30 de julho de 2025

Empregos estão em risco no Ceará com tarifaço de Trump

O governador Elmano liderou comitiva cearense em reunião com o vice-presidente Geraldo Alckmin, em Brasília (Foto: Cadu Gomes)

O Ceará tem risco de perder de 8 a 9 mil empregos, em um primeiro momento, se o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros entrar em vigor. Os dados da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) foram levados ontem (29/07) à reunião da comitiva cearense, liderada pelo governador Elmano de Freitas (PT), com o vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, em Brasília.

“É muito representativo em função da cadeia produtiva. Vou dar só um exemplo: hoje nós temos 6 mil barcos pescando. A pesca não está mais entrando nos Estados Unidos e 85% dessa pesca vai para lá”, afirmou o presidente da Fiec, Ricardo Cavalcante.

Ele também alertou para a dificuldade de redirecionar exportações a curto prazo. “Exportar não é simplesmente mudar de mercado. Exige regulamentação, análises sanitárias, ambientais e estruturais. Não dá para fazer essa virada de chave do dia para a noite”, afirmou, ressaltando a importância de um trabalho conjunto para que as ações sejam assertivas.

Medidas que estão no radar

Ontem, o governador Elmano de Freitas anunciou que está sendo criado um grupo de trabalho envolvendo Estado, técnicos do Governo Federal e representantes do empresariado cearense para buscar soluções caso a ameaça se concretize.

E uma série de sugestões de medidas foram apresentadas ao Governo Federal. “Temos que trabalhar e é isso que vim sugerir... Um grupo com Sefaz (Secretaria da Fazenda do Ceará), Procuradoria (Geral do Estado), com Fiec, Faec (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará), para analisando as possibilidades de cenários que medidas poderiam ser adotadas em cenário A, cenário B, cenário C”, explicou o governador.

Apesar de não ter antecipado as ações debatidas, o governador cearense frisou que é preciso ter em mente dois momentos de discussões. Até então, a três dias do tarifaço, o gestor diz que é preciso buscar o “diálogo e a negociação” com o governo de Trump.

Dentre as possibilidades de ação, conforme adiantou matéria do O POVO, estaria a liberação de R$ 1 bilhão em créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), referentes à Lei Kandir, que isenta as exportações de produtos primários e semielaborados do imposto.

Ou seja, a empresa que exporta é isenta do imposto e, quando compra mercadorias em que o ICMS está incluso, surge um saldo do tributo. O problema é que esses repasses são negociados anualmente e, quando liberados, muitas vezes, não o são com as devidas correções financeiras.

Ceará é o que mais exporta aos EUA

O Ceará é a unidade federativa brasileira com maior dependência das exportações para os EUA. No primeiro semestre, o mercado norte-americano respondeu por 51,9% das exportações do Estado. O montante de US$ 556,7 milhões foi recorde na série histórica iniciada em 1997.

A maior parte desta produção foi de placas de aço, mas como o setor já está taxado pelos EUA com tarifas de 50% desde junho, por enquanto, são os demais itens que preocupam, como pescados, cera de carnaúba, castanha de caju, etc.

Segundo o diretor do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio) Paulo Gonçalves, sócio-diretor da Compex/Gondomar, a área de pescados é diretamente impactada em relação aos empregos, pelo tamanho da cadeia de produção. O empresário alertou que os efeitos podem ser ainda maiores do que o esperado.

“Nós somos um dos mais impactados, que nós temos uma cadeia muito grande [...] Então, essa cadeia toda está sendo impactada. São muitos pescadores artesanais que se prejudicam, são muitos armadores que se prejudicam, são muitos trabalhadores de todo o setor, tanto na indústria como na armação das embarcações. Tudo isso fica abalado”, contou.

Paulo afirmou que o setor se movimentou para enviar toda carga acumulada, recorrendo, inclusive, a fretes mais caros, para entregar o produto antes da taxação, prevista para 1º de agosto. Sobre a produção, explicou que não têm mais embarcações saindo para pescar e que foi suspensa a compra de novos produtos em razão da imprevisibilidade da tarifa.

Dentre os pleitos do setor, está a absorção do estoque remanescente ao programa Ceará Sem Fome, do Governo do Estado. A possibilidade já havia sido ventilada por Elmano em entrevista exclusiva ao O POVO no último dia 14. “O governador nos prometeu ajudar com isso, de absorver com Ceará sem fome”.

O setor realiza levantamento de estoque armazenado em câmaras frigoríficas para negociar com o governo até o dia primeiro do próximo mês.

A categoria de peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos atingiu US$ 36.756.826 em exportações neste ano, até junho, segundo dados do Observatório da Indústria da Fiec. O segmento cearense representa 54,9% do total vendido pelo Nordeste ao Exterior e 61,34% do Brasil.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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