20 de junho de 2013

"Por que não gosto tanto de verde e amarelo" por Tiago Coutinho

Tiago Coutinho é Professor na Universidade Federal do Ceará - foto acervo pessoal
Cuidado com o acordar do gigante. Esse movimento pode ser muito perigoso e conservador. Pode dar merda pra todxs nós. Historicamente, movimentos ultranacionalistas resultam em experiências fascistas e governos ditatoriais. Foi assim na década de 70, no famoso Brasil ame ou deixe-o. Nem sempre percebemos quando estudamos história, mas a ditadura militar foi um movimento NACIONALISTA, cheio de verdes e amarelos. Vamos tentar pensar uma coisa: qual o efeito prático de sair às ruas cantando o hino nacional e pedindo pelo fim da corrupção? Outra pergunta: como se resolve a corrupção? Quando temos um inimigo muito "abstrato", não conseguimos dar conta.

Dizer que a população estar indo a rua pelo fim da corrupção, me parece, uma estratégia, principalmente da mídia e da direita para despolitizar as manifestações. O que temos visto da parte da galera mais ativa desse movimento do gigante é uma perseguição aos partidos políticos de esquerda e aos movimentos sociais. Vemos cartazes preconceituosos, machistas e homofóbicos. Vamos fazer uma marcha para perseguir ladrão? Como perseguir ladrão? Aumentando a polícia? Ora, mas a polícia está batendo na gente! Não é contraditório fazer uma marcha para aumentar aqueles que batem na gente? Por trás de tudo isso, há uma grande nebulosidade de dúvida, ninguém sabe onde iremos parar. Mas vamos continuar.

Considero essas marchas uma coisa super importante para que possamos tentar estabelecer diálogos. Acho que existem pessoas super do bem, manchando suas caras de verde e amarelo, vestindo verde e amarelo, que realmente querem mudanças no Brasil, mas me parecem extremamente ingênuas. E precisamos ter força e estratégia de acolhê-las e estabelecermos um diálogo. E não repetir o equívoco de recriminação. Outra coisa super curioso nesse movimento do gigante: alguns discursos inflamados levam ao raciocínio de que devemos acabar com a política. É a compreensão de ser político fosse apenas os executivos ou os parlamentares. Mas o que estamos fazendo é ou não a política? Estamos sendo sujeitos ou não políticos neste momento? Então estamos fazendo uma marcha contra nós mesmos? Na verdade, o que se percebe na prática é uma perseguição às organizações políticas. Ouvi relato que o movimento da marcha das mulheres foi proibido hoje em Fortaleza de mostrar sua bandeira, o mesmo fizeram com o MST.

Ontem, quiseram impedir que um militante super compromissado com as lutas em Juazeiro do Norte falasse na plenária. Que marcha sem violência é essa que impede um companheiro de falar? Galera, vamos tomar cuidado para que, aos poucos, esse gigante que está sendo construindo tome vida própria e saia do controle, perseguindo leitores de Marx ou que fale contra o capitalismo, sendo esse um mero exemplo clichê, mas não esqueçamos que a Cura Gay passou ontem na comissão de Direitos Humanos. Não estou dizendo que isto irá acontecer. E é justamente por isso que estou na rua. Vamos estabelecer em cada cidade pautas concretas de transformações. Quando digo "isto não é apenas 20 centavos", não quero que confundam que desejo ampliar a pauta para o combate a corrupção. Não é apenas 20 centavos, porque é também a questão dos professores em Juazeiro do Norte e outras pautas que iremos elencar daqui a pouco em plenária. É também a proposta de tirar da mão dos policias armas letais. É também garantir que os atingidos pelas obras da Copa não sejam removidos de suas moradias.

Precisamos ser mais específico, e combater a corrupção apenas é muito abstrato. Pedir que os recursos da copa sejam investido em educação e saúde também é genérico: qual educação? qual saúde? Outra coisa. Acabei de ver o vídeo das reivindicações do Anonymos. Gente, eu fiquei com medo. A galera fica falando de oportunismo político, mas aquelas cinco propostas (que me recuso a compartilhar) não extremamente OPORTUNISTAS e pequenas, diante da potência dessa movimentação toda.

Criemos nossas estratégias. Mas uma coisa é certa: continuemos nas ruas. Vamos mudar as cores dessas manifestações, para um grande arco-íris. Se há de cantar um hino, cantemos a internacional, por que não podemos resolver os problemas do Brasil se não mudarmos o mundo.

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