15 de setembro de 2020

Seis meses da pandemia no Ceará

Seis meses após os três primeiros casos confirmados de Covid-19 no Ceará o cenário é de estabilidade. A diminuição do contágio é puxada sobretudo pela queda de indicadores na região de Fortaleza. Epidemiologistas e infectologistas frisam que ainda é possível observar elevação dos casos se as medidas de contenção, como uso de máscara e proibição de aglomerações, não forem cumpridas. Nesta fase da pandemia, o foco deve ser identificação precoce de novos surtos e testagem de assintomáticos.

Conforme Daniel Villela, coordenador do Programa de Computação Científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e membro do Programa de Epidemiologia da Escola Nacional de Saúde Pública, "as pessoas ainda precisam saber conviver com a pandemia, que é o que ainda preocupante". "O panorama atual quando você olha para o Ceará é que está em certa estabilidade, mas o ideal era que estivesse com redução. É uma estabilidade ainda em nível alto", avalia.

Ele afirma que o distanciamento foi importante para salvar vidas após a chegada dos vírus nas capitais, posterior transmissão sustentada e, em seguida, interiorização pelos estados. Os indicadores precisam continuar sendo monitorados, visto que o aumento de casos ainda pode ser registrado, mesmo que em menor intensidade do que o primeiro pico.

"O balanço que temos é de uma tragédia humanitária sem precedentes nos últimos quase 100 anos, com mais de 8.000 vidas perdidas, e que poderia ter sido pior", avalia Roberto da Justa, infectologista do Hospital São José e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC). Segundo o médico, que integra o Coletivo Rebento - Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS, "as ações de enfrentamento no Estado tiveram um elevado grau de coordenação, transparência e foram referenciadas na ciência."

Ele frisa que, com a flexibilização das atividades sociais e econômicas, há ameaça real de uma segunda onda. "O momento é de muita cautela e vigilância." Conforme da Justa, a pandemia evidenciou a necessidade de investimentos para a melhoria das condições de vida da população mais pobre e afetada, residente em áreas com deficiência de saneamento básico e aglomerações urbanas muito adensadas.

As dificuldades para o enfrentamento foram os problemas crônicos de organização e financiamento na rede de saúde, com deficiência acentuada no diagnóstico laboratorial, segundo o infectologista do Hospital São José e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor). "Foi importante a ampliação de atendimentos e leitos disponíveis. Foi uma ampliação rápida dentro de um contexto muito difícil", analisa, ressaltando a aquisição de equipamentos e ampliação da capacidade de testagem. Além disso, o contexto nacional desfavorável, com falta de apoio e sincronia com o Ministério da Saúde, e o fato de o Ceará ter sido um dos primeiros estados acometidos de forma acentuada foram aspectos negativos.

Para o médico, a situação de casos e óbitos é progressivamente mais favorável mas os próximos meses "são uma grande incógnita". "O panorama é muito incerto, apesar de uma redução importante no número de novos casos", diz. A possibilidade de reinfecção também é uma incerteza e "pode virar um grande problema".

De acordo com Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto), Secretário da Saúde do Ceará, a atual fase é de preocupação com novos surtos. Ele frisa que, apesar de as diferentes fases da infecção nas regiões, todo o Ceará apresenta queda.

"Vamos centrar na demanda espontânea, nos inquéritos epidemiológicos nos bairros e principais municípios do Ceará mas também em populações específicas no caso das escolas, centros de treinamento, universidades, transportes públicos, taxistas", destaca.

O secretário projeta que o desafio do Estado é deixar estruturas ágeis para identificar a Covid-19 precocemente ao passo em que amplia a capacidade de atendimento de outras enfermidades que tiveram assistência suspensa, como câncer, doenças cardiovasculares e doenças neurológicas.

Com informações portal O Povo Online

 Leia também:

 

"Vamos ter que viver uma transição", diz dr. Cabeto

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Administração do Blog de Altaneira recomenda:
Leia a postagem antes de comentar;
É livre a manifestação do pensamento desde que não abuse ou desvirtuem os objetivos do Blog.