29 de julho de 2025

O exercício do encaixe entre Ciro e o bolsonarismo, por Érico Firmo

A possível aliança local em meio a desencontros nacionais, caso ocorra agora, será a primeira para ele como oposicionista (Foto: Jonne Roriz)

Comentei na coluna passada que talvez esteja condenada a tentativa de Ciro Gomes (PDT) fechar uma aliança de oposição no Ceará sem envolver questões nacionais. No mínimo, é o recado que se extrai do anúncio de candidatura própria do PL, feito por André Fernandes. Há no possível bloco a confiança de que a situação ainda tem remendo, mas, no mínimo, precisará ser uma aliança que pelo menos preserve os líderes de críticas — notadamente Jair Bolsonaro (PL).

O objetivo declarado anteriormente pelo ainda pedetista de restringir as tratativas ao Estado é algo que ele já fez em outros momentos. Muitas vezes, a propósito. Em 1997, ele brigou com o PSDB e saiu do partido rumo ao PPS. No plano local, entretanto, manteve o apoio a Tasso Jereissati, que na época era governador.

No segundo turno de 2002, Ciro declarou apoio a Lula, mas, para governador, estava no palanque de Lúcio Alcântara, na época do PSDB, contra o petista José Airton Cirilo. Foi o maior expoente a defender o que ficou conhecido como chapa Lu-Lu.

“O PT não respeitou o povo do Ceará. O PT achava que não tinha a menor chance, escolheu o 28º quadro no ranking e lançou a candidatura”, disse ao O POVO na época.

“Às vezes, se não fosse o povo, por quem eu tenho grande e definitiva gratidão e responsabilidade, minha vontade era de ver José Airton governador, porque em três meses ele iria destruir o Ceará, e o povo do Ceará iria ver quem era o Tasso", acrescentou.

Com Lula eleito presidente, Ciro virou ministro, sob ataques dos petistas locais. Ele então evitou bater nos petistas locais. Em 2004, apoiou a candidatura a prefeito de Fortaleza do preferido do governo Lula na ocasião, Inácio Arruda (PCdoB). No segundo turno, o PPS ficou ao lado de Luizianne Lins (PT).

Na década seguinte, Ciro se tornou um crítico cada vez mais incisivo do PMDB (atual MDB), mas poupava o aliado local Eunício Oliveira. Até o peemedebista bater de frente com o governo Cid Gomes e disputar o governo. Aí Eunício se tornou o principal alvo de Ciro.

Anos depois, o mesmo ocorreu com o PT. A essa altura, o ex-ministro batia forte em Lula e na direção, mas preservava o partido no âmbito estadual, principalmente Camilo Santana. Até as vésperas do rompimento em 2022, quando o primeiro sinal veio numa referência a “lado corrupto do PT que também existe no Ceará”.

Então, talvez não consiga levar adiante agora, mas Ciro tem costume em tratar o Estado como situação à parte nas composições políticas que faz. Isso pode ser mais difícil em tratativas com o bolsonarismo, pouco afeito a pragmatismo e mais coeso do ponto de vista das ideias.

Os limites das fronteiras

Um aspecto em comum entre os vários episódios citados nos quais ele separou questões locais das nacionais: isso foi possível até determinado ponto. Chegou o momento em que separar as esferas deixou de ser possível. Mais cedo ou mais tarde, Ciro acabou rompendo em todos os níveis com PT, PMDB e também com PSDB — embora depois se recompondo com este último no plano local, passada mais de uma década de distanciamento. Agora, é até cotado para se filiar.

De modo que, seja como for, é difícil que seja duradouro o acordo de oposição que ainda nem existe. Mas, às vezes, esses entendimentos servem mesmo para conjunturas específicas.

Diferença

Uma novidade na trajetória de Ciro. Quando ele mantinha, em alguma esfera, entendimentos com PSDB, PMDB e PT, era sempre para apoiar ou receber apoio em governos. A possível aliança local em meio a desencontros nacionais, caso ocorra agora, será a primeira para ele como oposicionista.

Publicado originalmente no portal O Povo +

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