20 de setembro de 2020

Pantanal e o Brasil paralelo de Bolsonaro por Carlos Mazza

Incêndios florestais entre os municípios de Miranda e Corumbá no Mato Grosso do Sul (Foto: Chico Ribeiro)

Queimadas no Pantanal brasileiro devastaram neste ano, apenas até a segunda semana de setembro, 2.842.000 hectares do bioma, riquíssimo em flora e fauna. A título de comparação, seriam 3 milhões de Maracanãs ou um estado de Sergipe inteiro perdidos para as chamas. Em um ano. Na semana passada, o desastre ganhou manchetes e capas de revistas por todo o mundo, com direito até a campanha estrelada pelo campeão de Fórmula 1 Lewis Hamilton.

A resposta do presidente brasileiro foi, como não poderia deixar de ser, mais negacionismo. Diante do cenário avassalador dos incêndios e da comoção geral sobre a crise no País e no mundo, Jair Bolsonaro insistiu no delírio e em enxergar uma realidade paralela inexistente. "O Brasil está de parabéns pela maneira como preserva o seu meio ambiente", disse. Acabou atestando na pele a mentira poucas horas depois, quando avião presidencial foi obrigado a arremeter no Mato Grosso por causa da fumaça das queimadas.

Pouca coisa resta a ser dita sobre o tema: desde o início do governo, Bolsonaro e seu "ministro" do Meio Ambiente, Ricardo Salles, pouco têm trazido para o debate da devastação ambiental fora negacionismo e ideologização. O próprio órgão que tem confirmado a devastação, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), tem sido alvo de campanha pública de esvaziamento pelo governo. Como se a divulgação transparente dos crimes ambientais fosse comunismo ou algum tipo de gesto antipatriótico.

Bolsonaro não é o único culpado pelo crime em curso no Pantanal, claro. Queimadas são parte frequente da nossa história e não podem ser todas atribuídas ao manda-chuva em Brasília. Impossível não deixar de notar, no entanto, que fazendeiros incendiando áreas de um dos biomas mais ricos do País certamente se sentem abraçados e legitimados pelo discurso bolsonarista sobre o tema. O desmonte de órgãos de fiscalização ambiental, tocado com entusiasmo pela gestão Salles, é o ingrediente que faltava para a receita do caos.

Na famosa reunião de 22 de abril, Salles falava em usar comoção pelo novo coronavírus para "passar a boiada" em áreas verdes. Pelo visto, tem conseguido seu objetivo.

Publicada originalmente no portal O Povo Online

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