11 de novembro de 2020

Políticos, entidades e especialistas repudiam politização de vacina

A atitude do chefe do Planalto gerou uma enxurrada de críticas no país (Foto: Isac Nobrega)

A decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender os testes da CoronaVac (vacina contra a covid-19, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac) escancarou a politização em torno da busca por um imunizante capaz de frear a doença. A paralisação dos estudos foi comemorada pelo presidente Jair Bolsonaro, com estocadas no governador de São Paulo, João Doria (PSDB), desafeto político dele. A atitude do chefe do Planalto gerou uma enxurrada de críticas no país que contabiliza mais de 160 mil mortos pela doença.

“Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha”, publicou o chefe do Executivo.

O comentário foi feito a um seguidor no Facebook, acompanhado do link de uma notícia sobre a suspensão dos testes com o imunizante. De acordo com a Anvisa, a medida foi tomada para analisar um caso adverso ocorrido com um dos voluntários. A morte de um dos participantes dos estudos, porém, não teve a ver com o imunizante. Segundo Boletim de Ocorrência na Polícia Civil de São Paulo, ele teria cometido suicídio.

As repercussões não demoraram. Pelo Twitter, João Doria afirmou: “Efeito adverso grave de um voluntário da CoronaVac não está relacionado à vacina. Anvisa é um órgão técnico. Confio que testes com vacina do Butantan serão retomados de imediato. Objetivo do Butantan é viabilizar vacina segura para todos os brasileiros. Único adversário é o vírus.

Também pela rede social, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso reprovou: “É lamentável o que está acontecendo: politização da vacina que nos livrará do coronavírus. A decência e a saúde pública exigem pratos limpo: dado o que disse o Butantan, que a Anvisa se explique. E logo”.

Integrantes da oposição também reagiram às declarações de Bolsonaro. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disse que “cadeia é muito pouco para canalhas que fazem politicagem com vacina”. Já o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), afirmou que o presidente “continua a ser o maior aliado do coronavírus” no Brasil.

Pelo menos duas entidades pretendem apresentar ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que julga crimes contra a humanidade, a acusação de que Bolsonaro tratou a morte de um voluntário dos testes da CoronaVac como uma vitória política.

Uma delas é Confederação Nacional dos Trabalhadores em Seguridade Social (CNTSS). Segundo Sandro Alex de Oliveira Cezar, presidente da entidade, a atitude de Bolsonaro “de alguma forma, põe em dúvida as decisões técnicas que devem ser tomadas pela Anvisa”. “Essa comemoração de uma morte coloca em xeque uma decisão que deve ser técnica, nunca política, ainda mais em uma questão tão séria como essa da vacina”, disse ao Correio. Outra entidade que pretende representar contra Bolsonaro é a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD).

A infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), alertou que a politização em torno da vacina representa sérios riscos à saúde da população. Ela também criticou Doria por ter prometido que as vacinas estariam disponíveis para uso em São Paulo ainda neste ano.

“Houve uma antecipação por parte do governador João Doria, que prometeu a vacina primeiro para novembro e depois para dezembro. O lado muito ruim dessa propaganda é que as pessoas falam ‘se eu me vacinar daqui a duas ou três semanas, ou no mês que vem, então eu já posso ir me liberando dos cuidados, porque já vai ter a vacina’. Isso não é verdade, porque nós não vamos ter a vacina em dezembro, nós vamos ter de usar máscaras até outubro do ano que vem”, afirmou.

Também ontem, Bolsonaro voltou a minimizar a crise sanitária. “Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer. Não adianta fugir disso, fugir da realidade”, disparou.

“Tem que deixar de ser um país de maricas. Olha que prato cheio para imprensa. Prato cheio para a urubuzada que está ali atrás. Temos que enfrentar (de) peito aberto, lutar. Que geração é essa nossa? A geração hoje em dia é Toddynho, Nutella, zap. É uma realidade”, emendou, durante evento no Palácio do Planalto.

Com informações portal Correio Braziliense

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