro de 2023. Os aliados de nenhum governante que deixou o cargo foram responsáveis por promover tamanha agressão e instabilidade a tantas instituições ao mesmo tempo. Porém, Bolsonaro segue a ampliar a vantagem nesse ranking tão negativo. Alcançou um patamar inédito como ex-ocupante do Palácio do Planalto que mais mal fez ao Brasil quando já nem estava no cargo.

Ele e a família são os responsáveis por medida não contra o governo, mas contra o Brasil, contra a economia nacional e contra o povo. Ah, mas a culpa é do Lula, é do Supremo Tribunal Federal (STF), é o discurso que se tenta construir. A medida foi tomada por Donald Trump. Foi uma decisão dele. E ele falou com todas as letras que Bolsonaro é o motivo. O filho zero três, Eduardo, está há meses nos Estados Unidos e deixou muito evidente que trabalhava por isso. Não à toa, comemorou efusivamente.

Trump naturalmente não age motivado apenas por isso. Pesam principalmente os interesses dos Estados Unidos, afetados pelas iniciativas para colocar regras para as big techs. Ficou também claro o quanto a articulação dos Brics incomoda. Mas Bolsonaro é o argumento público. E ficou explícito na repercussão internacional o quanto o uso da guerra tributária para tentar interferir na política brasileira é atípico e fora do padrão adotado pelo próprio Trump. Isso é inaceitável.

Já houve políticos brasileiros que atuaram em nome de interesses externos. Ô, se houve. Mas nunca foi tão escancarado, nem tão desavergonhado quanto agora.

A culpa é do Lula?

O bolsonarismo tenta colocar as tarifas na conta, política, de Lula. Uma graça. Os sujeitos fazem tudo que podem para viabilizar as medidas, comemoram, esperam ter ganhos com isso, mas a culpa é do adversário. Bem, mas Trump cita iniciativas do Supremo. O que o presidente tem a ver com isso?

Trump sabe disso, pois enfrenta dificuldades com o Judiciário. Mas, de onde observa, trata o Brasil como um barafunda, uma província sem lei ou regras. Como se o chefe do Poder Executivo brasileiro mandasse em tudo. Até Bolsonaro sabe disso, pois, quando estava no cargo, já entrava em muitos atritos com a Justiça.

Ah, mas o STF é amigo de Lula, alguns argumentam. Esse é o mesmo tribunal, na maioria, que autorizou a prisão dele, em 2018. A composição mudou? Sim. Entraram dois indicados de Bolsonaro no lugar de dois ministros que votaram pelo habeas corpus para Lula. E dois indicados de Lula na vaga de um ministro que votou a favor do petista e de uma que votou contra. De 2018 para cá, na teoria, o Supremo ficou menos favorável a ele. É esse o tribunal lulista?

O argumento de atrelar as decisões do STF ao presidente não se sustenta de pé.

O que importa para Bolsonaro

Óbvio que a medida de Trump é ruim para o Brasil, mas isso pouco importa para o clã do ex-presidente. A única coisa que importa para eles são eles próprios. Por isso comemoram. Quanto pior, melhor — para eles. Tolo quem caiu no conto do patriotismo.

Efeitos políticos

Qual o efeito político da medida? Lula irá tirar proveito? Prevalecerá a ideia de que o governo brasileiro é culpado? Não me apresso em antecipar. Dependerá se a medida entrará mesmo em vigor. E, se ocorrer, do estrago econômico feito, o quanto prejudicará empregos. Há movimentos diplomáticos sendo feitos. Políticos também. E a batalha dos discursos. Não sou adepto de determinismo, de um desfecho inescapável. A história está sendo escrita. A tese bolsonarista é descabida. Num ambiente de normalidade, nem receberia atenção. Mas o Brasil, de uns tempos para cá, é tudo menos normal. Não descarto, assim, que seja a versão a prevalecer majoritariamente. A considerar o Brasil de hoje, diria que certamente haverá quem abrace o discurso bolsonarista. Mas a situação, politicamente, é desfavorável ao ex-presidente.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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