16 de setembro de 2020

Entenda como a suspensão do Renda Brasil aumenta pressão sobre Guedes e a equipe econômica

 

Para o ministro, a decisão do presidente foi de responsabilidade fiscal (Foto: Evaristo Sá)

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o cartão vermelho que o presidente Jair Bolsonaro anunciou pela manhã de ontem (15/09) não era endereçado a ele, mas ao programa Renda Brasil, que estava em estudo pela equipe econômica para substituir o Bolsa Família e outros benefícios após o fim do auxílio emergencial. Segundo o ministro, houve uma conexão equivocada entre a PEC do Pacto Federativo, que propõe a desvinculação e desindexação do orçamento, com o Renda Brasil. 

“Houve uma barulheira, porque estão fazendo conexões de pontos que não são conectados. Aí o presidente reagiu da forma dele, porque não quer ser acusado de demagogo e já havia dito que não vai tirar dos pobres para dar aos paupérrimos. Então, acabou o Renda Brasil. O cartão vermelho não foi para mim”, afirmou.

Para o ministro, a decisão do presidente foi de responsabilidade fiscal. “Não vou querer anabolizar o Renda Brasil tentando uma popularidade falsa em cima de um conceito de irresponsabilidade fiscal. Então, o presidente abre mão se tiver que ser irresponsável. Não vou furar o teto para fazer artificialmente o Renda Brasil e também não vou tirar dos pobres. Então, quando acabar o auxílio emergencial, a gente volta para o Bolsa Família”, completou Guedes.

O secretário especial da Fazenda, Waldery Rodrigues, pode pagar o pato da confusão sobre o vazamento da proposta de congelamento das aposentadorias para incluir o programa Renda Brasil no Orçamento de 2021. A dúvida nos corredores do Bloco P da Esplanada dos Ministérios é se o ministro da Economia, Paulo Guedes, vai entregar a cabeça Waldery para Bolsonaro, como ele fez com o ex-secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, no ano passado. Naquela época, o chefe do Executivo irritou-se com a informação de que a proposta de reforma tributária previa a criação de um imposto nos moldes da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), extinta em 2007, mas que é uma ideia defendida não apenas por Cintra, mas por Guedes também, de acordo com interlocutores do ministro.

Após a reunião com Bolsonaro, Paulo Guedes tratou logo de afirmar que cartão vermelho “não era para ele”, jogando o secretário Waldery na fogueira. Engenheiro formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e doutor em economia pela Universidade de Brasília (UnB), o secretário de Fazenda é economista sênior do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e integra o governo desde a equipe de transição.

É à secretaria especial chefiada por ele que está subordinado o Tesouro Nacional, que detém a chave do cofre da União. Ontem, durante uma longa conversa com Bolsonaro pela manhã, Guedes defendeu o subordinado, mas não há certeza da permanência de Waldery na equipe econômica, que não é uma unanimidade entre os técnicos da pasta.

Não é a primeira vez que o governo faz analogias futebolísticas. Em agosto, quando criticou a proposta de Guedes para acabar com o abono salarial para criar o Renda Brasil, dizendo que não ia tirar de pobre para dar a paupérrimo, Bolsonaro já tinha dado uma advertência para a equipe econômica. Na época, Paulo Guedes classificou a reprimenda em público do chefe do Executivo como “falta grave”, para uma espécie de “carrinho”.

No campo das metáforas esportivas, analistas avaliam que Bolsonaro mandou a equipe de Guedes “direto para o chuveiro”. “Conhecida a coerência de Bolsonaro com o liberalismo, o mercado sabe que o teto de gastos está sujeito a chuvas e trovoadas em seu tortuoso caminho. Dada a popularidade do presidente, um caminho buscando as linhas de menor resistência, de um lado, e maior aceitação, de outro, parece ser o futuro”, destacou o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Lima Gonçalves.

Ontem, Waldery Rodrigues deveria realizar uma videoconferência para comentar sobre o novo relatório com projeções macroeconômicas da Secretaria de Política Econômica (SPE), que manteve em 4,7% a previsão de queda do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Mas ele não compareceu. Coube ao chefe da SPE, Adolfo Sachsida, comentar o episódio. 

“O que me parece que o presidente Bolsonaro coloca corretamente é que as discussões não podem ser públicas. Você não pode ficar lançando ideias publicamente. Acho que foi isso o que ele deixou claro”, afirmou. Segundo ele, o presidente “é um parceiro pró-mercado” e o governo continuará avançando na pauta de reformas.

Com informações portal Correio Braziliense

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